segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Cora Coralina



  • O chamado das Pedras
    (Cora Coralina)

    A estrada está deserta.
    Vou caminhando sozinha.
    Ninguém me espera no caminho.
    Ninguém acende a luz.
    A velha candeia de azeite
    de lá muito se apagou.

    Tudo deserto.
    A longa caminhada.
    A longa noite escura.
    Ninguém me estende a mão.
    E as mãos atiram pedras.
    Sozinha...

    Errada a estrada.
    No frio, no escuro, no abandono.
    Tateio em volta e procuro a luz.
    Meus olhos estão fechados.
    Meus olhos estão cegos.
    Vêm do passado.

    Num bramido de dor.
    Num espasmo de agonia
    Ouço um vagido de criança.
    É meu filho que acaba de nascer.

    Sozinha...
    Na estrada deserta,
    Sempre a procurar
    o perdido tempo que ficou pra trás.

    Do perdido tempo.
    Do passado tempo
    escuto a voz das pedras:

    Volta...Volta...Volta...
    E os morros abriam para mim
    Imensos braços vegetais.

    E os sinos das igrejas
    Que ouvia na distância
    Diziam: Vem... Vem... Vem...

    E as rolinhas fogo-pagou
    Das velhas cumeeiras:
    Porque não voltou...
    Porque não voltou...
    E a água do rio que corria
    Chamava...chamava...

    Vestida de cabelos brancos
    Voltei sozinha à velha casa deserta.

    - Cora Coralina, "Meu Livro de Cordel", 8°ed., 1998.

    Foto: do livro "Cora Coralina - Coração do Brasil", pág. 13 - Museu da Língua Portuguesa. São Paulo, 2009. [Acervo do Museu Casa Cora Coralina].
    ___
    Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (20 de agosto de 1889 - 10 de abril de 1985). Conheça a história e outros poemas de Cora Coralina no Blog: http://elfikurten.blogspot.com.br/2011/12/cora-coralina-venho-do-seculo-passado-e.html
  • via https://www.facebook.com/photo.php?fbid=412338915469196&set=a.414695111900243.84274.191749140861509&type=1&theater

TV PAGA

 Estado de Minas: 31/12/2012

Bem brasileiro 


O SescTV reservou para hoje, às 21h, show inédito de Fafá de Belém (foto), uma homenagem da cantora paraense à sua terra natal, com músicas de compositores como Waldemar Henrique e mestre Cupijó. E na sequência, na faixa Instrumental Sesc Brasil, às 22h, a emissora abre espaço para o Duofel, formamdo pelos violonistas Fernando Melo e Luiz Bueno, recriando o cancioneiro popular brasileiro. 

Muitas alternativas 
na telinha da Cultura


A TV Cultura também aposta em música neste último dia de 2012. Às 21h45 vai ao ar um especial com a compositora, arranjadora e band leader norte-americana Maria Schneider, um dos grandes talentos do jazz no mundo, em show registrado no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Às 23h, em edição especial do programa Cultura livre, Roberta Martinelli recebe nada menos que 20 artistas, entre eles Filipe Catto, Karina Buhr, Pélico, Tata Aeroplano, Tulipa Ruiz e Kiko Dinucc, no palco do Teatro Franco Zampari, sob a condução dos garotos da banda O Terno. 

GNT narra a trajetória 
de Carmen Miranda


O canal GNT também investe em música, mas na forma de documentário, com a exibição do longa-metragem Carmen Miranda – Bananas is my business, à 0h30. A produção faz a reconstituição da vida de Carmen Miranda a partir de depoimentos, cenas de filmes e até mesmo encenações, acompanhando a trajetória da Pequena Notável desde a infância até o sucesso nos palcos, nas rádios e no cinema. 

Até o canal HBO troca 
o cinema pela música


A HBO abre espaço na sua programação de filmes para dois especiais que fecham o ano com estilo: Immortal, com o Cirque du Soleil, às 20h20, e Paul McCartney – The love we make, às 22h. Para quem está a fim mesmo é de cinema, a notícia decepcionante é que só tem reprises. Na faixa das 22h, as melhores opções são O discurso do rei, na HBO2; Os agentes do destino, no Telecine Pipoca; Conan, o bárbaro, no Telecine Premium; Instinto secreto, no Space; S.O.S. do amor, no Megapix; Duplex, no Sony; De volta para o futuro, no FX; e Top secret – Super confidencial, no TCM. Outras atrações: Joe Sujo, às 21h, no Comedy Central; Cassino, às 22h30, no Universal Channel; e Ponto de vista, às 23h, no AXN.

Dois malucos correm 
com avestruzes no Rio

Outros dois documentários programados para hoje exigiram bom preparo físico de seus apresentadores. Para começar, às 18h, em A volta ao mundo em 80 maneiras, no cana History, Robert “Boston” Rob Mariano (vencedor dos realities Survivor e Redemption Island) e Dennis Anderson (piloto profissional de picapes Monster Truck) apostam uma corrida até o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, usando tratores, e até mesmo vão de avestruzes! E quem perder terá que fazer uma depilação! A outra atração, às 23h, no canal Off, é The way back home, com o ciclista profissional Danny MacAskill se aventurando em uma viagem de Edimburgo à sua cidade natal, Dunvegan, na Escócia. 

Mulheres dizem como 
fabricar um bom vinho 


Quatro empresárias contam os segredos de um bom vinho e uma vida feliz no documentário italiano Sem maquiagem – As mulheres do vinho ao natural, que o Eurochannel exibe esta noite, às 20h30. Como o título sugere, as protagonistas explicam como se produz um vinho orgânico perfeito que represente o orgulho da terra onde vivem e de suas próprias vidas. Elas contam ainda como fazem para conciliar o trabalho no vinhedo ou na vinícola com suas funções de mãe e esposa. 

A olhos vistos ( azulejaria ) - Walter Sebastião‏

A olhos vistos Alexandre Mancini, artista plástico mineiro que segue a linha iniciada por Athos Bulcão, defende a importância do trabalho em azulejaria nos espaços públicos e na arquitetura 

Walter Sebastião
Estado de Minas: 31/12/2012

Alexandre Mancini defende a importância do trabalho em azulejaria nos espaços públicos e na arquitetura


Em Belo Horizonte, há um seleto clube de criadores cuja obra unifica arte, artesanato e design – conhecimentos que o tempo separou. Ao ceramista Máximo Soalheiro e à vidreira Regina Medeiros se junta outro autor ilustre: Alexandre Mancini, de 38 anos. A especialidade desse belo-horizontino da gema são belos painéis de azulejo inspirados na abstração geométrica, consagrada pelo modernismo brasileiro.

