BETH GARDINER
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES
Isabelle Aleksander, 16, passa horas escrevendo códigos de computador e pretende se tornar engenheira. Sua paixão mais recente é o Raspberry Pi, um computador de baixo custo, do tamanho de um cartão de crédito, desenvolvido para ajudar a ensinar programação.
Quando ela contou sobre isso ao seu melhor amigo, a reação dele a surpreendeu. "Ele falou: 'Ei, como você sabe sobre isso? Você é menina, não deveria fazer isso'", contou a estudante.
Ela e sua amiga Honey Ross, 15, estão entre as poucas meninas do colégio particular King Alfred School, na zona norte de Londres, que se interessam muito por tecnologia. As duas dizem que entendem a razão disso: vista por quem está de fora, a computação pode parecer algo desinteressante que é praticado principalmente por garotos nerds.
'UM MUNDO INCRÍVEL'
"É uma pena", disse Ross, falando entre uma aula e outra no laboratório de computação. "É um mundo tão incrível. Parece que está apenas esperando a chegada de um monte de meninas."
Belinda Parmar adoraria ver isso acontecer, especialmente porque as estatísticas indicam que as mulheres no mundo da tecnologia, que já constituem uma relativa raridade, estão prestes a se tornar mais raras.
Há três anos, Parmar fundou a consultoria Lady Geek, que ajuda empresas de tecnologia a fazerem contato com a clientela feminina e a aumentar o número de mulheres em sua força de trabalho. Convencida de que a escassez de mulheres no setor da tecnologia tem suas raízes na infância, Parmar criou a entidade sem fins lucrativos Little Miss Geek, cuja finalidade é convencer meninas que a programação não é uma atividade solitária e chata, mas um trabalho criativo e que pode dar dinheiro.
NÃO SÓ COMPRAR, MAS CRIAR
Parmar diz que tantos meninas quanto meninos adoram gadgets --mas que, por mais que as meninas possam gostar de ter as últimas novidades tecnológicas, seus pais e professores geralmente não lhes dizem que elas têm capacidade para construí-las. "Elas sonham em usar o iPad mini e o smartphone mais recente, mas não sonham em criá-los."
Por essa razão, diz ela, as mulheres estão ficando de fora de um setor que está transformando o mundo, paga muito bem e está em crescimento.
De acordo com a agência de estatísticas Eurostat, 20% das pessoas que trabalham no setor tecnológico britânico são mulheres. Parmar cita a cifra de 17%. Não é muito diferente da média da União Europeia, 21,8%, ou dos Estados Unidos, 24% --neste último caso, uma queda em relação aos 36% de 1991, segundo o Centro Nacional para Mulheres e Tecnologia da Informação, da Universidade do Colorado em Boulder.
A Little Miss Geek informa que as meninas compõem apenas 8% dos estudantes que fazem a prova de ciência da computação dos exames de ingresso na universidade. Nos Estados Unidos, segundo o centro do Colorado, 19% são meninas.
Parmar acha que o problema é em parte de imagem. Quando sua equipe pediu a crianças que desenhassem uma pessoa que trabalha com tecnologia, todas fizeram desenhos de homens, em muitos casos nerds e de cabelos desgrenhados.
Ela crê que algumas empresas tratam as consumidoras com condescendência quando lhes oferecem artigos cor-de-rosa e as ofendem quando colocam modelos de biquíni em feiras de tecnologia. "O setor da tecnologia está 30 anos atrasado em relação ao automotivo na interação com as mulheres", diz a empresária.
DESLOCADAS
Quando meninas adolescentes ou pré-adolescentes vão a aulas de computação, muitas vezes são as únicas meninas na sala.
"Mesmo meninas que se saem bem em matemática acabam desistindo. Não querem se sentir deslocadas", diz Marina Larios, presidente da Associação Europeia para Mulheres na Ciência, na Engenharia e na Tecnologia.
A Little Miss Geek promove workshops em escolas e leva mulheres do setor tecnológico para dar palestras aos alunos. Parmar espera conseguir patrocínio de empresas para ampliar o projeto.
Alguns países do Leste Europeu e do Báltico têm resultados melhores que o Ocidente. A Letônia tem a maior taxa europeia de mulheres que trabalham com programação, 33%, e a Romênia tem 30,6%.
Para Larios, é um legado do comunismo, que defendia a igualdade de gêneros e formava mulheres em cursos técnicos e de engenharia. Hoje, "o número de mulheres nesse setor está diminuindo, e os países estão encarando os mesmos desafios que nós".
O problema é mais grave nos países em desenvolvimento, disse Nigel Chapman, executivo-chefe do grupo Plan International. "Sem habilidades de computação, as meninas desses países não têm acesso a uma das armas no combate à pobreza".
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