Paloma Oliveto
Estado de Minas: 06/01/2013
Durante mais de mil anos, o Império Romano do Oriente, também conhecido como Bizâncio, foi o senhor do mundo antigo. Alvo de constantes ataques inimigos, pode ter sido derrotado não por um poderoso Exército, mas por um micro-organismo invisível. Depois de comparar o genoma de mais de 300 cepas modernas da bactéria Yersinia pestis, que causa a peste bubônica, com amostras do século 14, pesquisadores da Universidade de Tubingen, na Alemanha, acreditam que foi esse o agente causador da praga de Justiniano. A primeira pandemia documentada da história matou 25 milhões de pessoas entre 541 e 542 d.C. e, de acordo com especialistas, foi um acontecimento crucial para a queda do Império Bizantino, em 1453.
Em outubro do ano passado, a equipe de Johannes Krause publicou artigo na revista Nature relatando o sequenciamento de 99% do genoma da bactéria Y. pestis, a mesma que eclodiu novamente em 1347, devastando o continente europeu. A análise genética foi feita a partir de amostras de quatro pessoas mortas há mais de 700 anos, cujos esqueletos, enterrados em uma vala comum, foram escavados na década de 1980 e enviados ao Museu de Londres. Dos fragmentos de ossos e dentes os cientistas retiraram 30ml de material genético.
A comparação dos genomas moderno e antigo da Y. pestis mostrou que em 275 cepas contemporâneas há traços da pandemia medieval da peste negra. Agora, em um novo estudo publicado na revista PLoS One, a equipe de Krause identificou 11 variantes da bactéria que podem ter evoluído de uma linhagem ainda mais antiga, do século 7 d.C. ao 10 d.C. Isso sugere que a Y.pestis já circulava na ocasião da praga de Justiniano. “Nossa nova análise implica que a peste bubônica estava ativa no fim do Império Romano. Ela parece a melhor candidata para a praga de Justiniano”, conta Krause.
A comparação dos genomas moderno e antigo da Y. pestis mostrou que em 275 cepas contemporâneas há traços da pandemia medieval da peste negra. Agora, em um novo estudo publicado na revista PLoS One, a equipe de Krause identificou 11 variantes da bactéria que podem ter evoluído de uma linhagem ainda mais antiga, do século 7 d.C. ao 10 d.C. Isso sugere que a Y.pestis já circulava na ocasião da praga de Justiniano. “Nossa nova análise implica que a peste bubônica estava ativa no fim do Império Romano. Ela parece a melhor candidata para a praga de Justiniano”, conta Krause.
Essa pandemia, cujo nome remete ao governante Justiniano, atingiu o Bizâncio em seu apogeu. Depois da decadência de Roma, o vasto império conquistado muito antes de Cristo foi dividido e, no Oriente, ergueu-se a capital, Constantinopla. Quando Justiniano assumiu o poder, houve uma grande expansão territorial rumando para o Ocidente. Era como se a época de ouro dos césares estivesse prestes a voltar. Contudo, uma pandemia eclodiu, dizimando o Exército recém-reforçado e espalhando a fome pelo império. O historiador Procópio de Cesareia, um dos maiores do período bizantino, foi testemunha da praga, que, de acordo com ele, matava 10 mil pessoas por dia somente em Constantinopla, embora, hoje, a estatística pareça exagerada.
Ratos em navios Acredita-se que o agente patógeno tenha sido levado por ratos que entravam nos navios egípcios, os maiores fornecedores de grãos da capital bizantina. Não demorou para que todas as cidades portuárias controladas por Justiniano fossem atingidas, facilitando a resistência dos godos, que impediram a reconquista do Ocidente. O próprio imperador contraiu a doença, mas conseguiu sobreviver apenas para ver seus súditos e seu sonho de reconstruir Roma perecerem. De acordo com relatos de época, não havia mais cemitérios que dessem conta de tantos corpos em Constantinopla. Os cadáveres eram jogados ao mar ou empilhados nas ruas, e foi preciso contratar homens da cidade de Gálata para recolhê-los.
Quando os corpos começaram a se decompor, tornando insuportável a vida em Constantinopla, Procópio de Cesareia contou que Justiniano mandou colocá-los em navios e lançar fogo quando já estavam em alto-mar. Os sintomas relatados pelo historiador da antiguidade são compatíveis com os da peste bubônica: protuberâncias azuladas na pele (bulbos), febre, delírio, alucinação e a “sensação da proximidade da morte”. Em menos de uma semana, os doentes estavam mortos. “Há muito tempo os historiadores suspeitam que a praga de Justiniano foi uma pandemia de peste bubônica, mas até agora havia poucas evidências empíricas”, diz Krause, professor de Paleogenética da Universidade de Tuebingen. De acordo com ele, futuros estudos genéticos poderão mostrar, inclusive, que boa parte das pandemias históricas cujas causas continuam desconhecidas estão relacionadas a alguma cepa da Y. pestis.
Wyndham Lathem, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Feinberg, explica que as modernas técnicas de sequenciamento genético estão ajudando a descobrir como as bactérias evoluíram ao longo da história, adquirindo formas cada vez mais letais. De acordo com ele, identificar surtos antigos de pestes como a praga de Justiniano não apenas desvenda mistérios do passado, mas ajudam a pensar no presente. “A maioria das pessoas imagina as pragas como doenças históricas, mas elas ainda são um problema de saúde pública muito grave, tanto em populações humanas quanto em animais. A peste bubônica é extremamente perigosa e altamente virulenta. Sem tratamento, pode levar menos de cinco dias para matar”, diz. Lathem explica que, no grupo da bactéria Yersinia incluem-se males bastante atuais, como antrax, varíola e ebola.
Coautor do artigo publicado na PLoS One, Hendrik N. Poinar, pesquisador do Centro de DNA Antigo da Universidade de McMaster, concorda com Lathem. “Desde o ano passado, quando sequenciamos o genoma da peste negra, somos da opinião de que a Yersinia pestis faz parte da família de todas as cepas patógenas modernas”, afirma. Segundo Poinar, é importante sequenciar pragas antigas e compará-las às contemporâneas porque acredita-se que muitas doenças modernas são, na verdade, males do passado reemergindo. “Aprender mais sobre as doenças antigas pode nos ajudar a salvar vidas tanto agora quanto no futuro”, afirma.
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