A favor, porém contra
O plebiscito e a constituinte estão conectados na recusa de 73% à entrega da reforma política ao atual Congresso
O mais interessante no recente Datafolha, a meu ver, está no apoio de 73% dos entrevistados à convocação de uma constituinte, índice que não despertou interesse na imprensa. Considerada a margem de erro, são justos três quartos que indicam o anseio por uma reforma política tão remodeladora, e de fluência menos demorada, que requer uma via própria. Nada com os deputados e senadores.O índice conduz, porém, a uma contradição com outro dado colhido pelo Datafolha: 68% consideram que "a presidente agiu bem ao propor um plebiscito" para decidir sobre uma constituinte (vale repetir: a presidente nunca propôs um plebiscito, como lhe atribui, por exemplo e criticamente, até um ministro do Supremo, Gilmar Mendes; propôs apenas um "debate para decidir" sobre plebiscito ou não).
O plebiscito e a constituinte estão conectados na ideia que os suscitou e, mais significativo, na própria recusa dos 73% à entrega da reforma política ao atual Congresso. A diferença dos índices, apesar de relativos ao mesmo fim, sugere que plebiscito não é algo claro para o eleitorado. Uma advertência, então, para os que preferem propor aos eleitores diferentes fórmulas de reforma para sua escolha. Ou seja, plebiscito mesmo, e não o referendo, que apenas pediria sim ou não à convocação de constituinte.
Bem de acordo com a confusão do momento, os 73% pró-constituinte aprovam o item fundamental da resposta de Dilma Rousseff às manifestações. Mas, quando os mesmos entrevistados definem sua opinião sobre "o desempenho de Dilma frente aos protestos", apenas 32% o dizem ótimo ou bom. Por ser outra contradição, não deixa de ser também o que aqui mesmo já ficara pressentido.
Trecho desta coluna em 25.jun: "Melhor para eles [governadores e prefeitos] se Dilma Rousseff chamou a si, no que talvez seja um erro político, a responsabilidade por todos os problemas e soluções em questão [os citados nas manifestações]". A baixa aprovação dessa atitude e a espetacular perda de 27 pontos no prestígio de Dilma confirmam o erro. Os manifestantes, com razão, não viram nas propostas presidenciais o atendimento às suas reclamações.
A resposta administrativa e politicamente mais adequada, para todos, seria o compromisso público de dar aos prefeitos e governadores toda a colaboração federal possível para a solução dos problemas apontados nas ruas. Isso não foi feito no discurso e não está feito na prática. E o resultado é Dilma Rousseff juntar-se à queda dos governadores e prefeitos responsáveis pelos temas majoritários da insatisfação, municipais e estaduais.
Em termos eleitorais, que logo concentraram as especulações, as numerosas e fortes quedas de prestígio constatadas pelo Datafolha expressam muito menos do que parece. Só pesquisas futuras indicarão o quanto as quedas atuais resultam, ou não, do ambiente fermentado.
E se todos os expostos caem ou sobem, a disposição do conjunto fica semelhante à anterior. Quem não estava exposto ao clima do momento, como Marina Silva e Aécio Neves, ficou isento, ou quase isso, de uma aferição comparativa. Assim não vale.
A insatisfação se volta contra a classe política, como concluíram as boas análises de Aécio e do prefeito Eduardo Paes, mas não só. Agora chama para acerto de contas também os inúmeros juristas, acadêmicos e outros contrários à constituinte.
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