Retomada irregular
Indústria se recupera em janeiro, mas ainda está distante dos picos de produção fabril atingidos quase dois anos atrás
A recuperação do crescimento neste ano depende, sobretudo, do comportamento da indústria, de um lado, e dos investimentos, de outro. Esses foram, afinal, os fatores diretamente responsáveis pelo decepcionante desempenho do PIB, com a minguada expansão de 0,9% no ano passado.As primeiras notícias sobre o desempenho industrial de 2013 são promissoras. Segundo o IBGE, a produção fabril cresceu 2,5% em janeiro, na comparação com dezembro de 2012, no indicador livre das variações sazonais.
Se o dado pudesse ser tomado por si só, como indicador de tendência, implicaria uma evolução da indústria nacional num ritmo muito forte, superior a 30% ao ano. Não é o que se depreende, contudo, da leitura em contexto do desempenho do setor.
A recuperação abate pouco do atraso na produção. Apesar de ter crescido, o volume de bens fabricados em janeiro de 2013 ainda está nos níveis dos dois últimos meses de 2011 e permanece 3% abaixo do pico, atingido em maio daquele ano. Ou seja, ainda será preciso crescer para atingirmos o patamar verificado quase dois anos atrás.
Se é indispensável produzir e investir mais para o Brasil acelerar seu crescimento, então a indústria de bens de capital -máquinas, equipamentos, estruturas- merece especial atenção neste ano.
A recuperação desse setor vital em janeiro foi mais forte ainda, de 8,2% em relação a dezembro. Ocorre que a distância para o auge, também registrado em maio de 2011, é de 10%.
Outro problema da retomada industrial é sua irregularidade. O impulso registrado em janeiro, liderado pelo setor automobilístico, provavelmente não se repetiu em fevereiro, como sugerem alguns indicadores preliminares. Analistas esperam estabilidade ou mesmo nova queda da produção fabril no segundo mês do ano.
Até pela fraca base de comparação -em 2012, a indústria recuou 0,8%, e os investimentos regrediram 4%-, os dados são compatíveis com a expectativa de que o Brasil cresça entre 3% e 3,5% neste ano. O controle da inflação, que já se aproxima do teto de 6,5% da meta anual, torna-se uma das principais ferramentas de curto prazo para garantir ao menos esse desempenho esperado do PIB.
O mais preocupante, contudo, é o conformismo em torno desse desempenho ainda fraco, embora melhor, da economia.
Sem almejar taxas regulares acima de 4% de crescimento anual do PIB, o Brasil não se tornará desenvolvido no horizonte das próximas gerações.
EDITORIAIS
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Destino conhecido
São inúmeras e notórias as ameaças a que está exposto o Estado de Israel. Desde sua fundação, em 1948, o país se viu objeto de agressões reiteradas, do ponto de vista militar, por parte de seus vizinhos -e de atos sistemáticos de terrorismo em seu próprio território.Traçar o histórico de todos esses ataques, bem como das reações (legítimas ou abusivas) que suscitaram, seria tarefa gigantesca e bem mais complexa do que a de registrar, simplesmente, a situação deplorável que, sob muitos aspectos, se cristalizou no país.
Sinal mais recente disso é a determinação das autoridades israelenses de implementar linhas de ônibus específicas para a população palestina. Nesta semana, dois veículos que faziam a ligação entre a Cisjordânia e Tel Aviv foram incendiados nas cercanias de um vilarejo árabe.
O protesto, prometido desde o anúncio do serviço, volta-se contra o caráter segregacionista da iniciativa. Ativistas de direitos humanos avaliam, com razão, que os ônibus exclusivos para trabalhadores palestinos representam um incremento na separação entre árabes e israelenses.
Trata-se de mais uma evidência daquele processo que tem seu maior símbolo na construção de um muro, com cerca de 700 km de extensão (a chamada barreira da separação), ao longo do território palestino ocupado (Cisjordânia e Jerusalém oriental).
Some-se a isso a humilhação cotidiana que representa, para os árabes que se deslocam na região, a obrigação de parar em diversas bases para inspeção de documentos e cargas, sob controle das forças de segurança israelenses.
Poderia ser diferente? A resposta não é fácil. Quando são reais as ameaças de ataque terrorista, pode-se entender que, ao contrário do que se espera de um regime legal democrático, qualquer indivíduo venha a ser considerado suspeito até prova em contrário.
Mas os preconceitos, a tensão e o ódio só se alimentam com isso -acompanhando-se, na hipótese extrema, de mais estímulo à violência e ao terrorismo.
Iniciativas de espírito oposto -visando a aumentar a cooperação e o entendimento cultural entre as duas populações- têm sido empreendidas por militantes de direitos humanos e pelas organizações que resistem à mentalidade de "falcão", mais agressiva, predominante na política de Israel.
Seria ingênuo esperar demais dos apelos à boa vontade quando o impasse territorial, religioso e militar é concreto. Mas é certo que esses ônibus, com seu lastro de segregação e ressentimento, não levam a lugar nenhum.
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