Roberta Machado
Estado de Minas: 11/12/2012
Brasília – A história do povo cigano é tão coberta de mistérios quanto sua cultura, que parece beirar o misticismo. Em cada país por quais esse grupo nômade passou, poucos registros documentaram os rastros dos acampamentos e das atividades dos romani, como também são conhecidos esses indivíduos historicamente excluídos das sociedades tradicionais. Os dialetos, as crenças e os costumes da etnia formam uma mistura tão diversificada de referências que é difícil apontar com certeza a trajetória ou mesmo a primeira casa das tribos viajantes.
Há muito se supõe que os ciganos dividam uma antiga origem em comum. Com essa ideia em mente, um grupo de pesquisadores europeus olhou diretamente o código genético de representantes da etnia para apontar a região em que o povo de romani teria nascido. A pesquisa, realizada com 152 indivíduos de 13 grupos diferentes, confirmou o que historiadores e linguistas presumiam: a jornada sem fim teve início há 1,5 mil anos, no Noroeste da Índia.
Os pesquisadores concluíram que, além de terem a linguagem influenciada pelos europeus orientais e pelos povos do Oriente Médio, os nômades partilham algumas características genéticas dos países de onde vieram. “Nossos resultados mostram que os grupos romani têm similaridades com indianos e europeus, o que confirma a origem na Índia e sua mistura com povos da Europa”, afirma David Comas, pesquisador da Universidade de Pompeu Fabra, na Espanha. A análise do DNA mostrou que houve misturas antigas e recentes com povos europeus de várias regiões ao longo da migração, formando grupos únicos, como os ciganos galeses, uma subetnia distinta.
Uma série de variantes ainda deixou claro que o grupo com mais genes em comum com os demais são os indivíduos de uma região específica da Índia. “Encontramos populações da parte noroeste do subcontinente que melhor poderiam representar as raízes dos romani europeus. Isso não significa que os indianos se parecem mais geneticamente com os romani, mas que eles têm o maior número de elementos de ancestralidade em comparação com outras populações da Índia que analisamos”, diz Manfred Kayser, professor de biologia molecular da Erasmus University Rotterdam, na Holanda.
A pesquisa apontou que os ciganos partiram da Índia em direção aos Balcãs. De lá, se espalharam, há cerca de 900 anos. O caminho exato que eles seguiram, no entanto, não pôde ser traçado somente pelas pistas encontradas nos genes analisados. Os registros históricos da presença desse povo em diversos países tiveram início na Sérvia, em 1350, mas ainda não é certo como eles seguiram para a costa europeia e formaram comunidades em países como Grécia, Espanha e Romênia, a nação com o maior número de romani.
A análise dos DNAs colhidos mostra que a mistura dos nômades com os europeus ocidentais é mais antiga que a miscigenação com os moradores da Europa Central, o que indica que essa migração pode não ter sido linear. Eles ainda têm traços, mesmo que sutis, de misturas com indivíduos do Oriente Médio, provavelmente ocorridas durante a jornada da Índia para a Europa.
Laços fortes Hoje, eles habitam acampamentos e cidades em incontáveis países, formando a maior minoria étnica da Europa: uma sociedade sem pátria de cerca de 11 milhões de pessoas. Embora haja provas de que os ciganos se misturaram com indivíduos de diferentes nações, ainda é notável a característica genética que eles compartilham. De acordo com os autores do estudo, o sangue romani se manteve tão próximo graças à sua cultura, que evita casamentos com pessoas de outras etnias.
Especialistas confirmam a tese de que a preservação genética se manteve devido ao costume de isolamento, hábito que levou até mesmo a casamentos entre parentes. “No caso dos brasileiros, os ciganos se abrem mais para casamentos mistos, mas a união dentro da própria comunidade tem sido uma maneira de sobreviver”, aponta Rodrigo Corrêa Teixeira, professor de relações internacionais da PUC Minas. De acordo com o historiador, o costume é uma tentativa do povo cigano de preservar sua identidade, frente à discriminação que sofrem há séculos e que ainda não foi superada. Nos últimos anos, o povo cigano tem sofrido um processo de repatriação na França, onde é alvo de ataques violentos de pessoas que defendem seu retorno à Romênia e à Bulgária.
Para Corrêa Teixeira, autor do livro História dos ciganos no Brasil, o repúdio e a expulsão contínua podem explicar por que esse povo deixou a terra indiana há mais de um milênio. “A saída dos ciganos da Índia antiga ainda é objeto de muita polêmica. Acredita-se que provavelmente houve a invasão de povos da Ásia Central em direção à Índia, ocasionando a primeira expulsão. Associa-se a origem dos ciganos com algumas castas nobres e guerreiras com características nômades, o que explica o nomadismo”, especula o especialista.
O estudo genético que foi publicado quinta-feira na revista especializada Current Biology é o primeiro que usa as características genéticas dos ciganos para definir a origem desse povo.
