Walter Sebastião
Estado de Minas : 04/11/2012
Garota observa estátua instalada na escadaria do Museu Nacional de Bucareste, na Romênia |
No livro Como falar de arte com as crianças, Françoise Barbe-Gall não repete enfadonhas cronologias nem alimenta o folclore sobre autores. Também evita compilar informações superficiais sobre épocas, temas e técnicas. Professora da Escola do Louvre, a francesa prefere estimular o contato direto com a imagem. Melhor para a garotada.
Dedicada à pintura, a obra traz boas dicas, inclusive para adultos. Françoise recomenda: um bom começo é abandonar antigos padrões de comportamento. Como, por exemplo, dizer às crianças que não se pode ir a tal cidade sem visitar determinado museu. O argumento parece bastante razoável, mas, na opinião dos pequenos, não tem o menor fundamento, avisa a professora.
A autora aconselha: interrogue as próprias lembranças antes de conversar com a garotada. “Se elas forem ruins ou simplesmente enfadonhas, melhor guardá-las. A memória do tédio é o tédio, e ele é contagioso”, brinca.
Outro conselho: banir o passeio em dias de chuva, pois isso supõe programa em espaços de arte só porque não há possibilidade de fazer algo mais divertido. Escolha um destino que não exija trajeto longo e não passe tempo demais lá dentro. “O passeio ao museu não é completo sem a visita à cafeteria. É como cinema sem pipoca ou sem sorvete. Se a instituição não tiver uma delas, procure-as nos arredores”, ensina a autora.
O melhor capítulo, “Temos o direito de não saber tudo”, traz ótimas questões sobre artistas, quadros, gêneros e técnicas. Contempla as novidades trazidas pelo século 20 enfrentando clichês incutidos na cabeça de muita gente. O volume tem fichas de 30 obras – da Anunciação, de Fra Angélico, a O rei dos zulus, de Jean-Mitchel Basquiat –, acompanhadas de fotos. Todas abordam dúvidas das crianças e dos adultos.
Como falar de arte para crianças aborda temas complexos com perspicácia, sofisticação e bom humor, sem pedantismo. Em “Despertar a vontade de ver quadros”, a autora explica que seu objetivo não é a introdução metódica do garoto no universo das artes visuais. “Se mais tarde a criança desejar adquirir cultura artística aprofundada, já é outra história. Ela dedicará a isso o tempo necessário e se sujeitará às exigências particulares da disciplina. Por enquanto, pense apenas em lhe proporcionar um prazer bastante simples, mas muito raro: o de ver bem”, conclui.
COMO FALAR DE ARTE COM AS CRIANÇAS
De Françoise Barbe-Gall
Editora WMF/Martins Fontes
176 páginas, R$ 49,80
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