domingo, 4 de novembro de 2012

HENRIQUE MEIRELLES


Foco no problema
Estudo de bancos centrais do G20, no início da década passada, analisou grupo de países de baixo crescimento e padrão de vida, comparando os que haviam elevado substancialmente o crescimento com os que tinham falhado na tentativa. Dado comum aos dois grupos era o fato de terem longa lista de problemas.
O estudo mostrou que os países bem-sucedidos foram os que identificaram os problemas mais prejudiciais ao crescimento e concentraram esforços na sua solução. Identificaram dois, três ou quatro problemas fundamentais e os combateram de forma persistente, até resolvê-los. O que elevou o padrão de crescimento e o nível de vida da população.
Aplicando o modelo ao Brasil, verifica-se que em boa parte das décadas de 80 e 90 o país tinha três problemas críticos impedindo o crescimento: o cambial, o fiscal e o monetário (inflacionário). Em 2003, o país efetuou forte ajuste monetário e fiscal que gerou contração do consumo. A taxa básica de juros foi a 26,5% ao ano, quebrando a dinâmica inflacionária, o superavit primário efetivo ficou acima da meta de 4,25% do PIB e cerca de 15% da produção industrial foi redirecionada à exportação.
A melhora dos fundamentos econômicos deu base à confiança de investidores, empresários e, em seguida, consumidores. E voltamos a crescer.
Esse bônus da estabilização econômica foi obtido por meio da estabilização da inflação, da queda e da melhora do perfil da dívida pública e do acúmulo de reservas internacionais gerada pela melhora da balança externa.
O estudo dos bancos centrais do G20 tem sido aplicado a diversas esferas da administração pública no mundo. Com prefeitos recém-eleitos, é um bom momento para analisar nossos centros urbanos nessa perspectiva.
Tomemos o exemplo mais importante e dos mais dramáticos, São Paulo. A lista de problemas é longa e inclui responsabilidades municipais básicas, como educação, saúde, lixo, manutenção de vias, creches... Porém os que mais limitam o crescimento e a melhora do padrão de vida são transporte e violência. Resolvidos, haverá mais crescimento, que gera mais arrecadação e, assim, recursos para resolver os outros problemas fundamentais.
São Paulo demanda foco absoluto nesses dois problemas. Um mero desdobramento de recursos municipais para enfrentá-los não basta. Será preciso esforço articulado dos governos municipal, estadual e federal.
Quando São Paulo voltar a oferecer transporte que permita às pessoas exercer sua atividade de forma eficiente e confortável e a população recuperar o domínio das ruas da violência, a cidade poderá voltar a ser a grande locomotiva do Brasil.
HENRIQUE MEIRELLES escreve aos domingos nesta coluna.

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