ZERO HORA - 20/03/2013
É
cedo para saber como será a atuação política do papa Francisco. Porém,
assim que foi anunciado, ele não precisou nem de cinco minutos diante da
multidão que lotava a Praça de São Pedro para angariar uma simpatia
praticamente unânime. A minha, ao menos, foi instantânea, bastou para
isso a descontração do comentário de que o haviam achado quase no fim do
mundo – nada como o bom humor para congregar, aproximar, romper
carrancas e barreiras. A despeito da sua eleição para uma função de
tamanha relevância, estava ali, diante de todos, um homem, um
semelhante. Alguém familiar.
Não acredito que, a partir de
agora, os fiéis deixarão seus automóveis na garagem para andar de ônibus
(ainda que o trânsito e a poluição das cidades se beneficiariam muito),
ou que trocarão o uso do ouro pela prata, ou que reprisarão qualquer
outro gesto humilde já tornado público pelo Papa. No entanto, é preciso,
com urgência, captar o espírito dessa nova forma de exercer liderança.
Liderar
não tem nada a ver com arrogância e empáfia, mas muitos ainda acreditam
que sem pose e ostentação não se conquista o respeito dos outros. Um
engano lastimável. Pode-se no máximo conseguir subserviência através de
atitudes arrogantes, mas respeito é um valor muito mais profundo e que
só se cativa com honestidade – e se formos honestos, de fato honestos,
teremos que admitir que nossa importância é a mesma que a de qualquer
outra pessoa.
Podemos ter lido mais, vivido experiências
diversas, apreendido ensinamentos a que alguns não tiveram acesso, mas
de forma nenhuma isso justifica uma hierarquia dominadora. Aliás,
hierarquia é um conceito que me parece cada vez mais obsoleto.
Numa
relação vertical, o “superior” ordena e os “inferiores” cumprem, e
assim elimina-se a troca, que é o elemento mais necessário para a
evolução dos costumes, das nações e dos relacionamentos. Trocar é
horizontal. É o que possibilita o olhar, o diálogo e a identificação.
No
instante em que eu contribuo para a sociedade com o que sei, e aceito
que colaborem comigo na mesma medida, me ensinando o que não sei,
estabelece-se uma relação producente e o respeito mais absoluto, aquele
que não é fruto de imposição, mas de admiração sincera.
Então,
mesmo sem poder adivinhar como será o pontificado desse nosso hermano,
desde já me sinto otimista por ele trazer em seu semblante a doçura dos
que não se deixam levar pela vaidade e dos que não consideram a modéstia
uma fraqueza, e sim resultado de uma consciente avaliação de si mesmo:
somos todos iguais. Frágeis, é verdade, porém todos capazes de doar-se a
fim de tornar a vida mais fácil para aqueles que nos cercam. Essa é a
corrente universal que nunca deveria se romper, e que nos une (ou
deveria nos unir) inclusive para além das religiões.
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