quarta-feira, 20 de março de 2013

"Graciliano Ramos - Estilo e Permanência"

folha de são paulo

Graciliano Ramos surge sedutor em filme
Cineasta Sylvio Back lança documentário sobre o autor de "Vidas Secas", morto há 60 anos, no É Tudo Verdade
Depoimentos retratam lado conquistador do escritor e trazem rumores de romance com Rachel de Queiroz
MARCO RODRIGO ALMEIDADE SÃO PAULOO Graciliano Ramos que conhecemos, ou julgamos conhecer, é um sujeito de poucos sorrisos, desconfiado, muitas vezes ríspido, um tanto quanto ranzinza e quase sempre autodepreciativo. Correta ou não, foi essa a imagem que "colou" no autor de "Vidas Secas" (1938).
Mas desde outubro do ano passado, data dos 120 anos de nascimento do autor, uma série de homenagens vem tentando iluminar nuances de sua personalidade.
A USP realiza hoje, quando a morte do escritor alagoano completa 60 anos, um colóquio sobre sua obra. Em abril, o documentário "O Universo Graciliano", de Sylvio Back, concorre no festival É Tudo Verdade.
Os festejos devem permanecer quentes até julho, ocasião em que Graciliano será o autor homenageado pela Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
Back vem pesquisando vida e obra de Graciliano (1892-1953) nos últimos dez anos.
No início a ideia era adaptar o romance "Angústia", que Graciliano publicou em 1936, para as telas. No processo de escrita do roteiro, releu os demais livros dele, visitou Alagoas e conheceu parentes e amigos do escritor.
A adaptação de "Angústia" foi suspensa, mas teve como fruto o documentário, ainda sem data de estreia no circuito comercial. "Tentei desvendar Graciliano numa espécie de road movie ao imaginário sobrevivente em torno dele."
O documentário reconstitui a vida do escritor de forma não cronológica, agrupando depoimentos, por exemplo, da única filha de Graciliano ainda viva, Luiza, hoje com 82 anos, e escritores como Lêdo Ivo ( 1924-2012) e Hélio Pólvora.
Em Palmeira dos Índios (AL), cidade onde Graciliano foi prefeito entre 1928 e 1930, Back encontrou um ex-engraxate de 102 anos e um ex-motorista de 92 que conheceram, ainda bastante jovens, o escritor e sua família.
NAMORICOS
Os depoimentos não trazem grandes análises literárias, mas compõem um retrato interessante e inusitado.
O historiador Ivan Barros conta histórias saborosas de Graciliano pulando muros em Palmeira dos Índios para encontrar as amantes.
Elizabeth Lins do Rego, filha do escritor José Lins (1901- 1957), era criança quando conheceu Graciliano e relata que ficou impressionada com o charme e a conversa dele.
Em vários depoimentos surgem rumores de paixões e "namoricos" do escritor, inclusive com a escritora Rachel de Queiroz (1910-2003).
Luiza, por sua vez, retrata o pai como um homem extremamente gentil, amoroso.
Lembra-se de ter visto Graciliano, já muito debilitado pelo câncer, chorando pela morte do líder comunista Joseph Stálin (1879-1953), em 5 de março de 1953. Graciliano morreria 15 dias depois.
O humor ácido do escritor também rende ótimas histórias. O jornalista Armênio Guedes certa vez perguntou o que ele achava de Jorge Amado. A resposta foi direta: "O Jorge escreveu algumas das melhores páginas da literatura brasileira, mas também muita porcaria".
O UNIVERSO GRACILIANO
DIREÇÃO Sylvio Back
QUANDO dias 11/4 (21h) e 12/4 (13h) no festival É Tudo Verdade
ONDE Cine Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073; 0/xx/11/3285-3696)

    Palestras buscam temas ocultos do autor
    DE SÃO PAULOO seminário "Graciliano Ramos - Estilo e Permanência" é promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP, que detém o acervo do escritor alagoano.
    O encontro de hoje começa com uma palestra do crítico literário Alfredo Bosi. Em seguida, os professores Alcides Villaça e Murilo Marcondes de Moura irão analisar obras que outros autores dedicaram a Graciliano.
    Villaça vai comentar "Máscara Mortuária de Graciliano Ramos", poema de Vinicius de Moraes de 1953 que traz versos como "Feito só, feito pó, desencantou-se/ nele o íntimo arcanjo, a chama interna/ da paixão em que sempre se queimou".
    "Graciliano tem sido lido numa chave só -a contenção, a secura, o comunista. Ele é muito mais amplo que isso. O Vinicius compreendeu bem essa paixão recolhida que havia nele", diz Villaça.
    O segundo tópico irá tratar da obra do escritor. O professor Luis Bueno vai enfocar "Vidas Secas" por um ângulo inusitado: o amor.
    "Certamente não vamos encontrar sentimentalismo. Em sua obra, o amor não está separado das contingências da vida. O afeto se mistura ao contexto político."
    Bueno vai comentar trechos do livro que vislumbram intimidades do casamento de Fabiano e Sinha Vitória e a relação deles com a cadela Baleia.
    Por fim, os escritores Francisco Dantas e José Luiz Passos reveem o legado de Graciliano na literatura. (MRA)
    GRACILIANO RAMOS: ESTILO E PERMANÊNCIA
    QUANDO hoje, das 9h às 18h
    ONDE Auditório da História -FFLCH-USP (av. Prof. Lineu Prestes, 338; tel. 011/3091-1149)
    QUANTO grátis

      SEMINÁRIO HOJE, NA USP
      9H - 10H30
      Palestra de abertura com Alfredo Bosi
      10H30 - 12H - ARQUIVO E MEMÓRIA
      Alcides Villaça e Murilo Marcondes de Moura Mediação: Erwin Torralbo
      14H30 - 16H - VISÕES E CRÍTICAS
      Luis Bueno, Hermenegildo Bastos e Elizabeth Ramos Mediação: Marcos Antonio de Moraes
      16h - 17H30 - RELEITURAS
      Francisco Dantas e José
      Luiz Passos
      Mediação: Fernando Paixão

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