Em Nova York e Nova Jersey, áreas atingidas por Sandy improvisaram seções
Sem energia, moradores de Staten Island têm de votar à base de geradores; cenário ainda é de destruição
EM NOVA YORKO estrago provocado pela tempestade Sandy alterou ontem a rotina de milhares de eleitores na Costa Leste dos EUA, sobretudo em Nova York e em cidades de Nova Jersey.
Para muitos dos americanos que vivem nas áreas ainda danificadas pela megatempestade, o que menos importava ontem era qual país sairia das urnas.
"Obama ou Romney? Sinceramente, para mim, tanto faz. Minha única prioridade é reconstruir minha vida", disse à Folha o chef de cozinha Ryan Lotz, que optou por não votar.
O que se viu em inúmeras seções eleitorais improvisadas ou que funcionavam nas regiões atingidas eram eleitores desanimados ou impacientes.
O caos que ainda impera em algumas áreas de Nova York obrigou o governo a mudar o endereço de mais de cem seções eleitorais, o que gerou filas e confusões.
Em muitos locais, como na maior escola de Midland, em Staten Island, próximo do terreno onde ficava a casa de Lotz, as cabines de votação foram improvisadas numa quadra de basquete.
Sem energia elétrica na rua, o local funcionava graças a um gerador.
Na entrada da escola, eleitores dividiam espaço com voluntários, que de forma improvisada recolhiam e separavam doações -roupas, comidas e brinquedos- para as vítimas do Sandy.
Em Staten Island -uma das cinco regiões que compõem Nova York-, o cenário ainda é de desolação. Nos bairros de South Beach e Midland, os mais afetados, há casas inteiras arrancadas ou completamente destruídas.
Carros e postes virados, roupas e muitos brinquedos espalhados nas calçadas, lixo e areia do mar nas ruas. Soldados do Exército colaboram na reconstrução e limpeza.
"Muita gente que teve problema com a tempestade não veio votar", dizia o professor Leonard Cirani, 65, que em tom de brincadeira clamava o seu "dever cívico" para estar ali.
Morador de Staten Island, sua casa também foi inundada. "Essa baixa presença de eleitores é péssima para os democratas e ótima para os republicanos", completou Cirani, eleitor de Mitt Romney.
Analistas especularam na última semana sobre os danos que a tempestade -e a resposta governamental ao desastre- poderiam causar às campanhas presidenciais, sobretudo à de Barack Obama, que tenta a reeleição.
Mas todos os eleitores ouvidos pela reportagem ontem afirmaram que o Sandy não influenciou no voto -a Costa Leste vota majoritariamente pelos democratas.
"Voto pela verdade, apenas isso", dizia a aposentada Suzy Elker, 78. Negra, ela e o marido -Elker Smith, 83- foram andando com dificuldade votar num colégio de Brighton Beach, no extremo sul do Brooklyn. "Obama, claro", adiantou-se.
A região também foi bastante afetada -e a reconstrução ainda nem começou.
Em Brighton Beach e na praia vizinha de Coney Island, ainda falta luz, há muito lixo e árvores nas ruas.
Carros quebrados ou simplesmente abandonados continuam na mesma posição da semana passada.
Segundo o governador de Nova York, Andrew Cuomo, pelo menos 350 mil casas continuavam sem luz ontem.
Muitas medidas foram adotadas para facilitar a vida dos eleitores. Ônibus funcionaram exclusivamente entre as seções eleitorais. Só o colégio onde Suzy e o marido votaram recebeu eleitores de outros nove distritos.
Mediante registro prévio, muitos americanos puderam votar em seções que não fossem as suas e até por e-mail ou fax, como permitiu o governo de Nova Jersey aos moradores do Estado.
CATÁSTROFE
Inúmeros problemas foram reportados em Nova Jersey. "Existe uma única palavra para descrever a experiência em Nova Jersey, e a palavra é catástrofe", disse Barbara Arnwine, diretora-executiva do Comitê dos Advogados para os Direitos Civis.
Segundo ela, os servidores dos computadores haviam quebrado, alguns locais de votação abriram atrasados e em outros não havia urnas.
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