terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A grande espera - Carlos Heitor Cony


Folha de São Paulo
RIO DE JANEIRO - Não sei se é verdade, mas, pouco antes de morrer, Arthur C. Clarke, autor de "2001 - Uma Odisseia no Espaço", que trabalhou com Stanley Kubrick para fazer o filme homônimo, disse que toda a ficção científica, inclusive a que ele fabricou -com o HAL 9.000, que já tinha sentimentos e reações humanas-, seria um carro de boi comparado a uma Ferrari de última geração.
E disse mais: no dia em que a tecnologia chegasse a produzir um equipamento capaz de superar a inteligência humana em todos os níveis, qual a primeira coisa que esse monstro faria? Resposta: um novo computador mais adiantado e perfeito, jogando no lixo o anterior.
Nos anos 70, a Ediouro me encomendou uma adaptação do romance "As Maravilhas do Ano 2000", de Emilio Salgari (1862-1911), que foi uma espécie de Júlio Verne italiano, também mestre da ficção científica. Nesse livro, a novidade mais sofisticada da técnica humana era a eletricidade, capaz de substituir os lampiões, acendendo lâmpadas que iluminariam a noite do mundo.
É conhecida a história do computador mais adiantado de nossa época. Alguém perguntou a ele se Deus existia. A resposta foi: "Agora existe!". Pessoalmente, acredito que a tecnologia é capaz de produzir coisas fantásticas, espero que um dia seja possível saber onde estão os ossos de Dana de Teffé. Alguém já disse que o passado não existe, o futuro é uma visão alucinada e o presente escapa da compreensão humana. Por isso, o mensalão não existiu (passado), o dinheiro do pré-sal é um delírio (futuro) e não entendemos a dosimetria do STF (presente).
Para mim, é um consolo: não acredito no passado, nada espero do futuro e nunca fui capaz de compreender o presente. Por exemplo: como é possível um governo ignorar o que está acontecendo em suas próprias entranhas?

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