“Meu trabalho nasceu do convívio com a Pampulha, com a fachada do Palácio das Artes, com as esculturas de Amilcar de Castro e Ricardo Carvão e com a arquitetura de Jô Vasconcellos e Éolo Maia”, afirma Mancini. Seus painéis surgiram a partir de 2007, depois de ele abandonar o curso de administração de empresas. “Vi que não era para mim”, resume.

O designer e artista plástico experimentou diversas atividades – de confecção de roupas a loja de vestuário antigo. Quando montou uma empresa de decoração à base de peças de porcelana e vidro, veio o contato com a cerâmica de revestimento. “Acreditei que esse era um caminho, comecei a estudar azulejaria brasileira e arte concreta”, relembra. Foi assim que Alexandre decidiu abrir um escritório para fazer o que gostava.

Deu certo. O mineiro é tão reverenciado que, a partir de 2011, passou a ser representado pela Fundação Athos Bulcão, inspirada no criador de azulejos para projetos de Oscar Niemeyer em Brasília e em BH. Mas Mancini lamenta a falta de reconhecimento da arte da azulejaria em Minas: “As pessoas não valorizam, tratam o que é precioso como trivial. Em Brasília e no Rio de Janeiro, há olhar mais atento à importância dessa arte”. 

Espaço 


Athos Bulcão é ídolo e referência para Alexandre Mancini. “Quando conheci o trabalho dele, senti enorme afinidade com a visualidade de elementos geométricos simples, coloridos, e com o comportamento dos painéis no espaço”, conta o mineiro. Para ele, a eternidade da azulejaria moderna brasileira está nesses aspectos.

Mancini cultiva e expande sua estética com pesquisas. Ter projetos produzidos pela Fundação Athos Bulcão é motivo de muita satisfação – tanto pelo reconhecimento quanto pelo fato de que, até agora, ele cuida de tudo sozinho. Ou seja, cria desenhos e desenvolve painéis (“peças únicas, datadas e assinadas”, ressalta), além de comprar azulejos, imprimir imagens e queimar a cerâmica para fixar os padrões. “Ainda vendia, embalava e despachava”, brinca ele.

Alexandre Mancini é adepto do que chama de modulação aleatória, isto é, composições montadas livremente a partir de suas indicações. Ou seja: não fechar o círculo (se há formas circulares), não repetir três azulejos na mesma posição em sequência e inserir uma peça branca a cada quatro estampadas.

“Dou liberdade máxima ao operário que vai assentar as peças”, garante. Agindo assim, o designer nunca se decepcionou. “Já houve pedreiros que ficaram contidos quando deviam ser ousados, pois não acreditavam que pudessem ter tanta liberdade. A mesma liberdade de criar harmonias e relações que dou ao pedreiro se oferece ao espectador”, avisa.

Mancini gosta de levar alegria, leveza e surpresa para um ambiente. Esse também era o objetivo de arquitetos modernos nos anos 1940. Entretanto, a partir da década de 1980, essa estética foi ficando rarefeita. “Painéis artísticos bem integrados ao edifício, feitos com azulejo, pastilha de vidro e relevos, enriquecem o cotidiano. Eles evitam que a cidade se torne fria e banal”, ensina o designer e artista plástico.

Ele acredita já ter entregue cerca de 90 obras – a maioria em Belo Horizonte e São Paulo –, mas há trabalhos dele em Brasília, Rio de Janeiro, Belém e Curitiba. Atualmente, o mineiro experimenta o sonho de expandir suas atividades para as galerias de arte. Tem planejado vitrais, relevos (em madeira e pedras) e painéis em pastilhas.

Atleticano, Mancini já concluiu o painel de azulejos com imagens de 11 jogadores de seu time para ser instalado na sede do clube. “Escolhi ícones da nossa história. Gente que vestiu e honrou a camisa do clube e que representa profundamente o Atlético”, conta. A paixão alvinegra já se refletiu em várias obras. Mancini criou painéis evocando a conquista do Campeonato Brasileiro em 1971, o número nove da camisa de Reinaldo e até abstrações sugerindo a palavra galo.

Na trilha de Cash

Outra de Alexandre Mancini: ele sempre teve banda de música. Com o fim da Hot Rod Combo, em 2005, o designer formou a The Folsoms, especialista em músicas de Johnny Cash, que já gravou um disco. Era para ser um grupo cover, hobby de amigos, mas já está se tornando projeto autoral. The Folsoms prepara disco para 2013.

Três perguntas para...

Alexandre Mancini
Artista plástico


Como se desenvolveu a azulejaria brasileira?

A partir dos anos 1930, ela tomou caminhos muito próprios. Há toda uma produção ligada à arquitetura e à arte moderna – dos painéis de Portinari aos de Athos Bulcão, que criaram estética única. Veem-se beleza e harmonia nas composições, boa integração com o espaço e caráter de expressão plástica. É um movimento forte, arrojado. Temos obras maravilhosas, inclusive em BH. Citaria o painel de Mário Silésio, no Detran; o de Silas Raposo, na Escola de Veterinária da UFMG; e as obras de Portinari, na Pampulha. 

Esse patrimônio corre riscos?

Temos obras bem conservadas e outras caindo aos pedaços. Para além dessa questão, acho que falta consciência e reconhecimento de que as construções modernas são o nosso patrimônio histórico. Grandes obras foram feitas aqui por arquitetos e artistas importantes. Elas definem o que somos. Não somos só a cidade que se transforma rapidamente. Temos história rica, forte, de grande valor.

O que deve ser feito?

Seria bom que os órgãos do patrimônio, que os responsáveis pelos edifícios, as escolas de arquitetura e de nossos filhos – são eles que, em breve, vão tomar conta disso – difundissem mais o acervo. É necessário explicar melhor, talvez levar o programa de conservação de forma mais forte e vibrante.

