quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Bolso pesou mais na redução de fumantes


Pesquisa é a primeira a avaliar os fatores por trás da queda de 50% de usuários de cigarro no Brasil de 1989 a 2010
Impostos mais altos respondem por quase metade da tendência; para especialista, há espaço para melhorar
FERNANDO MORAESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAPesquisadores do Brasil e dos EUA usaram um modelo matemático para estimar, pela primeira vez, as causas da queda de 50% no número de fumantes do país nas últimas duas décadas.
De 1989 a 2010, a proporção de fumantes na população adulta brasileira foi de 35,4% para 16,8%. O estudo, publicado na revista científica "PLOS Medicine", conclui que quase metade dessa queda se deveu ao aumento dos preços de cigarros, ligado à maior taxação do setor.
"Isso era esperado. O aumento do preço é a medida mais efetiva no controle do tabagismo, o que se vê também em outros países", explica Liz Maria de Almeida, coordenadora de pesquisa populacional do Inca (Instituto Nacional de Câncer) e coautora da nova análise.
"O preço faz com que mais pessoas, principalmente jovens, não se tornem fumantes. E leva outros a diminuírem o consumo de cigarros e até deixarem de fumar", afirma a pesquisadora.
Com o estudo, foi possível também estimar o número de mortes devido ao cigarro que foram evitadas entre 1989 e 2010: cerca de 420 mil.
O grupo usou o modelo matemático "SimSmoke", desenvolvido pelo americano David Levy (coautor do estudo, da Universidade Georgetown) e testado em vários países e Estados americanos.
O modelo utiliza cinco parâmetros: política de taxação do tabaco, medidas de banimento do cigarro em lugares fechados e públicos, campanhas em veículos de mídia, restrição de propaganda, tratamentos para parar de fumar e proibição de compra para jovens (veja quadro à dir.).
PESOS E MEDIDAS
Cada um dos parâmetros recebeu um peso, de acordo com a força de implementação de cada medida no país, e o modelo foi calibrado para a realidade brasileira. "Demoramos um ano obter os resultados", diz a médica.
"O David Levy, que já tinha trabalhado conosco em outros estudos, ficou impressionado com a redução no número de fumantes no Brasil e propôs que estudássemos as causas dessa queda espetacular", afirma Liz.
O modelo foi testado com os dados do IBGE de 2008 e apresentou uma correlação expressiva, mostrando aos pesquisadores que os parâmetros estavam acertados. A partir disso, eles puderam fazer estimativas para o futuro.
Um dado preocupante obtido com o modelo é a pequena participação da proibição de venda de cigarros aos jovens na redução de fumantes brasileiros, apenas 0,3%.
"É preciso reforçar e fazer cumprir melhor essa lei. Pesquisas com jovens já mostraram que é muito fácil para eles comprar cigarros."

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