Pesquisa mostra que 60,4% das pessoas da região estão em idade economicamente ativa,
maior percentual entre as metrópoles brasileiras. Indicador favorece o baixo desemprego
Paulo Henrique Lobato
Estado de Minas: 11/03/2013
Seis
em cada 10 moradores da Grande BH fazem parte da chamada População
Economicamente Ativa (PEA), indicador que leva em conta tanto o universo
de trabalhadores quanto o de quem está à procura de emprego. É o maior
percentual (60,4%) entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): além de BH,
Recife (51,4%), Salvador (54,8%), Rio de Janeiro (55,1%), São Paulo
(59,6%) e Porto Alegre (57,2%). Os índices, compilados pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), significam que na capital mineira e
entorno há um grande volume de mão de obra à disposição das empresas.
Mas empresários alertam que quantidade não é sinônimo de qualidade e que
muitos setores, como o de comércio e o da construção civil, penam com a
falta de trabalhadores capacitados.
O IBGE tabulou a PEA das
seis regiões nos últimos 10 anos e concluiu que o indicador subiu 27,5%
na Grande BH – em 2003, a capital mineira ocupava a quarta posição
(56,3%). Uma das consequências desse crescimento é a manutenção da taxa
de desemprego na Grande Belo Horizonte em nível baixíssimo se comparado
com a média nacional. Para se ter ideia, em janeiro passado a taxa foi
de 4,2% na capital mineira e de 5,4% no restante do Brasil. É mostra de
que a economia da Grande BH está aquecida, principalmente, em razão da
dupla comércio e serviços, que responde por 83% do Produto Interno Bruto
(PIB) da capital.
“O setor comércio/serviços é muito forte na
Grande BH”, reforça Luciene Longo, analista do IBGE. Uma das moradoras
da capital que se deram bem nesse ramo foi Myrian Buenos Aires Moutinho.
Em 2012, ela se tornou sócia da PwC, que presta consultoria para
centenas de empresas do Brasil e do exterior. Formada em ciências
contábeis, ela entrou na empresa, há 15 anos, como trainee. Sua
dedicação e competência a fizeram subir alguns cargos na PwC, que
emprega cerca de 150 pessoas em Belo Horizonte. E o número deve aumentar
nas próximas semanas, pois, até 25 de março, a organização estará
recebendo inscrições para preenchimento de 15 a 20 vagas.
MEIA
IDADE “É um caminho em que a pessoa precisa se superar a cada dia, se
preparar sempre”, orienta Myrian, que tem 37 anos. A PEA da faixa etária
na qual ela se encontra, de 25 a 49 anos, foi a segunda que mais
cresceu entre os grupos pesquisados pelo IBGE, no período de 10 anos, na
Grande BH. De 2003 a 2012, a população economicamente ativa na capital
mineira e cidades vizinhas subiu 26,8%. Novamente foi o maior avanço
entre as regiões metropolitanas. A faixa etária com maior variação nesse
intervalo foi a do grupo de homens e mulheres com mais de 50 anos, numa
mostra de que a expectativa de vida do brasileiro está aumentando e de
que muitos trabalhadores se aposentam e continuam na ativa.
Tanto
é que, na última semana, outro estudo do Ipea concluiu que os homens,
depois de se aposentarem, trabalham em média por mais sete anos e três
meses. As mulheres, mais cinco anos e quatro meses. “Quem tem 60 anos de
idade, nos dias de hoje, é diferente de quem tinha 60 anos há algumas
décadas. O pessoal está cuidando mais da saúde”, avalia Luciene Longo,
do IBGE. No estudo, os técnicos do instituto concluíram que “em dez
anos, o aumento da participação do grupo de 50 anos ou mais de idade
(61,2%) foi o mais expressivo, tendo sido verificado em todas as regiões
metropolitanas, com destaque para Salvador e Belo Horizonte, com
crescimentos de 88,7% e 83,5%, respectivamente. As menores variações no
período foram registradas no Rio de Janeiro (45,5%) em Porto Alegre
(50,9%)”.
JOVENS Curiosa é a variação da PEA na faixa etária de
18 a 24 anos. A Grande BH foi a única região com taxa positiva entre
2003 e 2012 (0,5%). “Já é reflexo da queda de fecundidade desde a década
de 1970. Tanto é que a pirâmide etária está em forma de botijão, mais
gordinha no centro, porque, cada vez, estão nascendo menos crianças. É o
bônus demográfico, ou seja, a população ativa em relação aos inativos
está maior”, completou Luciene. Outra fato que não pode ser ignorado é
que a abertura de várias faculdades em todo o país possibilita aos
jovens dessa faixa etária se dedicarem mais aos estudos antes de
enfrentarem o competitivo mercado de trabalho.
Mas falta mão de obra para várias profissões
O fato de grande
parte da população ser economicamente ativa não significa que os
empresários estão tranquilos quanto à qualificação de profissionais para
determinadas funções. Um dos principais exemplos vem do comércio, setor
de grande importância no Produto Interno Bruto (PIB) da capital
mineira. Quem passa em frente a vitrines de lojas costuma ver placas ou
cartazes informando: precisa-se de vendedores. Situação semelhante
ocorre na construção civil e no ramo de bares e restaurantes.
“O
comércio sofre com a falta de mão de obra especializada. Encontrar
pessoas para trabalhar é até tranquilo. O problema é conseguir gente
comprometida, capacitada”, reforça Gabriel de Andrade Ivo, economista da
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas
Gerais (Fecomércio-MG). “É uma área que tem uma rotatividade muito
grande, o que pode ajudar a explicar essa questão”, acrescentou Luciene
Longo, do IBGE.
O gerente de uma grande rede, que prefere o
anonimato explica que um dos problemas do varejo é que há trabalhadores,
principalmente jovens, que torcem o nariz ao saberem que precisam
trabalhar aos sábados e, no último bimestre do ano, época que o setor
mais fatura, às vezes aos domingos. Problemas semelhantes são
enfrentados por bares e restaurantes. E o setor tem um agravante:
precisa oferecer atendimento de qualidade para os turistas que virão a
BH para as copas da Confederação (2013) e do Mundo (2014).
No
Restaurante do Porto, com três casas na capital e cerca de 100
funcionários, o sócio Leonardo Duarte explica que contratou oito pessoas
nos últimos dois meses. A saída para conseguir mão de obra capacitada,
revela, é empregar pessoas cruas na função e ensiná-las o serviço.
“Empregamos a pessoa e vemos se ela tem qualidade, vontade de trabalhar.
Então, a treinamos. Por exemplo, contratamos uma pessoa como ajudante
de cozinheiro e a treinamos para, daqui a algum tempo, ela ser
cozinheira”, disse Leonardo.
De olho nos eventos internacionais
que vão ocorrer na capital, Leonardo e o pai, José Costa Duarte
Saldanha, fundador da rede, oferecem cursos de inglês e espanhol para os
funcionários. “Vamos moldando o colaborador. Além das oito vagas
preenchidas nos últimos meses, temos três em aberto”, disse o filho.
Por
outro lado, o rendimento dos profissionais da Grande BH também subiu.
Relatório do IBGE, que comparou o indicador apurado em janeiro de 2013
com o do mesmo mês do ano anterior, destacou que “o rendimento registrou
alta em Belo Horizonte (5,2%)”. Foi a maior entre as regiões
pesquisadas. Para se ter ideia, o indicador variou menos em São Paulo
(4,1%), no Rio de Janeiro (2,8%) e Porto Alegre (2,6%), ficando estável
no Recife e apresentando queda em Salvador (10,9%). (PHL)
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