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Chimpanzés conseguem trabalhar em equipe
Primatas ajudam parceiro a realizar uma
tarefa quando o desempenho do outro é essencial para alcançar um
objetivo. Resultado indica que capacidade de produzir em grupo é
característica evolutiva
Estado de Minas: 20/03/2013
Olhe para
as grandes obras da humanidade — das pirâmides do Egito ao robô
Curiosity, que explora Marte neste momento — e você verá o resultado de
uma das características mais importantes do homem: a capacidade de
trabalhar em equipe. Enquanto especialistas de recursos humanos quebram a
cabeça para desenvolver novas formas de produzir em grupo, propondo
modernos sistemas de colaboração, um time de especialistas da Escola de
Administração da Universidade de Warwick, no Reino Unido, e do Instituto
Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, decidiram olhar para
o passado e descobrir quando surgiu esse potencial de unir esforços e
coordenar ações para chegar a determinado objetivo. Concluíram que ele
foi herdado dos ancestrais do Homo sapiens, sendo, portanto, resultado
do processo evolutivo.
A tese do grupo de especialistas é
amparada em uma pesquisa com chimpanzés, os grandes primatas mais
parecidos com o homem. Em uma série de testes, os pesquisadores
observaram que os animais não só coordenam ações uns com os outros como
entendem a necessidade de ajudar um parceiro a desempenhar bem seu papel
para alcançar uma meta comum. Os resultados estão publicados na revista
Biology Letters desta semana.
No experimento, dois chimpanzés
precisavam trabalhar juntos se quisessem comer as uvas que estavam
dentro de uma caixa de plástico. A tarefa não era muito simples. Cada
animal era posicionado de um lado do recipiente. O que estava atrás da
caixa precisava usar um ancinho para empurrar as frutas até que elas
caíssem sobre uma plataforma. Então, cabia ao animal da frente passar
uma vara por um buraco e inclinar a plataforma, fazendo as uvas caírem
no chão para poderem ser devoradas. Sozinho, um animal não teria acesso a
todo o ambiente, logo não poderia alcançar às guloseimas.
Para
complicar ainda mais a missão, as duas ferramentas eram dadas a um dos
animais, que precisava perceber que tinha de passar um dos objetos para o
parceiro ajudá-lo. De 12 chimpanzés testados, 10 perceberam a
necessidade de dar ao companheiro uma das ferramentas para que ele o
ajudasse a concluir a tarefa. E em 73% das tentativas, os animais
acertaram qual a ferramenta mais adequada para o colega desempenhar sua
função de empurrar as uvas sobre a plataforma.
“Esse estudo
fornece a primeira evidência de que um dos nosso primos mais próximos
consegue prestar atenção às ações do parceiro em uma tarefa
colaborativa, e mostra que eles sabem que o colega não só precisar estar
ali como também deve realizar um papel específico para que ambos sejam
bem-sucedidos. A pesquisa deixa claro que esses animais podem trabalhar
juntos de uma maneira estratégica, pensando não apenas que é necessário
agir em conjunto, mas também que cada um deve fazer sua parte para
obterem sucesso”, diz , em um comunicado, Alicia Melis, coautora do
artigo e professora assistente de ciência comportamental na Universidade
de Warwick.
Segundo a especialista, houve uma grande diferença
individual em relação a quão rapidamente o animal que recebeu as
ferramentas transferiu uma delas para o outro primata. No entanto, assim
que essa transferência ocorria uma vez, em testes seguintes ela ocorria
em 97% das vezes. “Embora chimpanzés, geralmente, sejam muito
competitivos quando buscam ter acesso a alimentos e prefiram trabalhar
sozinhos e monopolizar a comida, o experimento mostra que eles estão
dispostos e são capazes de apoiar um parceiro quando o sucesso próprio
depende do outro.”
Ancestral comum Na opinião de Melis, o fato de
os animais expressarem a capacidade colaborativa é um forte indício de
que ela se trata de uma característica evolutiva. “Essas são habilidades
encontradas tanto nos chimpanzés quanto nos homens, logo essas
capacidades podiam estar presentes no ancestral comum das duas espécies,
antes de os homens desenvolverem a própria e complexa forma de
colaboração”, prossegue Melis.
Ela ressalta que o tipo de ação
exigida dos primatas durante o experimento é bem mais complexa que
trabalhos em grupo observados em outros animais. “Muitas espécies
cooperam para alcançar objetivos de benefício mútuo, como defender um
território ou caçar uma presa. Contudo, o nível de coordenação
intencional permeando essas ações é geralmente obscuro. O sucesso da
empreitada poderia estar relacionado a ações independentes visando a
mesma meta”, argumenta a cientista.
Ética
Os
animais que participaram do experimento vivem no Santuário de
Chimpanzés Sweetwaters, no Quênia, que fornece refúgio a animais órfãos
apreendidos enquanto eram comercializados ilegalmente. Segundo os
autores, a pesquisa foi aprovada por comitês de ética do santuário e por
autoridades quenianas. Em nenhum momento os animais foram impedidos de
se alimentar ou de beber água, e eles podiam deixar de participar da
tarefa a qualquer momento.
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