Caminhão-museu percorrerá o Brasil para lembrar a trajetória dos movimentos da luta pela terra
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 18/03/2013
Uma parte da história do Brasil ganhou rodas, motores, boleia e baú. O
caminhão-museu Sentimentos da Terra vai percorrer o país para contar a
trajetória dos movimentos ligados à luta agrária.
Com curadoria
do renomado cenógrafo, arquiteto, designer e diretor de arte Gringo
Cardia, o projeto reúne videodocumentários; biblioteca especializada com
livros de arte, fotografia, geografia e história, além de jornais e
revistas; espaços equipados com computadores, acesso à internet e
monitores com tela interativa. Será exibida mostra que retoma o legado
de oito personagens exemplares dos conflitos no Brasil rural – entre
eles estão o visconde do Uruguai, Chico Mendes, Leonel Brizola e
Euclides da Cunha.
A iniciativa é fruto de parceria entre o
Projeto República: Núcleo de Pesquisa, Documentação e Memória, da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Núcleo de Estudos
Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead), do Ministério do
Desenvolvimento Agrário.
Maquetes instaladas no museu itinerante
servirão de palco para contadores de histórias narrarem movimentos e
episódios ligados à luta pela terra. “Será o caminhão da alegria e da
consciência crítica. Um parque de diversões que faça você refletir sobre
valores que devem ser incentivados, como o bem-estar, a ética e a
justiça”, explica Gringo Cardia.
A ideia é oferecer ao público
algo leve e atrativo, detalha o cenógrafo. “Os visitantes vão se sentir
parte do Sentimentos da Terra, porque poderão ser fotografados em
cenários elaborados a partir do universo rural, inclusive usando
figurinos próprios a personagens ligados a essa questão. Também vamos
colher depoimentos de quem tiver algo a contribuir sobre a luta
agrária”, destaca Gringo.
O cenógrafo desenvolveu o projeto
durante três anos. O caminhão está estacionado na frente da Reitoria da
UFMG, no câmpus da Pampulha, em Belo Horizonte. No fim do mês, seguirá
para outras cidades. A professora Heloísa Starling, coordenadora do
Projeto República, explica que a iniciativa tem o propósito de valorizar
a população considerada “invisível”.
“ É importante resgatar a
história das pessoas que ficaram esquecidas. Até para a gente que
trabalha com o tema, surpreenderam as informações e os dados colhidos. O
caminhão vai sair de Minas e andar pelo Brasil contando a nossa
história. Já temos algumas turnês fechadas, a intenção é que ele
percorra do Oiapoque ao Chuí”, adianta Heloísa.
No fim de março, o
Sentimentos da Terra segue para Brasília. Depois, estacionará em
Goiânia, voltará a Minas Gerais e chegará a Jequitibá, perto de Sete
Lagoas, na Região Central do estado. A segunda turnê contemplará Poços
de Caldas, no Sul de Minas, e Limeira, no interior de São Paulo.
Como
o veículo estará sempre em movimento, a ideia é incorporar novos
repertórios à agenda, explica Heloísa Starling. Isso inclui as notícias
recentes sobre a questão agrária, pois um painel interativo será
atualizado, exibindo reportagens de jornais, revistas e sites.
“Costumo
brincar: é a maior loucura que já fizemos, uma coisa muito ousada.
Essas histórias têm de ser contadas tanto para o jovem que está em
Ipanema quanto para o morador da Raposa Serra do Sol, em Roraima, e
encantar os dois. Não é uma tarefa fácil”, frisa a professora.
Mutirão de estrelas
Os
videodocumentários são capítulo à parte do projeto. Produzidos por
Gringo Cardia a partir do conteúdo histórico pesquisado pelo Projeto
República, eles são narrados por importantes nomes da cultura
brasileira.
O público assistirá a um elenco de peso. Apoiaram a
iniciativa o ator Caio Blat (Marchas pela terra), o músico Chico Buarque
(O sonho republicano e a luta pela terra no Brasil), a atriz Dira Paes
(Sindicalismo rural), o compositor Gilberto Gil (Quilombolas), o ator
José Wilker (Cultura e educação no campo), a atriz Letícia Sabatella
(Índios), o ator Marcos Palmeira (Repressão e violência no campo), a
cantora Maria Bethânia (Canudos), a apresentadora Regina Casé
(Legislação agrária), a atriz Vera Holtz (As experiências socialistas e
anarquistas no campo) e o ator Wagner Moura (Margens da marcha para o
Oeste).
“Minha pesquisa tem 20 laudas. Arrumamos documentos
históricos e fizemos animações. A imagem é um documento de época, só que
animado. Dessa forma, criamos nova linguagem na historiografia
brasileira. Tudo para deixar o conhecimento de maneira bonita, com
conteúdo e interessante”, ressalta Gringo Cardia.
Roberto
Nascimento, diretor do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento
Rural (Nead), do Ministério do Desenvolvimento Agrário, diz que o
caminhão-museu vai prestar importante serviço aos brasileiros. “Estamos
produzindo muito conhecimento sobre a luta pela terra. Agora, temos de
acelerar o processo de apropriação disso pela população de maneira
interessante, com cultura, tecnologia de ponta, encantamento e conteúdo.
O mais importante é que tanto os moradores das metrópoles quanto do
interior e do campo vão ter a oportunidade de conhecer o museu
ambulante”, conclui.
Enquanto isso…
Aprendizado
Alunos
da Universidade Federal de Minas Gerais que se interessarem em atuar
como monitores do projeto podem se inscrever pelo e-mail
sentimentosdaterra@gmail.com. O estudante deve estar matriculado em
qualquer curso da UFMG. Se for selecionado, ganhará bolsa de iniciação
científica. Além de passar por preparação para atuar como monitor, o
selecionado receberá capacitação como ator, pois participará de
encenações que terão a luta pela terra como tema. A preparação dos
jovens ficará a cargo da atriz Stella Miranda.
SENTIMENTOS DA TERRA
O
caminhão-museu ficará estacionado até dia 27, na Praça da Reitoria da
UFMG (Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha). De segunda a sexta-feira,
das 11 às 14h e das 17h às 21h. Entrada franca. Visitas devem ser
agendadas pelo e-mail: sentimentosdaterra@gmail.com
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