FOCO
Em dois anos, Sérgio Florindo, 52, que perdeu visão por problema congênito, ouviu quase metade dos 1.189 audiolivros de instituição
Sérgio Florindo, 52, é cego desde o nascimento e, com a audição, devorou em dois anos quase metade da coleção de 1.189 audiolivros disponíveis na instalação que completou três anos no mês passado e já foi visitada por quase 1 milhão de pessoas.
"Não aprendi braile na infância. Tinha vergonha de ser cego e escondia isso. Amigos ajudavam emprestando seus olhos e liam para mim", diz.
O primeiro livro que o ex-trabalhador de estoque de perfumaria, hoje aposentado, teve contato foi "A Morte e a Morte de Quintas Berro D'Água", de Jorge Amado.
"Um grande companheiro leu tudo para mim. Foi emocionante e me apaixonei por literatura. Mas, na vida adulta, foi ficando complicando achar voluntários", lembra.
A guinada na vida literária veio só aos 50, quando a filha Larissa, 26, tecnóloga de gestão da tecnologia da informação, descobriu os audiolivros na biblioteca perto de casa.
É ela quem leva o pai até o Parque da Juventude, na zona norte, para se encontrar com seus autores favoritos: Graciliano Ramos, Miguel de Cervantes e Carlos Drummond.
Em média, Florindo escuta dez livros por semana. O recorde foram três em um dia. "Nós cegos não vemos o tempo passar", brinca ele, que perdeu a visão por um problema congênito na retina.
POUCOS TÍTULOS
Ele lamenta o "baixo número de títulos" disponíveis em áudio. "Deveria ser obrigatório que todo livro lançado tivesse versão em áudio, o que mudaria muitas vidas."
Na semana passada, recebeu certificado de conclusão do ensino médio, após ter tido bom resultado no Enem. Pretende fazer faculdade de comunicação. "Os livros trazem imagens novas para o meu mundo. Consigo criar conceitos inéditos de lugares, de pessoas e de fatos."
Nenhum comentário:
Postar um comentário