segunda-feira, 11 de março de 2013

Escolha do nome indica perfil e missão na Igreja - Gustavo Werneck


Estado de Minas: 11/03/2013 


– Aceitas tua eleição canônica como Sumo Pontífice?, – pergunta o cardeal diácono, em nome de todo o colégio de eleitores, ao papa eleito.
– Aceito em nome do Senhor.
– E como quer que te chamemos?

Quando dá a resposta, ao fim do conclave, o papa eleito mostra a sua escolha e pode indicar também, com o novo nome, o seu rumo na Igreja Católica. Ao ser eleito, em 19 de abril de 2005, Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, se tornou Bento XVI. “São Bento é o padroeiro da Europa e, dessa forma, o Santo Padre, num primeiro momento, demonstrou ao mundo que algumas das suas grandes preocupações eram a secularização, a indiferença religiosa e o ateísmo que ameaçavam o coração dos fiéis no continente”, conta o padre Luís Henrique Eloy e Silva, professor de exegese bíblica da PUC Minas, em Belo Horizonte, e assessor da Comissão de Doutrina da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Mais duas razões tiveram peso na decisão do papa, conforme declarou, na época, o cardeal de Viena Christoph Schönborn: o fato de São Bento ter sido um homem de grande fé e ter Cristo como centro de sua vida.

Para mostrar essa relação estreita entre a escolha do papa e o trabalho que ele vai desenvolver até o fim dos seus dias – ou até que renuncie –, o padre Luís Henrique cita a frase em latim “Nomen omen est”, que significa “O nome traz uma missão consigo”. No caso de João Paulo I (1912–1978), apelidado de Papa Sorriso e falecido um mês depois de eleito, houve uma dupla homenagem. “Ao papa João XXIII (1881–1963), que era um homem de grande bondade e convocou o Concílio Vaticano II (1962–1965), e a Paulo VI (1897–1978), empenhado em continuar a missão do seu antecessor”, explica padre Luís Henrique, que estudou durante oito anos em Roma e, em 2008, foi nomeado, por Bento XVI, perito no sínodo sobre a palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, no Vaticano.

João Paulo II (1920–2005) gostou da ideia, veio nessa linha e manteve a tradição no nome, embora tenha inaugurado a era dos papas peregrinos, mostrando, em vários cantos da terra, no Brasil inclusive, um enorme carisma. “Vamos esperar o nome que Sua Santidade vai escolher, pois, de imediato, vai nos apontar a trilha que pretende seguir”, diz o padre. As preocupações do Sumo Pontífice poderão se voltar para uma reforma interna da Igreja, grandes questões fora dela ou para uma ponte entre as dificuldades internas e o diálogo com o mundo pós-moderno. Ao longo dos séculos, os nomes adotados com mais frequência pelos eleitos são: João (23 vezes), Gregório e Bento (16), Clemente (14), Inocêncio (13), Leão (13), Pio (12), Estêvão e Bonifácio (9) e Urbano e Alexandre (8).

PIONEIRO Nos primeiros tempos, os papas não mudavam de nome, tanto que Pedro, o fundador da Igreja, permaneceu Pedro até ser canonizado e se tornar São Pedro. O pioneiro foi o papa João II, líder dos católicos entre 533 e 535, e que resolveu adotar o nome de um pontífice anterior. O motivo para a troca era bem oportuno: os pais o batizaram Mercúrio, nome de uma divindade pagã, e não ficava bem um papa evocando a mitologia greco-romana. O legado maior de João II foi a regulamentação da eleição dos papas.

Quatrocentos e cinquenta anos depois, foi a vez de um cardeal chamado Pedro Canepanova ter a mesma ideia. Mas, na hora de trocar de nome, viu que ficaria mal ser o papa Pedro II, um nome exclusivo do primeiro vigário de Cristo na terra. Então se tornou João XIV. Padre Luís Henrique explica que a troca de nome só se tornou comum a partir de 1009. A única exceção foi para o papa Marcelo II, nascido Marcelo Cervini e que, ao ser escolhido em 1555, preferiu manter o nome de batismo.

NÃO ACEITO

O curioso é que ao ser perguntado pelo cardeal diácono se aceita ser papa, o eleito pode simplesmente responder: “Não”. Paciência, pois deverá ser feita nova votação. Se a resposta for sim, ele receberá o ato de obediência dos cardeais, que, segundo a reforma feita por João Paulo II, não é mais feita de joelhos, mas de pé. Depois disso, as cédulas com os votos serão queimadas e, logo em seguida, a fumaça branca riscará os céus romanos ao som dos sinos da Basílica de São Pedro anunciando que habemus papam! (temos um papa). Na sequência, o primeiro dos diáconos irá à varanda da basílica para dizer: “Anuncio-vos com a maior alegria! Temos papa! Eminentíssimo e reverendíssimo senhor, senhor (primeiro nome), cardeal da Igreja Católica Romana (sobrenome) que escolheu para si o nome de (nome papal).

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