Bruna Sensêve
Estado de Minas: 11/03/2013
O combate à obesidade infantil nos Estados Unidos — intensificado nos últimos anos, desde que a primeira-dama, Michelle Obama, abraçou a causa — é baseado principalmente em obrigações e estratégias legais que garantam o abastecimento de lanchonetes e refeitórios escolares com alimentos frescos e nutritivos. No entanto, o aumento da disponibilidade de frutas, vegetais, sucos naturais e leite nas cantinas não significou uma melhora na dieta dos estudantes. A preferência por refrigerantes, pizzas, hambúrgueres, tacos e batatas fritas se manteve quase intacta. Em outras palavras, os alimentos saudáveis só chegaram aos olhos das crianças e dos adolescentes, não à boca. É como diz o lema adotado pelos pesquisadores Andrew Hanks, David Just e Brian Wansink, da Universidade de Cornell, em Nova York: “Para ser nutritivo, é preciso ser engolido”.
O trio é responsável por uma estratégia que se mostrou surpreendentemente eficaz em convencer alunos americanos a escolherem opções saudáveis na hora do lanche. E o melhor: a transformação realizada nos refeitórios escolares pode ser feita em menos de três horas e por menos de U$ 50 (cerca de R$ 98). Os resultados positivos alcançados pelo grupo, que trabalha no Centro Cornell de Economia Comportamental em Programas de Nutrição Infantil, estão publicados no Jornal de Pediatria, dos EUA.
Os especialistas estudaram os efeitos de pequenas intervenções, apelidadas de “reforma do refeitório inteligente”, em duas escolas no oeste de Nova York que atendem alunos de 7 a 12 anos. Para medir o impacto antes e depois da transformação, os pesquisadores registravam o que era deixado nas bandejas depois do almoço. Os resultados surpreenderam.
O percentual de alunos que preferiram frutas aumentou em 13% depois da intervenção, e aqueles que optaram por se servir de vegetais, em 23%. A diferença não foi registrada só na hora de escolher o lanche. O número de estudantes que concretamente consumiram pelo menos metade da porção de vegetais que foi para o prato também cresceu (24,5%), assim como os que consumiram a porção inteira (9,8%). Dados tão animadores quanto esses foram registrados também para o consumo de frutas, 17,9% e 15,8% , respectivamente.
Segundo Hanks, esses resultados são uma prova de que intervenções baratas e rápidas (veja as medidas adotadas na ilustração) também são efetivas para influenciar um comportamento mais saudável. “Isso não só preserva a escolha, mas tem o potencial de levar as crianças a desenvolver o hábito de selecionar e consumir alimentos mais saudáveis ao longo da vida, mesmo quando confrontadas com opções menos saudáveis”, avalia.
Opção para o Brasil A má alimentação escolar não é uma exclusividade norte-americana. De acordo com dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitica (IBGE), 21% dos alunos brasileiros do 9º ano não haviam colocado um só pedaço de uma fruta fresca na boca nos sete dias anteriores à pesquisa. Mais de um quarto do total deles também disseram não ter consumido hortaliças. Por outro lado, apenas 8% deixaram de comer guloseimas, e somente 11,6% não tomaram refrigerante no mesmo período. Segundo o nutricionista Aldemir Mangabeira, mestre em nutrição humana pela Universidade de Brasília, no âmbito escolar há vários códigos subjetivos de aceitação social que atuam com muito mais força do que o imaginado, inclusive para o lanche levado para a escola ou o prato montado no refeitório.
Mangabeira acredita que as estratégias estudadas pelos pesquisadores americanos podem traçar uma nova dinâmica de escolha entre os alunos. Ele compara a iniciativa de dar nomes criativos aos pratos com a ação de chefs em restaurantes requintados que também escolhem cuidadosamente o nome que descreve suas criações. O artigo da Universidade de Cornell mostra que esse tipo de mudança foi muito bem recebida pelos estudantes. O consumo de brócolis, por exemplo, aumentou só com o acréscimo do adjetivo “crocante” à placa de identificação.
“É válido fazer apelos de ordem sensorial, como crocante, cremoso”, descreve Mangabeira. “Nossos debates confirmam a importância do aspecto visual, da ordem como os itens estão dispostos e os apelos de marketing que podem ser associados aos alimentos saudáveis”, enumera o nutricionista. Segundo ele, os pratos atraentes têm mais chance de ser escolhidos. É um princípio da nutrição que diz: come-se primeiro com os olhos.
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