CIÊNCIA » Força dos ventos - Roberta Machado‏

Energia eólica se torna competitiva e produção dispara no Brasil. Expectativa é que a capacidade instalada no país cresça 250% até 2014. O EM inicia hoje série de reportagens sobre as novidades que prometem tornar o consumo energético mais sustentável 

Roberta Machado
Estado de Minas: 31/12/2012 

Os recursos naturais do Brasil sempre ofereceram um variado leque de opções para a geração de energia elétrica, mas somente agora empresários e governo começam a abrir os olhos para essa realidade. O país já pode dizer que 84% de sua geração de energia vem de fontes limpas, mas a hidrelétrica ainda é responsável por 72% da capacidade instalada. Aos poucos, outras forças naturais começam a encontrar espaço nesse mosaico, que depende da variedade para ser realmente sustentável. Entre elas, a força dos ventos merece destaque: a fonte eólica já conquistou o posto de segunda fonte de energia mais barata do país, e deve aumentar sua fatia no país de 1% para 6% nos próximos três anos. Até 2014, a capacidade instalada deve crescer de 2GW para 7GW.

“A fonte para sustentar o crescimento brasileiro é a hidrelétrica, mas em segundo lugar  vem a eólica”, avalia o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. O potencial eólico do país, aponta ele, chega a 143 mil megawatts, o equivalente a 10 usinas de Itaipu. “Esse potencial está subestimado, pois foi emitido com base em torres de 50m de altura. Hoje, os aerogeradores são muito mais altos”, ressalta.

Há menos de uma década no mercado de energia eólica, o Brasil já está entre as quatro nações que mais crescem no setor, atrás de China, Estados Unidos e Índia. Até o ano que vem, espera-se que o país salte da 20ª para a 10ª posição mundial no aproveitamento dessa energia. “A tecnologia é recente, e os investimentos no Brasil são mais recentes ainda, vieram a partir de 2004”, explica Elbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeolica). Desde então, aponta a especialista, o preço da energia retirada do vento caiu para menos de um terço. “A energia eólica perdeu o status de fonte alternativa subsidiada e passou a ser competitiva.”
 
Novos ares Existem mais de 30 mil turbinas eólicas de grande porte em operação no mundo, e muitos desses empreendimentos surpreendem pelo tamanho e pela capacidade. Em outubro, a Siemens Energy inaugurou uma torre marítima com as maiores pás já feitas. De fibra de vidro, cada uma mede 75m. É como se três prédios de 25 andares girassem no ar presos a um motor. O monstro eólico pode produzir até 6MW de energia limpa, o equivalente ao consumo de 6 mil residências. A eletricidade é levada para uma subestação em alto-mar, que, por sua vez, a transmite para a terra.

Ligando um gerador com ímãs diretamente ao eixo, o modelo precisa de apenas metade das peças usadas tradicionalmente e dispensa manutenção, pois tem um sistema de monitoramento automático. As pontas das pás também foram adaptadas para diminuir a resistência do ar e os níveis de barulho. “Nossa nova turbina incorpora o conhecimento agregado de engenharia acumulado nas últimas três décadas”, resume Henrik Stiesdal, CTO da divisão eólica da Siemens.
Mesmo em dimensões mais modestas, pesquisadores também renovam o modelo das turbinas catavento, inspirado nos seculares moinhos europeus. Alguns investem na mudança total de paradigma e defendem as turbinas verticais. Similares a hélices espiraladas, elas são mais compactas e podem se complementar para girar mais rápido. Outros, ainda, sugerem novos materiais. Enquanto as pás mais avançadas são feitas de peças inteiriças de fibra de vidro, há casos como o de uma empresa alemã que criou uma turbina inteiramente feita de madeira. O material sustentável dispensa a prejudicial fabricação de aço, e ainda pode ser reciclado.

No campo de inovações, o Brasil se destaca em iniciativas como a de um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que estuda o uso de novos tipos de controladores de potência para as turbinas eólicas. “O vento é variável, então a velocidade que ele coloca no eixo da turbina também varia, e não é compatível com a frequência que a gente quer na rede elétrica. Você precisa condicionar essa velocidade para que o gerador gere uma energia na frequência da rede elétrica, de 60Hz”, explica Ernesto Ruppert Filho, professor da Unicamp. De acordo com o especialista, essa dificuldade de conversão foi um dos motivos para o atraso na popularização da energia eólica, e o trabalho pioneiro brasileiro pode diminuir o número de equipamentos necessários à instalação e economizar ainda mais recursos.

SAÚDE » Renove suas promessas! - Luciane Evans

Na lista para os próximos 12 meses, muitos vão começar 2013 em busca por qualidade de vida. Metas não devem ficar no discurso, dizem especialistas. O primeiro passo é fazer um checape 


Luciane Evans
Estado de Minas: 31/12/2012 

 
Como se os ponteiros voltassem à estaca zero e dessem a todos uma nova chance de fazer diferente, hoje, no último dia de 2012, muitos vão acordar com a sensação que sempre surge nesse período: a de que é possível fazer mudanças. Em uma lista do que se espera para os próximos 12 meses, especialistas garantem que mais de 90% das  promessas feitas são referentes à qualidade de vida, mas 99% delas ficam no discurso. Mudar hábitos de alimentação, dedicar-se a um esporte, enfrentar uma dieta, largar vícios, estreitar os laços afetivos, mudar de profissão, ter mais fé ou fazer o que gosta são atitudes que, segundo os médicos, se levadas a sério e colocadas em prática por um longo tempo podem representar ganhos e uma saúde de ferro.

