Aparelho de última geração de tomografia por emissão de pósitrons diminui sensivelmente a exposição de pacientes à radiação
Carolina Lenoir
Estado de Minas: 11/03/2013
Um
prédio bem cuidado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) abriga um dos mais modernos equipamentos de
tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT) da América Latina, que
reduz expressivamente a exposição dos pacientes à radiação e obtém
imagens de alta resolução. Ele faz parte de um trabalho de ponta
realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina
Molecular (INCT MM), que aplica a tecnologia na identificação de doenças
em diferentes estágios, na realização de pesquisas avançadas para
melhorar o conhecimento sobre as enfermidades e no desenvolvimento de
tratamentos mais efetivos. Tudo isso desencadeia inovações como a
produção inédita no Brasil de um marcador para identificar inflamações
no sistema nervoso, que deve estar disponível até o mês que vem e será
produzido na Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos (UPPR) do
Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN).
O
instituto é um dos centros de pesquisa brasileiros criados a partir de
um programa do governo federal por meio do Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), com o objetivo de desenvolver a pesquisa científica no
país. No estado, o programa é financiado também pela Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A UFMG conta com outros
sete institutos, de diferentes áreas do conhecimento. Entre as linhas
de estudo dos cerca de 40 pesquisadores do INCT MM está a investigação
de anormalidades moleculares e celulares específicas ligadas à
ocorrência de doenças graves e complexas, como diversos tipos de câncer e
problemas associados ao sistema nervoso central.
Um dos
principais focos de atuação do instituto usa a tecnologia PET, comprado
com boa parte dos cerca de R$ 10 milhões recebidos por meio de
financiamento. Entre os projetos em que o equipamento é usado estão
estudos na área da oncologia, no diagnóstico e acompanhamento do
tratamento de câncer de mama, pênis, próstata, linfoma, colón e reto e
neurofibromatose; e na neuropsiquiatria, em pacientes com transtorno
bipolar, demência, psicose e epilepsia refratária. Em breve, devem ser
aplicados também em estudos de neuroinflamação por toxoplasmose cerebral
e lúpus.
Em Belo Horizonte, esse equipamento está disponível
também no laboratório Hermes Pardini, em uma versão menos avançada. A
aquisição era a proposta inicial do instituto, assim como a construção
do Centro de Imagem Molecular (CIMol), inaugurado em maio de 2011. É lá
que os pacientes, sejam voluntários aprovados nos protocolos de estudos
ou particulares, fazem o exame, que depende dos marcadores produzidos no
CDTN.
ALTA PRECISÃO O CDTN abriga um moderno acelerador de
partículas, conhecido como ciclotron, responsável pela produção de
medicamentos marcados com partículas radioativas, os radiofármacos. Eles
são usados nos exames PET e garantem diagnósticos por imagem de alta
precisão. O professor Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do
instituto, explica que o radiofármaco mais usado até então é o FDG, ou
fluorodeoxiglicose, marcado com o flúor-18, semelhante à glicose.
"Trata-se de um marcador com meia-vida de duas horas, ou seja, perde 50%
de suas propriedades a cada 120 minutos. No fim de fevereiro, o centro
passou a disponibilizar outro marcador, a metionina marcada com
carbono-11, que é eficaz também para o diagnóstico de câncer. O carbono
tem uma meia-vida ainda menor que o flúor e em 20 minutos perde 50% da
sua atividade", afirma o coordenador.
De acordo com Romano-Silva,
as células cancerígenas captam muita glicose e o FGD pode detectar a
doença em estágios iniciais. Por outro lado, o carbono-11 pode ser usado
para marcar qualquer molécula orgânica, como a metionina. O flúor, por
sua vez, pode alterar a função dos compostos marcados. Com isso,
abriu-se um leque maior para o diagnóstico, que vai ser ainda mais
ampliado com o marcador de neuroinflamações a ser produzido em breve,
por meio do módulo de síntese do carbono-11, adquirido pelo INCT-MM.
O
professor explica que os precursores, compostos usados para as reações
químicas que resultam na produção do marcador radioativo, são adquiridos
em laboratórios comerciais, se forem mais comuns, ou, no caso dos mais
recentes, diretamente com o pesquisador que faz a síntese. Por conta da
legislação atual, todo o transporte dos marcadores entre o CDNT, que
fica na região da Pampulha, e o INCT MM, no Bairro Santa Efigênia,
Região Leste de BH, é feito por carro. "Em motos seria mais ágil, o que é
imprescindível para esse tipo de material, mas uma licença especial
seria necessária.”
O controle de qualidade também é intenso. O
marcador sai do CDTN em um cofre revestido de chumbo e só é aberto no
instituto, quando os resultados do controle de qualidade, feito enquanto
o trajeto é realizado, são liberados. Só assim é passada uma senha para
abrir o cofre, de onde se retira o radiofármaco, que é injetado no
paciente. O tempo de captação é de uma hora e o exame pode demorar de 10
minutos a meia hora. Segundo Romano-Silva, os pacientes são
encaminhados por médicos (oncologistas, geriatras, psiquiatras etc.) ou
pelos ambulatórios da Faculdade de Medicina. Eles devem atender os
critérios dos protocolos de cada projeto para participar dos estudos.
Atualmente,
mais de 90% dos pacientes atendidos fazem o exame gratuitamente. Os
recursos dos pagantes, por outro lado, são importantes para a
sustentabilidade do instituto, já que o programa de financiamento do
governo está em seu último ano e o processo de renovação ainda não foi
iniciado pelos órgãos de fomento. O valor do exame é de cerca de R$ 3
mil e a sua realização pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não foi
autorizada, enquanto os planos de saúde que o cobrem em geral pagam
apenas um exame por ano. Os recursos são geridos pela Fundação de
Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep).
Saiba mais
Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs)
Em
2008, o Ministério de Ciência e Tecnologia anunciou a criação de mais
de uma centena de INCTs, selecionados a partir de edital. Os projetos
foram distribuídos em 19 áreas consideradas estratégicas para o país,
como biotecnologia, saúde, biocombustíveis, agronegócio, segurança
pública e educação, entre outras. Além de mobilizar e agregar os
melhores grupos de pesquisa brasileiros, os INCTs têm como objetivos
estimular a formação de pesquisadores e contribuir para a melhor
distribuição da pesquisa científico-tecnológica no país.
Linhas de pesquisa
Além
das atividades em torno do equipamento de tomografia por emissão de
pósitrons (PET/CT), o instituto conta com outras linhas de pesquisa,
como estudos de longevidade e alterações metabólicas em função do uso de
medicamentos como antipsicóticos, feitos em animais como peixe
paulistinha (zebrafish) e nematódeos (C. elegans), que têm algumas
estruturas parecidas com a de humanos. Além disso, conta com outros
equipamentos de ponta para avaliar, diagnosticar e tratar pacientes, por
exemplo, com déficit de atenção e hiperatividade e depressão, entre
outros. Outro ponto interessante é a possibilidade de financiar
projetos-pilotos de pesquisadores, a fim de ajudar na captação de mais
recursos para dar continuidade à pesquisa.
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