domingo, 4 de novembro de 2012

Após Sandy, NY se divide em norte recuperado e sul que vive colapso


Moradores de área mais afetada pela tempestade reclamam de prejuízos; faltam luz e coleta de lixo

Até alguns saques foram registrados, apesar do policiamento ostensivo; 'ninguém esperava tanto transtorno', diz morador
Leonard Wiggins/Metrô de NY/Efe
Locomotiva especial bombeia água de túnel que liga Brooklyn a Manhattan, em NY
Locomotiva especial bombeia água de túnel que liga Brooklyn a Manhattan, em NY
LUCAS FERRAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
O cheiro de comida podre estava impregnado na calçada. Ao lado da entrada do restaurante, dezenas de sacos de lixo empilhados.
James Bare, 63, diz esperar pelo caminhão para recolher os entulhos há três dias. "É uma situação desoladora", afirmou à Folha, anteontem. "Não imaginava que ficaríamos assim."
Dono de um pequeno restaurante de massas em Little Italy, no sul de Manhattan, Bare não escondia a frustração com o que chamou de "lerdeza" das autoridades para retomar a vida na cidade.
Sem luz, ele diz ter perdido US$ 5 mil (R$ 10 mil) só em alimentos perecidos. "Sem falar no prejuízo de o restaurante ficar fechado, que deve ser três ou quatro vezes maior."
Quase uma semana depois da tempestade Sandy e com Nova York ainda distante da normalidade, muitos moradores e comerciantes, impacientes com a situação, começaram a questionar a capacidade da estrutura e do sistema de defesa da cidade para lidar com um fenômeno natural da magnitude do Sandy. Poucos quarteirões ao sul do restaurante de Bare, mexicanos que limpavam um café reclamavam do mesmo.
"Há dezenas de frangos podres no porão, que foi inundado pela água", contava Enrique Zanabria, que trabalha no local desde terça-feira. "Também esperamos pelo caminhão de lixo."
Além de falta de luz, do mau cheiro e do acúmulo de lixo nas calçadas, o sistema de transporte entrou em colapso e houve até escassez de combustíveis. A maior cidade dos EUA parou.
"Ninguém esperava tanto transtorno", diz o economista Konrad Stifanek, que vive a algumas quadras do centro financeiro de Wall Street, onde trabalha.
DUAS CIDADES
Instalado na casa de um amigo por causa da inundação de seu prédio, Stifanek afirma que a Nova York pós-Sandy se dividiu em duas -"com e sem luz, com e sem limpeza, com e sem metrô".
Saques foram registrados em lojas do Soho e do East Village -apesar do policiamento nas áreas sem luz.
Enquanto de Midtown para o norte de Manhattan a situação já estava normalizada, com a retomada da vida noturna e com o sistema de metrô restabelecido, o sul vivia um apagão. Só ontem a situação foi normalizada na maior parte dessa região.
Ogovernador de Nova York, Andrew Cuomo, anunciou que 80% do serviço do metrô foi restabelecido ontem na cidade. O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, e Cuomo pediram paciência aos nova-iorquinos, reconhecendo que a primeira semana seria difícil.
Bloomberg, ex-aliado dos republicanos, anunciou na quinta apoio à reeleição do presidente Barack Obama. A decisão, afirmou, está relacionada à reação do presidente à tragédia.
O valor total das perdas ocasionadas pelo Sandy ainda é incerto, mas uma estimativa conservadora aponta prejuízos de pelo menos US$ 50 bilhões (R$ 101 bilhões).
Além de danificar várias áreas de Nova York, o Sandy causou a morte de ao menos 41 pessoas na cidade e deixou milhares de desabrigados.
Mas há quem resista aos problemas. A russa Oksana Kostenko, dona de um café no boêmio East Village, está no escuro desde segunda, mas resolveu abrir o local à luz de velas para shows e performances todos os dias.
"Ainda não parei para calcular os prejuízos. Manter as portas abertas é o mais importante. As pessoas precisam de diversão nos momentos difíceis."

Nenhum comentário:

Postar um comentário