“Existe esse fascínio pelo recomeço. Todo final de alguma coisa traz a ideia de um novo ciclo”, comenta o clínico, nutrólogo e professor de clínica médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) João Gabriel Marques Fonseca. Ele explica que recomeçar dá uma perspectiva de que vai ser mais fácil. “Se a pessoa encara essa data como um marco é saudável. O problema é que em 99% dos casos as promessas ficam só no discurso e no desejo”, alerta. Essa resistência, de acordo com o especialista, ocorre porque toda mudança exige um esforço. “Só existem duas coisas que geram mudanças para valer: um grande amor ou uma grande decepção.”
O nutrólogo aponta quatro pontos para o ser humano investir para ter um aprimoramento da vida. Um deles é se autocuidar, se preocupar com você mesmo. Comer melhor, fazer uma atividade física, parar de fumar ou regularizar o sono são exemplos citados pelo médico. O outro seria, segundo ele, investir na qualidade das relações interpessoais. “Uma relação acusatória, em que você diz ao outro o que ele deveria ter feito mas não fez, não é saudável”, exemplifica. Investir na gerência do tempo do cotidiano, fazendo com que suas tarefas sejam mais produtivas, é outra meta. “Temos a mania de fazer milhares de coisas ao mesmo tempo. Se você faz mais de duas coisas, acaba não fazendo nenhuma delas direito.” Investir em conhecimento é o último ponto. “A prática de esporte, por exemplo, tem esse viés, uma vez que ensina o praticante a trabalhar em equipe, a ganhar e a perder.”

FORÇA DE VONTADE Foi pensando em se cuidar para ver crescer sua filha Mariana, de 6 anos, que o servidor público Wilson de Sales Lana, de 42, motivado pelo sonho da longevidade, tem mudado seus hábitos e, neste novo ano, quer chegar aos 98 quilos. Em novembro de 2012, ao tirar férias-prêmio, Wilson, que pesava 147 quilos, resolveu dar uma guinada. “Comecei a perceber que tinha colegas acima do peso que estavam adoecendo. Não quero isso para mim. Quero ver a minha filha crescer, poder brincar com ela e curti-la o máximo possível. Quem sabe até ver meus netos e bisnetos”, diverte-se. Decidido a buscar esse ideal, Wilson passou a comer menos, a ter uma alimentação mais saudável, à base de frutas, e se dedicou aos exercícios físicos. Emagreceu 25 quilos em 50 dias, o que ele atribui também à fé em Deus. 

Ele confessa que poderia muito bem ter esperado a virada do ano para fazer esse recomeço. “Mas teria pela frente a temporada de festas. Se eu fosse começar o regime só em janeiro, teria um peso ainda maior a perder”, diz, certo de que para que haja mudanças não é preciso datas marcadas. “Comecei antes a ir em busca das minhas metas. 
Normalmente, quando a pessoa diz que vai começar em tal dia, não dá certo.” O servidor público comenta ainda que neste novo ano quer se manter disciplinado com os novos hábitos. “Quero chegar aos 98 quilos. Tem muitas coisas no dia a dia que incomodam um gordo, quero me ver livre disso”, revela. A atitude de Wilson de começar algo já antes da virada do ano é vista como positiva pelo nutrólogo. “Essa ideia de que a partir do ano que vem vou fazer tal coisa não adianta se já não tenha feito algo por isso”, pontua João.

 Para o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais, Paulo Augusto Miranda, para se adquirirem hábitos saudáveis não tem hora. “Se o novo ano for usado como uma reflexão para a adoção de hábitos de vida é positivo. Mas é preciso evitar tomar atitudes drásticas, como a exclusão de alguns alimentos ou iniciar atividades intensas”, alerta. Ele diz que as mudanças de menor custo são aquelas que têm mais impactos na prevenção de doenças. Ter uma alimentação saudável e não fumar são exemplos disso.

O endocrinologista afirma ainda que o réveillon serve, sim, como um marco. “O grande problema é que essas propostas de boa saúde entram para a lista daquelas coisas que começamos todos os anos e não completamos”, critica. Por isso, Paulo Miranda aconselha a quem deixou a busca pela qualidade de vida para 2013 a ter  metas que consiga cumprir. “Em vez de o sedentário começar o ano dizendo que vai participar de uma meia-maratona, de 21 quilômetros, comece a falar que fará exercícios físicos aos poucos”, diz. Segundo ele, o que gera benefícios para a saúde são as medidas duradouras, não as pontuais. “Dedicar-se a hábitos saudáveis para o carnaval, por exemplo, não vai ajudar a pessoa a ganhar saúde.”

CONTINUIDADE 
Querendo ou não, a preocupação em começar o ano mais saudável é algo que bate à porta de muitos. De acordo com o clínico geral, professor da Faculdade de Medicina das Ciências Médicas e presidente da Associação Brasileira de Medicina de Urgência e Emergência de Minas Gerais, Oswaldo Fortini Levindo Coelho, essa deveria ser uma preocupação permanente. “Claro que nunca é tarde para recomeçar, o problema é dar continuidade”, diz. Por isso, ele indica que o primeiro passo para quem quer levar a sério a busca por uma vida com mais atrativos seria a avaliação médica. “O clínico geral faz um checape desse paciente, olhando-o como um todo, solicitando uma série de exames. Ele vai saber orientá-lo e encaminhá-lo para profissionais responsáveis.” Fortini alerta, no entanto, que mudanças sem orientações médicas podem ser perigosas.

Um exemplo do risco é, segundo o clínico geral, alguém que tem problemas de coração e começa a fazer exercícios físicos rigorosos, acima de sua capacidade. “Isso pode desencadear um infarto.” Com o checape, o profissional avalia coração, pulmão, sistema metabólico, sangue, urina e outros pontos importantes. “Uma vida saudável pode melhorar sua condição física, o raciocínio, a capacidade de concentração e tantas outras coisas”, defende. O médico acredita que uma vez que se muda a forma de viver, “você melhora sua disposição e capacidade no dia seguinte”.

