OPINIÃO
JOÃO PAULO CHARLEAUX
ESPECIAL PARA A FOLHA
Enquanto o furacão Sandy matava 69 pessoas na América Central e no Caribe, pouco se via sobre ele nos jornais daqui. Bastou a ventania entrar nos radares americanos para entrar, também, na pauta da imprensa brasileira com força total.
Agora, escoado o aguaceiro, resta, além das mortes, a ideia de que ainda falta ao jornalismo internacional brasileiro criar sua própria agenda, em vez de comprar a dos outros.
Não é fácil. Ter como ofício a missão de decidir que morte é digna ou não de entrar na edição é tarefa ingrata. Na dúvida, a saída é sempre seguir a pauta dos grandes jornais do Norte, o que faz com que o rádio do meu carro me dê a impressão de estar dirigindo em Nova York algumas vezes.
Nas Redações, a piada mais comum é a de que um americano assustado equivale a uns 40 centro-americanos mortos ou uns 50 corpos africanos e por aí vai.
A vida humana, para os jornalistas, não tem, definitivamente, o mesmo valor em todo o mundo.
E o drama de um personagem que tenha o perfil do meu leitor "rende mais" que o de um senhor qualquer, num excêntrico país onde a morte é tão frequente que já nem rende notícia.
E, nesse placar esquisito, o Brasil entra lá embaixo. Prova disso é o resultado da comparação entre o tsunami de fevereiro de 2010 no Chile, com seus mais de 500 mortos, e a tragédia das chuvas, que deixou mais de mil mortos na região serrana do Rio de Janeiro, um ano depois.
Nosso tsunami tem hora marcada. Vem todo ano. Aliás, o próximo já está chegando. Mesmo assim, nem o governo nem a imprensa nativa criaram ainda a cultura necessária para trabalhar com esses desastres naturais. Todo ano, é como se fosse a primeira vez.
Nisso talvez os Estados Unidos possam nos ensinar muito. E é justamente aí que está o ponto mais positivo da cobertura em questão.
JOÃO PAULO CHARLEAUX é jornalista, trabalhou oito anos na Cruz Vermelha Internacional e cobriu o pós-terremoto no Haiti e o pós-tsunami no sul do Chile, ambos em 2010.
Não é fácil. Ter como ofício a missão de decidir que morte é digna ou não de entrar na edição é tarefa ingrata. Na dúvida, a saída é sempre seguir a pauta dos grandes jornais do Norte, o que faz com que o rádio do meu carro me dê a impressão de estar dirigindo em Nova York algumas vezes.
Nas Redações, a piada mais comum é a de que um americano assustado equivale a uns 40 centro-americanos mortos ou uns 50 corpos africanos e por aí vai.
A vida humana, para os jornalistas, não tem, definitivamente, o mesmo valor em todo o mundo.
E o drama de um personagem que tenha o perfil do meu leitor "rende mais" que o de um senhor qualquer, num excêntrico país onde a morte é tão frequente que já nem rende notícia.
E, nesse placar esquisito, o Brasil entra lá embaixo. Prova disso é o resultado da comparação entre o tsunami de fevereiro de 2010 no Chile, com seus mais de 500 mortos, e a tragédia das chuvas, que deixou mais de mil mortos na região serrana do Rio de Janeiro, um ano depois.
Nosso tsunami tem hora marcada. Vem todo ano. Aliás, o próximo já está chegando. Mesmo assim, nem o governo nem a imprensa nativa criaram ainda a cultura necessária para trabalhar com esses desastres naturais. Todo ano, é como se fosse a primeira vez.
Nisso talvez os Estados Unidos possam nos ensinar muito. E é justamente aí que está o ponto mais positivo da cobertura em questão.
JOÃO PAULO CHARLEAUX é jornalista, trabalhou oito anos na Cruz Vermelha Internacional e cobriu o pós-terremoto no Haiti e o pós-tsunami no sul do Chile, ambos em 2010.
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