domingo, 4 de novembro de 2012

Eleições EUA


ANÁLISE EUA

Resultado pode mudar atual regra eleitoral

Pesquisas de opinião indicam que entre 60% e 80% dos cidadãos dos EUA prefeririam eleições diretas nacionais
ALEX KEYSSAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Enquanto a campanha eleitoral presidencial ingressa em seus dias finais, uma batalha acirrada por votos está sendo travada em Ohio, na Flórida, na Virgínia e em alguns poucos outros Estados.
O presidente Barack Obama e o ex-governador Mitt Romney vêm atravessando esses Estados "campos de batalha" em alta velocidade, e há tantos anúncios políticos na televisão que os noticiários locais foram encurtados.
Em outras partes do país, não há atividade de campanha visível na televisão ou nas ruas.
Essa realidade peculiar é consequência do "colégio eleitoral", nome dado no século 20 a um sistema eleitoral do século 18 que nunca funcionou como pretendiam os fundadores da nação.
A Constituição americana, redigida em 1787, pediu eleições indiretas nas quais os eleitores votariam em "eleitores estaduais" em cada Estado. Estes, por sua vez, se reuniriam, discutiriam com os diferentes candidatos e decidiriam a quem dar os "votos eleitorais" do Estado.
O número de votos eleitorais concedido a cada Estado refletia sua representação na Câmara e no Senado. Esse sistema deu influência desproporcional aos Estados pequenos (já que cada Estado possui dois senadores).
Na prática, contudo, os eleitores estaduais nunca agiram como organismo deliberativo, deixando sem cumprir a intenção constitucional.
Para agravar a situação, disputas partidárias levaram a maioria dos Estados, no início do século 19, a adotar a regra de "o vencedor fica com tudo", exigindo que a totalidade dos votos eleitorais de um Estado fosse dada ao vencedor pelo voto popular (isso não está previsto na Constituição e não é o que os autores dela pretendiam).
É a regra do "vencedor fica com tudo" que produz a anomalia insensata das campanhas americanas: não há incentivo para um candidato fazer campanha num Estado onde ele tem vantagem cômoda, porque ele ganhará todos os votos eleitorais do Estado de qualquer maneira. Mas quem receber 50,1% dos votos populares em Ohio ficará com os 18 votos do Estado.
Os americanos aprenderam a conviver com esse sistema eleitoral, mas não estão particularmente satisfeitos com ele. Pesquisas de opinião indicam que entre 60% e 80% dos cidadãos prefeririam eleições diretas nacionais. Mas, para aprovar emendas à Constituição, são necessárias supermaiorias no Congresso e nos Estados e, até agora, facções minoritárias vêm conseguindo barrar os esforços para adotar um sistema eleitoral mais direto.
É possível -não provável, mas possível- que a eleição atual promova avanços na causa da reforma eleitoral.
Pesquisas atuais indicam que um resultado plausível da campanha é que Romney ganhe por margem estreita no voto popular, mas perca o voto eleitoral -logo, a Presidência- para Obama.
Tal resultado significaria que em duas das últimas quatro eleições presidenciais o candidato que recebeu mais votos não se tornou presidente. Além disso, visto que o republicano George Bush tornou-se presidente em 2000, apesar de ter perdido no voto popular, esse resultado deixaria claro que o colégio eleitoral não beneficia sistematicamente nem os republicanos nem os democratas.
Apenas sob tais circunstâncias seria possível uma mudança -já que, nesta era de rivalidade intensa, não se pode esperar que nenhum dos partidos priorize os valores democráticos em vez do que vê como sendo seus interesses partidários.
ALEX KEYSSAR é professor de história e política social na Universidade Harvard
Tradução de CLARA ALLAIN

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