Livro ensina a discutir relação com banco

folha de são paulo

Economista aponta como o cliente pode conseguir não pagar tarifas e negociar juros com a instituição financeira
Para especialista, cliente de menor poder aquisitivo ainda não está preparado para a bancarização
DE SÃO PAULOBancos e clientes são, por definição, inimigos? Um só ganha quando o outro perde?
Para responder a essa pergunta, o economista Humberto Veiga, especialista em direito bancário, escreveu o livro com o provocante título "Case com o Banco com Separação de Bens" (Saraiva), em que explica como funciona a cabeça dos banqueiros e o que o cliente pode fazer para não pagar tarifas e negociar juros melhores.
Leia trechos de entrevista à Folha(TONI SCIARRETTA)
Folha - Por que casar, mas com separação de bens?
Humberto Veiga - A relação com o banco é um verdadeiro casamento, mas não se trata de um casamento comum.
Há um claro interesse financeiro por parte do banco, apesar de grande parte das pessoas ser mais romântica e pensar apenas no serviço. Notei que, se colocasse a expressão "separação de bens", alertaria o cliente a ficar de olhos bem abertos.
O interesse do banco nunca converge com o do cliente?
Estamos falando de uma relação de negócios. O banco compra o seu dinheiro quando faz a captação de um CDB ou poupança, por exemplo, e vende quando dá crédito.
Quanto mais barato ele comprar o dinheiro de você, melhor para ele. Quanto mais altas as taxas de administração, melhor para ele.
Quais os clientes menos assistidos pelos bancos e quais os mais assistidos?
Nem sempre o cliente mais abastado é o mais bem assistido. Há casos em que o consumidor tem muito dinheiro investido, mas não dá a menor atenção.
O banco gosta muito disso, porque, além de não ter de perder tempo dando informações, "adquire" aquele dinheiro por um custo bem baixo. O bem assistido é o que se informa, pede detalhes e observa as opções.
Os bancos estão preparados para a bancarização?
São os clientes de baixo poder aquisitivo que não estão preparados. Se a ideia é obter um cartão de crédito, a utilização deve ser precedida de um bom entendimento da cobrança de juros.
Há uma movimentação para usar os celulares pré-pagos nas compras. Uma ideia excelente, que já é posta em prática em outros países.
Porém, como estão entre os líderes de reclamação nos rankings dos Procons, juntar empresas telefônicas com instituições financeiras tem a grande chance de levar o consumidor à loucura.
Quando o banco e o cliente têm o mesmo interesse?
A grande convergência entre banco e cliente são os impostos. Ambos adoram a isenção, mas, quando a aplicação é oferecida "sem impostos", quase sempre essa isenção fica para o banco.
Um exemplo é a LCI (letra de crédito imobiliário). Se o banco paga perto de 100% do CDI no CDB, quando vem a LCI, ele oferece em torno de 90%. A isenção, portanto, foi para o banco.
Como o cliente pode pagar menos tarifas e conseguir juros melhores?
Pagar tarifas é resultado da forma como o cliente usa o banco. Se ele for organizado e tirar proveito das transações eletrônicas, como o cartão de débito e a consulta pela internet, vai ter bom resultado.
Para pagar menos juros, a linha de crédito adequada é a melhor resposta.
Quando não se trata de uma situação de emergência, a gente faz uma pesquisa enorme para encontrar o produto mais barato, mas acaba perdendo todo esse trabalho quando contrata o crédito.

    Quadrinhos

    folha de são paulo

    CHICLETE COM BANANA      ANGELI

    ANGELI
    PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

    LAERTE
    DAIQUIRI      CACO GALHARDO

    CACO GALHARDO
    NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
    FERNANDO GONSALES
    MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

    ADÃO ITURRUSGARAI
    BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

    ALLAN SIEBER
    MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

    ANDRÉ DAHMER
    GARFIELD      JIM DAVIS

    JIM DAVIS

    Cachaça radioativa

    folha de são paulo

    Cientistas da USP usam raios gama para 'envelhecer' a aguardente de maneira rápida e sem passar por barris de madeira; eles dizem que não há risco de contaminação da bebida durante o processo
    GIULIANA MIRANDADE SÃO PAULO
    Pesquisadores brasileiros deram um jeito de "turbinar" a fabricação da cachaça ao eliminar sua etapa mais demorada: o envelhecimento em barris de madeira, que pode levar mais de três anos. Usando radiação gama, cientistas da USP criaram um "envelhecimento" similar e que só leva poucos minutos.
    O método ainda é restrito aos laboratórios, mas os cientistas acreditam que ele possa ser usado para acelerar a produção de aguardente e talvez até diminuir seu custo.
    A fabricação é a mesma. A diferença é que, depois de destilada, em vez de ir para os barris envelhecer, a cachaça já é engarrafada.
    Os recipientes com a pinga passam então por um aparelho chamado irradiador. Lá, as garrafas são atingidas por raios gama. Essa radiação ioniza os átomos da cachaça e desencadeia as reações químicas, que aconteceriam de maneira bem mais lenta pelo método tradicional com a madeira.
    Nesse ponto, há mudanças na acidez, no teor alcoólico e em vários outros aspectos da aguardente.
    SEGURANÇA
    A quantidade de radiação, de 0,3 quilogray por dose, é considerada baixa pelos físicos, mas equivale à exposição de um indivíduo a aproximadamente 10 mil tomografias computadorizadas.
    Ainda assim, o coordenador do projeto diz que não há risco de contaminação da cachaça irradiada.
    "Isso não acontece. A bebida pode ser consumida logo depois. O problema é que muita gente confunde irradiação com contaminação", explica Valter Arthur, do Laboratório de Radiobiologia e Meio Ambiente do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP.
    Um inconveniente do método é que, ao contrário dos barris, a irradiação não altera as cores do líquido, que permanece transparente.
    "E tem muita gente que faz questão da a coloração amarelada", relata Arthur.
    Para contornar o problema, os pesquisadores criaram uma espécie de repouso "estético". Eles deixaram a bebida cerca de seis meses em barris de amendoim apenas para "pegar a cor" desejada.
    Os pesquisadores estão trabalhando também com a adição de essências e outros elementos para incrementar ainda mais a bebida e suas possibilidades de coloração. Já foram testados, entre outros, urucum e ipê.
    Para a técnica chegar à indústria, no entanto, é preciso investimento alto. Um irradiador custa em média US$ 3,5 milhões. Por isso, segundo Arthur, o mais provável seria a criação de centros que poderiam irradiar a cachaça para vários fabricantes.
    A equipe do projeto também diz que praticamente não há diferença no gosto da bebida. Em um teste com 40 estudantes da USP, eles não detectaram diferenças aparentes entre a cachaça tradicional e a "radioativa".
    O sommelier de cachaça Jairo Martins, no entanto, discorda. "Essa cachaça ainda tem de melhorar. A acidez ainda está muito forte."
    Especialista no assunto e criador do site "O Cachacista", Martins provou uma amostra da aguardente irradiada a convite da Folha.
    "Não substitui o envelhecimento em barril. Pode acelerar o processo, mas somem todas as peculiaridades que a madeira proporciona", diz.

