Sábado no parque
É show o anexo da nova sede do MAC, aberto ao público com obras de Carlito Carvalhosa e Mauro Restiffe
NO SÁBADO passado, o Parque Ibirapuera ganhou mais um motivo para ser feliz. Do outro lado da passarela, a nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP deu um passo importante para se integrar, enfim, à vida cultural da cidade.
Com exposições dos artistas Carlito Carvalhosa e do fotógrafo Mauro Restiffe, foi aberto ao público o anexo original do edifício, projeto de Oscar Niemeyer entregue à cidade em 1954. Foi feito para ser o Palácio da Agricultura, integrado ao belo conjunto do parque, concebido pelo arquiteto para marcar as comemorações do quarto centenário de São Paulo.
A partir de 1959, como se sabe, o prédio passou a servir de sede para o Detran, até que se decidisse por uma reforma para abrigar o MAC, que se divide entre o campus universitário e um pedaço do Pavilhão onde acontece a Bienal. Prevista para acontecer em 2009/2010, a transferência foi adiada em razão de percalços burocráticos, políticos e técnicos. O atraso naturalmente gerou -e ainda gera- cobranças e explica em parte a nota de irritação com que alguns têm tratado o empreendimento.
Antes da mostra de Carvalhosa e Restiff, já havia sido aberta em janeiro uma exposição, no térreo, com 17 esculturas, que marcou o início do funcionamento parcial do museu.
O espaço inaugurado no sábado é show. São cerca de 1.800 m², com térreo e mezanino, que serão dedicados integralmente à arte contemporânea. A ideia de Tadeu Chiarelli, diretor do museu, é que o térreo receba sempre projetos "site specific" -ou seja, idealizados para ocupar integralmente aquele espaço. Já o mezanino poderá abrigar mostras, digamos, mais convencionais.
Os trabalhos de Carvalhosa, no térreo, e Restiffe, no mezanino, tomam o mesmo partido do diálogo com a arquitetura. No primeiro caso, o artista fixou 70 antigos postes de madeira entre as incontornáveis -e belas- colunas de Niemeyer. Presos entre si e fixados às paredes e às próprias colunas, os troncos atravessam o espaço e o redesenham numa impressionante trama de diagonais.
Já as 12 fotografias de Mauro Restiffe foram realizadas durante a reforma do anexo. Feitas em processo analógico, com a inseparável Leica do fotógrafo, as imagens em branco e preto, com grandes dimensões, nos propõem um jogo de espelho com o passado e o presente do lugar em que estamos. Além da remissão à arquitetura, as fotos também nos conduzem às ambiguidades entre representação documental e estética. O lugar, a fotografia do lugar em construção e o lugar da construção da fotografia.
O MAC, acredita Tadeu, estará inteiramente ocupado até o fim do ano.
Invisível aos olhos do público, já está pronta a área técnica, que vai abrigar o acervo, um dos melhores da arte brasileira, que conta também com preciosidades internacionais. É moderníssima e considerada de alto nível por quem entende do assunto.
Niemeyer participou da reforma da nova sede e consta que teria sugerido que se quebrassem pisos entre andares para aumentar o pé direito -que tem cerca de três metros, tamanho acanhado a depender da obra a ser exposta.
Os órgãos de preservação do patrimônio não deixaram. Ouviu-se à época que estariam protegendo a obra de Niemeyer do próprio Niemeyer. Além da arrogância, parece-me o tipo de preservacionismo tacanho, que não leva em conta o uso social da herança arquitetônica -parece desejar apenas colocá-la num vidro de formol.
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