A biblioteca de Mindlin
A sede da Brasiliana, na USP, é uma feliz confluência da cultura com a arquitetura e o design brasileiros
São 21.950 metros quadrados de boa arquitetura e design. O projeto de Rodrigo Mindlin Loeb e Eduardo de Almeida conversa com nosso modernismo, e o mobiliário não poderia ser mais bacana: uma seleção de designers contemporâneos, como Carlos Motta, e de nomes eternos, como Sergio Rodrigues e Zalszupin.
Mais do que um edifício, é um complexo, que também vai hospedar o Instituto de Estudos Brasileiros e terá livraria, auditório, salas de leitura e espaços para exposições. A combinação da lendária biblioteca de José Mindlin e do acervo do IEB, com a documentação rica e numerosa deixada por Mário de Andrade, fará do lugar um centro de excelência para leituras e pesquisas sobre cultura brasileira.
O projeto começou quando o bibliófilo decidiu reunir num espaço público as obras que guardou ao longo da vida. Pensou-se inicialmente numa fundação, mas a doação para a USP se revelou mais viável, já que teria uma contrapartida. A universidade bancou metade dos custos do empreendimento, de R$ 120 milhões.
Doações de empresas privadas e órgãos governamentais, como o BNDES, garantiram o restante.
Ninguém desconhece o valor da biblioteca de Mindlin, que reúne 17 mil títulos em 40 mil volumes. Mais da metade é de livros raros ou especiais, como primeiras edições de Machado de Assis com dedicatórias do escritor -uma delas a seu amigo Joaquim Nabuco. Ou os volumes deixados a Mindlin por outro grande bibliófilo, Rubens Borba de Morais, amigo dos modernistas de São Paulo, de quem ganhou primeiras edições autografadas -pude ver, por exemplo, o "Macunaíma" a ele dedicado por Mário de Andrade, em agosto de 1928.
Pedro Puntoni, diretor da biblioteca, que será inaugurada no sábado, diz que os livros foram dispostos como estavam nos imóveis em que eram guardados pelo dono. Se Mindlin deixava um volume com a capa voltada para a frente da estante, assim ele está na biblioteca.
Num passeio com Rodrigo Mindlin Loeb pelos belos ambientes de seu projeto, ele conta que a primeira conversa que teve com o avô sobre construir uma biblioteca foi em dezembro de 1999. Mindlin morreu em 2011 e não pode ver o prédio pronto. "Mas viu a obra sendo feita", diz Rodrigo. "E ficou superemocionado."
PEDALA, HADDAD
Sempre que algum acidente com ciclistas ganha destaque, logo se ouve a voz movida a gasolina dos que consideram o uso da bicicleta em São Paulo "inviável". Estranho é que diante dos índices alarmantes de acidentes com carros e motocicletas não se aplique a mesma sentença.
Embora tenha seus aclives e declives, São Paulo tem grandes extensões planas, que podem perfeitamente ser usadas por ciclistas.
O problema é que a valorização do transporte público é lenta, os automóveis reinam, os motoqueiros fazem manobras circenses e o ciclista é visto ou como um Zé Mané, pobre e ignorante, ou como um idiota que acha que isso aqui é a Europa.
Esperemos que a nova administração, que tanto prometeu nessa e em outras áreas, comece a pedalar.
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