    Marcos Augusto Gonçalves

    folha de são paulo

    Oportunidade e sorte
    Fernando Haddad assume a prefeitura num período estratégico para redefinir a cara da cidade de São Paulo
    Fernando Haddad parece ser um homem de sorte. Sim, eu já ouvi dizer que a sorte é o encontro da competência com a oportunidade. Nem sempre, convenhamos. De qualquer forma, o novo prefeito paulistano, que toma posse amanhã, terá nos próximos anos algumas boas oportunidades para mostrar-se competente -o que não deixa de ser uma sorte.
    Pessoas que acompanham de perto as mudanças por que passa São Paulo consideram que a gestão de Haddad vai coincidir com um período decisivo para a definição da cara que a cidade vai ter uma vez consolidada a transição pós-industrial.
    O processo de desconcentração da indústria deixou para trás áreas inteiras de galpões e velhas instalações fabris, muitas vezes na vizinhança da região central, sobre as quais uma nova São Paulo vai se erguer. Que cidade será essa? Que tipo de empreendimento imobiliário e intervenção urbana vai moldar a nova face da metrópole? Assistiremos a uma nova onda de edifícios de baixa qualidade arquitetônica, com condomínios segregados para classe média e conjuntos vilipendiados para habitação social? Ou veremos alguma coisa que faça a diferença, na direção de uma cidade mais propícia ao convívio e à fruição da vida pública?
    Nesse assunto, Haddad começou bem ao indicar para o Desenvolvimento Urbano um nome -Fernando de Mello Franco- que goza da melhor das reputações.
    Isso no entanto não basta.
    O prefeito terá de aprovar na Câmara Municipal um novo Plano Diretor, que venha a consolidar a proposta, na verdade já delineada pelo planejamento anterior, do Arco do Futuro. Mais emprego na periferia, mais habitação no centro, uma fórmula mais fácil de enunciar do que de implementar.
    É claro que Haddad tem a sorte -ou será competência?- de estar no centro das expectativas de seu partido, que ocupa, há dez anos, o palácio federal e continua sonhando em transpor as muralhas do estadual. Ungido pelo homem, contará com a boa vontade do Planalto.
    A boa vontade de Brasília, contudo, é insuficiente. Os desafios são importantes e não se resumem ao Plano Diretor. Transporte, educação, saúde, lixo, enchentes... São Paulo não decepciona quando se trata de agenda. O novo prefeito terá, além disso, de demonstrar que sabe fazer política. As subprefeituras, ora ocupadas por coronéis egressos da PM, voltarão ao tabuleiro e se constituirão em espaço -contíguo ao da Câmara- para esse exercício. Delicado e perigoso exercício, diga-se, numa capital com orçamento de R$ 42 bilhões (o dobro do carioca), que contrata serviços bilionários e oferece variadas e atraentes possibilidades de mamatas para aproveitadores e apaniguados em geral.
    Para infelicidade dos que idealizam o poder sem contestações, Haddad terá também de enfrentar uma oposição política. E será, como outros foram, acompanhado pela imprensa -que, como de hábito, à primeira reportagem crítica sobre a nova gestão, será acusada de golpista pelos "jornalulistas" de carteirinha.
    Os laços que hoje unem, às claras, o governo petista e o prefeito que se retira, Gilberto Kassab, indicam que as diferenças ideológicas não são nem tão ideológicas, nem tão diferentes assim -o que se torna mais verdadeiro quando a questão, afinal, é administrar bem uma cidade.
    Fica aqui meu voto de boa sorte a São Paulo para este ano -e o novo ciclo- que se inicia.
    marcos.augusto@grupofolha.com.br

      Luiz Carlos Bresser-Pereira

      folha de são paulo

      O mensalão, as elites e o povo
      Depois do fracasso da aventura neoliberal, as elites se prendem ao velho moralismo liberal
      O fato político de 2012 foi o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do processo do mensalão e a condenação a longos anos de prisão de três líderes do Partido dos Trabalhadores com um currículo respeitável de contribuições ao país.
      O que significou, afinal, esse julgamento? O início de uma nova era na luta contra a corrupção no Brasil, como afirmaram com tanta ênfase elites conservadoras, ou, antes, um momento em que essas elites lograram afinal impor uma derrota a um partido político que vem governando o país há dez anos com êxito?
      Havia um fato inegável a alimentar o processo e suas consequências políticas. O malfeito, a compra de deputados e o uso indevido do dinheiro público existiram. Mas também é inegável que, em relação aos três principais líderes políticos condenados, não havia provas suficientes -provas que o direito penal brasileiro sempre exigiu para condenar. O STF foi obrigado a se valer de um princípio jurídico novo, o domínio do fato, para chegar às suas conclusões.
      Se, de fato, o julgamento do mensalão representou grande avanço na luta pela moralidade pública, como se afirma, isso significará que a Justiça brasileira passará agora a condenar dirigentes políticos e empresariais cujos subordinados ou gerentes tenham se envolvido em corrupção. Acontecerá isso? Não creio.
      Como explicar que esse julgamento tenha se constituído em um acontecimento midiático que o privou da serenidade pública necessária à justiça? Por que transformou seu relator em um possível candidato à Presidência (aquele, na oposição, com maior intenções de votos segundo o Datafolha)? E por que, não obstante sua repercussão pública, o Datafolha verificou que, se a eleição presidencial fosse hoje, tanto Dilma Rousseff quanto o ex-presidente Lula se elegeriam no primeiro turno?
      Para responder a essas perguntas é preciso considerar que elites e povo têm visão diferente sobre a moralidade pública no capitalismo.
      Enquanto classes dominantes adotam uma permanente retórica moralizante, pobres ou menos educados são mais realistas. Sabem que as sociedades modernas são dominadas pela mercadoria e pelo dinheiro.
      Ou, em outras palavras, que o capitalismo é intrinsecamente uma forma de organização econômica onde a corrupção está em toda parte. O Datafolha nos ajuda novamente: para 76% dos brasileiros existe corrupção nas obras da Copa.
      Hoje, depois do fracasso da aventura neoliberal no mundo, as elites, inclusive a classe média tradicional, estão desprovidas de qualquer projeto político digno desse nome e se prendem ao velho moralismo liberal.
      Já os pobres, pragmáticos, votam em quem acreditam que defende seus interesses. Não acreditam que elites e o país se moralizarão, mas, valendo-se da democracia pela qual tanto lutaram, votam nos candidatos que lhes inspiram mais confiança.
      Não concluo que a luta contra a corrupção seja inglória. Ela é necessária, e sabemos que quanto mais desenvolvido, igualitário e democrático for um país, mais altos serão seus padrões morais. Terem havido condenações no julgamento do mensalão representou avanço nessa direção, mas ele ficou prejudicado porque faltou serenidade para identificar crimes e estabelecer penas.