Foram 800 mil variantes analisadas e comparadas pelos cientistas, segundo os quais o trabalho pode fornecer novas respostas sobre a caracterização genética da Europa e ainda ter implicações em vários campos de pesquisa, como a evolução humana e as ciências da saúde.
Há muito se supõe que os ciganos dividam uma antiga origem em comum. Com essa ideia em mente, um grupo de pesquisadores europeus olhou diretamente o código genético de representantes da etnia para apontar a região em que o povo de romani teria nascido. A pesquisa, realizada com 152 indivíduos de 13 grupos diferentes, confirmou o que historiadores e linguistas presumiam: a jornada sem fim teve início há 1,5 mil anos, no Noroeste da Índia.
Os pesquisadores concluíram que, além de terem a linguagem influenciada pelos europeus orientais e pelos povos do Oriente Médio, os nômades partilham algumas características genéticas dos países de onde vieram. “Nossos resultados mostram que os grupos romani têm similaridades com indianos e europeus, o que confirma a origem na Índia e sua mistura com povos da Europa”, afirma David Comas, pesquisador da Universidade de Pompeu Fabra, na Espanha. A análise do DNA mostrou que houve misturas antigas e recentes com povos europeus de várias regiões ao longo da migração, formando grupos únicos, como os ciganos galeses, uma subetnia distinta.
Uma série de variantes ainda deixou claro que o grupo com mais genes em comum com os demais são os indivíduos de uma região específica da Índia. “Encontramos populações da parte noroeste do subcontinente que melhor poderiam representar as raízes dos romani europeus. Isso não significa que os indianos se parecem mais geneticamente com os romani, mas que eles têm o maior número de elementos de ancestralidade em comparação com outras populações da Índia que analisamos”, diz Manfred Kayser, professor de biologia molecular da Erasmus University Rotterdam, na Holanda.
A pesquisa apontou que os ciganos partiram da Índia em direção aos Balcãs. De lá, se espalharam, há cerca de 900 anos. O caminho exato que eles seguiram, no entanto, não pôde ser traçado somente pelas pistas encontradas nos genes analisados. Os registros históricos da presença desse povo em diversos países tiveram início na Sérvia, em 1350, mas ainda não é certo como eles seguiram para a costa europeia e formaram comunidades em países como Grécia, Espanha e Romênia, a nação com o maior número de romani.
A análise dos DNAs colhidos mostra que a mistura dos nômades com os europeus ocidentais é mais antiga que a miscigenação com os moradores da Europa Central, o que indica que essa migração pode não ter sido linear. Eles ainda têm traços, mesmo que sutis, de misturas com indivíduos do Oriente Médio, provavelmente ocorridas durante a jornada da Índia para a Europa.
Laços fortes Hoje, eles habitam acampamentos e cidades em incontáveis países, formando a maior minoria étnica da Europa: uma sociedade sem pátria de cerca de 11 milhões de pessoas. Embora haja provas de que os ciganos se misturaram com indivíduos de diferentes nações, ainda é notável a característica genética que eles compartilham. De acordo com os autores do estudo, o sangue romani se manteve tão próximo graças à sua cultura, que evita casamentos com pessoas de outras etnias.
Especialistas confirmam a tese de que a preservação genética se manteve devido ao costume de isolamento, hábito que levou até mesmo a casamentos entre parentes. “No caso dos brasileiros, os ciganos se abrem mais para casamentos mistos, mas a união dentro da própria comunidade tem sido uma maneira de sobreviver”, aponta Rodrigo Corrêa Teixeira, professor de relações internacionais da PUC Minas. De acordo com o historiador, o costume é uma tentativa do povo cigano de preservar sua identidade, frente à discriminação que sofrem há séculos e que ainda não foi superada. Nos últimos anos, o povo cigano tem sofrido um processo de repatriação na França, onde é alvo de ataques violentos de pessoas que defendem seu retorno à Romênia e à Bulgária.
Para Corrêa Teixeira, autor do livro História dos ciganos no Brasil, o repúdio e a expulsão contínua podem explicar por que esse povo deixou a terra indiana há mais de um milênio. “A saída dos ciganos da Índia antiga ainda é objeto de muita polêmica. Acredita-se que provavelmente houve a invasão de povos da Ásia Central em direção à Índia, ocasionando a primeira expulsão. Associa-se a origem dos ciganos com algumas castas nobres e guerreiras com características nômades, o que explica o nomadismo”, especula o especialista.
O estudo genético que foi publicado quinta-feira na revista especializada Current Biology é o primeiro que usa as características genéticas dos ciganos para definir a origem desse povo.
Foram 800 mil variantes analisadas e comparadas pelos cientistas, segundo os quais o trabalho pode fornecer novas respostas sobre a caracterização genética da Europa e ainda ter implicações em vários campos de pesquisa, como a evolução humana e as ciências da saúde.
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