        Eleição de 2012 custou R$ 29 por eleitor

        folha de são paulo

        Na disputa municipal de outubro, cerca de 500 mil candidatos registraram gasto de R$ 4,1 bilhões em todo o país
        Tribunal Superior Eleitoral investe R$ 395,3 milhões na operação do pleito, entre pessoal e material
        DE SÃO PAULOEntre julho e outubro, um seleto grupo de brasileiros gastou recursos equivalentes a cinco obras do estádio Itaquerão, que receberá o jogo inaugural da Copa de 2014.
        Quase meio milhão de candidatos a prefeito e a vereador usaram R$ 4,1 bilhões em recursos públicos e privados, próprios ou captados, para concorrer ao direito de, a partir de amanhã, influir nos rumos de 5.565 municípios.
        Em média, a eleição municipal custou aos candidatos R$ 29,44 para cada um dos 138,5 milhões de eleitores.
        A 54ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha levantou dados do custo do voto nas 26 capitais para traçar perfis dos caminhos do dinheiro. Da vereadora mais votada que rejeitou ajuda de empresários à prefeita que recebeu 100% dos recursos em doações ocultas, feitas via partido.
        Em 2012, as doações registradas tornaram-se mais transparentes, com a Justiça Eleitoral tendo publicado pela primeira vez os detalhes dos doadores antes da votação. Isso, segundo especialistas, coloca o país entre os mais transparentes em relação a financiamento de campanhas, ainda que a fiscalização não seja a ideal.
        Há pouco consenso quanto a como financiar as campanhas. Diversos projetos de reforma no Congresso propõem o financiamento exclusivamente público, modelo que não é usado por nenhuma grande democracia.
        Já as sempre criticadas doações ocultas, feitas por meio dos partidos, são consideradas benéficas por alguns especialistas, por serem declaradas e, teoricamente, reduzirem a dependência direta dos candidatos em relação às empresas doadoras.
        Atualmente, as campanhas já são parcialmente financiadas pelos cofres públicos. R$ 286,3 milhões são distribuídos aos partidos por meio do Fundo Partidário -reserva mantida pela União e repartida conforme o tamanho de cada sigla no Congresso Nacional. Parte disso acaba sendo usado em campanhas.
        Outros R$ 606,1 milhões deixam de ser arrecadados em impostos com o horário eleitoral gratuito.
        Além disso, há ainda os R$ 395,3 milhões de gastos operacionais do TSE para viabilizar a eleição: transporte de urnas, segurança, pessoal, material, entre outras coisas.
        Tudo somado, o poder público investiu cerca de R$ 1,3 bilhão nas eleições, uma média de R$ 9,38 por eleitor.
        O Programa de Treinamento conta com o patrocínio da Ambev, da Philip Morris Brasil e da Odebrecht.

          Doações privadas predominam nas campanhas
          COLABORAÇÃO PARA A FOLHAEmbora o Brasil adote o financiamento misto de campanha, em que são permitidos recursos públicos e privados, a parte correspondente a doações de empresas e de eleitores é bem superior à do fundo partidário.
          Os R$ 4,1 bilhões gastos neste ano correspondem a 14 vezes a fatia do Orçamento da União reservada aos partidos políticos -R$ 286,3 milhões.
          Desde 1997, as doações de pessoas físicas e jurídicas são regulamentadas.
          Um eleitor que quiser contribuir não pode passar de 10% de seu rendimento bruto do ano anterior.
          Para as empresas, o limite é de 2% do faturamento em relação ao mesmo período. No caso de doações do próprio político para sua campanha, não há restrição.
          Há também a chamada doação estimada, feita em forma de produto ou serviço: carro emprestado, trabalho voluntário ou santinhos impressos por um amigo.
          Além do fundo partidário, outra modalidade de financiamento público é o horário eleitoral gratuito, em que foram concedidos R$ 606,1 milhões em benefícios fiscais para emissoras de TV e rádio, de acordo com estimativa da Receita Federal.

            Financiamento público é o principal debate
            COLABORAÇÃO PARA A FOLHALevantamento dos projetos de lei que tratam de mudanças no financiamento eleitoral em tramitação no Congresso aponta o financiamento exclusivamente público de campanha como a principal tendência nas discussões feitas tanto na Câmara como no Senado.
            Foram criadas comissões de reforma política em ambas as Casas para reunir propostas e projetos de lei que tramitavam isoladamente.
            Tais comissões aprovaram textos que proíbem qualquer tipo de doação privada para candidatos, tanto de pessoas físicas como de empresas, e as campanhas seriam pagas apenas com dinheiro público.
            O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), relator da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara, considera que o financiamento público pode bloquear a busca de privilégios e a corrupção existentes no atual sistema.
            Já o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) votou pela inconstitucionalidade da proposta de financiamento público.
            Para ele, aprovar esse tipo de financiamento com o atual sistema de votação em lista aberta seria "aberração".
            Ainda não há prazo para que haja definição.

              Vereador ganha com R$ 0,57 por eleitor na Bahia
              COLABORAÇÃO PARA A FOLHAO líder da greve da Polícia Militar que atingiu a Bahia no início de 2012 foi o vereador eleito por uma capital brasileira que declarou o menor gasto por voto recebido.
              Com pouco mais de R$ 8.000 gastos em sua candidatura, Marco Prisco Caldas Machado, conhecido como Soldado Prisco (PSDB), foi o quarto vereador mais votado de Salvador, com 14,8 mil votos. Para cada eleitor, a campanha do ex-bombeiro dispendeu R$ 0,57.
              "Queremos mostrar para o Brasil que dinheiro não ganha eleição, até porque quem ganha eleição com dinheiro fica preso a alguém ou a algo", afirmou Prisco.
              Paulo Câmara, o outro vereador eleito pelo PSDB na cidade, gastou em sua campanha quase R$ 366 mil, mais de 40 vezes o valor usado por Prisco. Câmara recebeu 8.733 votos na eleição passada.

                Maior gasto por votante está em Palmas, R$ 423
                COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
                Escolhido por 2.144 eleitores em Palmas, Iratã Abreu (PSD), filho da senadora licenciada Kátia Abreu (PSD), foi o vereador eleito que mais gastou por voto recebido nas eleições municipais em uma capital.
                Com arrecadação de pouco mais de R$ 906 mil, seu custo por voto atingiu R$ 422,78. Mais da metade da receita veio de doações ocultas, por meio do partido.
                Para Lutero Fonseca, presidente do PSD de Palmas, o apoio foi um reconhecimento pela ajuda de Iratã na obtenção de recursos para o partido. "Quem estiver mais articulado e conseguir mais captação recebe mais."
                Quatro dos cinco votos mais caros do país são da capital tocantinense. Além de Iratã, Emerson Coimbra (PMDB), Gerson de Sousa (PSL) e José Damaso (PR) integram a lista.


                FRASES
                "Queremos mostrar que dinheiro não ganha eleição"
                MARCO PRISCO CALDAS MACHADO
                que declarou ter arrecadado R$ 8.000
                "Quem estiver mais articulado e conseguir mais captação recebe mais [dinheiro para usar na eleição]"
                LUTERO FONSECA
                presidente do PSD de Palmas, sobre o registro de arrecadação de R$ 906 mil de Iratã Abreu durante a disputa

                Painel Vera Magalhães

                folha de são paulo

                Controle de qualidade
                Antes da posse, Fernando Haddad já assinou os dois decretos inaugurais de sua administração. O primeiro, protocolar, reorganiza a estrutura das 27 secretarias. O segundo cria cinco comitês integrados de gestão -cidadania, desenvolvimento social, desenvolvimento sustentável, ordenação territorial e gabinete. Os grupos, que prestarão contas semanalmente ao prefeito eleito, cuidarão dos projetos estratégicos do governo do PT, detalhando metas e indicadores de desempenho.
                PowerPoint Cada comitê terá um secretário-executivo e um gerente de projetos, encarregados da produção de relatórios trimestrais.
                Porteira... Haddad mandou recado a seu heterogêneo secretariado, que abrange desde o PV, da coligação do tucano José Serra, até o PTB, aliado de Celso Russomanno. O petista quer se reunir com toda a equipe de assessores das pastas e conhecer os respectivos currículos.
                ... fechada O prefeito eleito avisou ainda aos partidos da coalizão agraciados com cargos no primeiro escalão que a Controladoria Geral do Município, recém-criada, tratará eventuais desvios de conduta de forma "rigorosa".
                W.O. Lula disse ao filho Marcos da Silva, eleito vereador pelo PT de São Bernardo, que não irá à posse, amanhã, no Centro de Formação dos Profissionais da Educação. O ex-presidente também não confirmou presença no evento em que Haddad receberá o cargo de Gilberto Kassab.
                Upgrade O PSD, de Kassab, será o principal beneficiado com a dança das cadeiras na Assembleia paulista, logo no início de 2013. A sigla passará de três para cinco deputados estaduais, com as posses de Leandro do KLB e Oswaldo Vergínio nas vagas de eleitos pelo DEM e PT.
                Águas passadas O prefeito reeeleito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), teve encontro no seu gabinete com o vereador eleito Pedro Patrus (PT), filho do ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias, adversário do socialista na disputa eleitoral de outubro passado.
                Dobradinha Ex-parceiro dos petistas mineiros, Lacerda afirmou ter ficado com "muito boa" impressão do debutante no Legislativo, que propôs atuação conjunta em projetos na área de assistência social da prefeitura.
                Telefone... Contrariando José Sarney (PMDB-AP), a cúpula da Anatel opera para fazer de Victor Cravo, atual procurador-geral, o novo conselheiro na vaga de Emília Ribeiro. O presidente do Senado tenta a recondução de Emília, mas o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) não topa, pois ela é vista como "rebelde" no órgão.
                ... sem fio Se Cravo for indicado, Paulo Bernardo e João Rezende, atual presidente, terão o controle total dos votos da agência. Cravo era sub do conselheiro Rodrigo Zerbone, outrora consultor no Ministério das Comunicações. Foi Zerbone quem indicou Cravo para a Anatel.
                Antenados Com a saída de João Rezende da Anatel, prevista para novembro de 2013, o mesmo grupo tentará instalar Rodrigo Zerbone na presidência. Rezende sonha com o Ministério das Comunicações caso Bernardo seja realocado para outra pasta.
                Cerco Questionado sobretudo pelo governo paulista, o Ministério da Justiça triplicou o gasto em segurança pública para os 11 Estados que fazem fronteira com outros países. O investimento da pasta em aquisição de equipamentos saltou de R$ 50 milhões em 2011 para R$ 150 milhões este ano.
                Bye-bye Depois do desgaste do terceiro lugar na eleição para a Prefeitura de Recife, Humberto Costa (PT-PE) quer dar um tempo na política. O petista se despediu dos colegas de Senado anunciando que passará três meses fazendo imersão de inglês nos Estados Unidos.
                TIROTEIO
                O Brasil inova. Rejeição de contas impede que candidato dispute eleição, mas condenado pelo STF pode assumir o cargo de deputado.
                DO CIENTISTA POLÍTICO RUBENS FIGUEIREDO, sobre José Genoino (PT-SP), condenado no mensalão, assumir cadeira na Câmara na quarta-feira.
                CONTRAPONTO
                Relógio de ponto
                Ao participar de solenidade na Federação do Comércio de São Paulo, Fernando Haddad discursava sobre as medidas que implantará em sua gestão para beneficiar o setor. Mencionou os investimentos em mobilidade urbana:
                -Falar em redução da jornada de trabalho em São Paulo é uma abstração. Desde a hora que você acorda até a hora que você vai deitar você está trabalhando...
                O presidente da Fecomercio, Abram Szajman, anunciou então que também estava presente na plateia o sindicalista Ricardo Patah, representante dos comerciários.
                -Queria cumprimentar o Patah, que está ali no fundo. Você ouviu o que o prefeito falou de horário, né?