Aqui no Brasil...
Francês de 29 anos morador de BH publica
em blog 65 observações sobre o país que se espalharam em pouco tempo.
Muitos brasileiros concordaram, outros se indignaram
Patricia Giudice
Estado de Minas: 13/04/2013
São 65 itens de
observações sobre o país escritas por um francês. Olivier Teboul, de 29
anos, se mudou de Paris para Belo Horizonte há um ano e meio e desde
então coletou curiosidades por onde andou. Espontâneo, segundo ele.
Apenas passava por uma situação, pensava como aquilo era diferente do
país dele e guardava na memória. Nesta semana, decidiu listar tudo e
postar no seu blog pessoal “(O outro) diário do Olivier”. Rapidamente,
as palavras se multiplicaram na internet. Até ontem, o post havia sido
visto por cerca de 15 mil pessoas e comentado por quase 300.
São
fatos do cotidiano. E ele começa a lista com uma das situações que mais
irritam o brasileiro: longas filas para tudo. “Aqui tudo se organiza em
fila: fila para pagar, para pedir, para entrar, fila para sair e fila
para esperar a próxima fila”, relata.
Sempre dizendo que a
intenção não era ofender, Olivier conta um episódio que passou em São
Paulo. Na rodoviária, viu uma fila gigantesca e perguntou a uma moça,
que era a última, se aquela era a espera para entrar no metrô. E ela
respondeu: “Espero que sim, estou aqui há meia hora”, contou o francês
achando a situação engraçada.
Quando viu suas impressões lidas e
compartilhadas por tanta gente, Teboul ficou com receio de que os
brasileiros encarassem negativamente. Ontem à noite, ele foi com a
equipe do Estado de Minas a um dos ícones de BH, a Praça da Liberdade.
Disse várias vezes que não queria criticar, apenas, de forma cômica,
relatar o que presencia. Em um dos tópicos escreveu: “Aqui no Brasil,
tem um organismo chamado Detran. Nem quero falar disso, não saberia por
onde começar…”. Outro diz: “Aqui no Brasil, tem um lugar chamado
cartório. Grande invenção para ser roubado direito e perder seu tempo
durante horas para tarefas como certificar uma cópia (que o funcionário
nem vai olhar) ou conferir que sua firma é sua firma”. “Tudo tem uma
razão de existir. Dá para melhorar, mas o Brasil é assim”, disse.
VIAGENS Engenheiro
de computação, Olivier trabalha no escritório do Google em BH. Disse
que veio ao Brasil por opção. Anos antes, visitou Brasília e Rio de
Janeiro durante as férias. Gostou do país e pediu para se mudar para cá.
Em mais de um ano, viajou para o Nordeste, Rio, São Paulo, mas foi
vivendo em BH que recolheu todas as observações. Ainda assim, diz que
por onde passou viu que as situações são comuns. “Não é um julgamento de
valores nem é para ofender, não quis dizer que é melhor ou pior do que
na França, são apenas situações que percebi”, afirmou.
Entre os
amigos, ele conta que recebeu incentivo para postar que pensava. Os
estrangeiros, disse, compartilham das opiniões. Os brasileiros também.
“Eles acharam engraçado.” No blog, os comentários são, na maioria,
positivos. “Achei incrível. Estou chocado como as coisas são tão comuns
para a gente e esquisitas para o restante do mundo”, escreveu Rafael
Chagas. “Excelente texto: detalhista, observador, aponta o bom e o ruim
em vários aspectos, mas com leveza e humor deliciosos! Adorei”, disse
Alessandra Magnago.
Mas há quem não gostou. “Mais um estrangeiro
colaborando para os estereótipos do Brasil. No mais, seus textos têm
alguma verdade, porém não absoluta”, postou Dávilla Martins.
NA FRANÇA Brasileiros
que moram em Paris também opinaram e foram além, responderam a Olivier
com observações sobre o país dele. “Na França, os restaurantes fecham
antes das 22h. Muitas vezes, você acabou de pedir e o garçom vem com uma
notinha e põe na mesa discretamente. Na França, a porta do metrô deve
ser aberta pelos passageiros, não automaticamente. Na França, tem
desodorante 72h, que coisa estranha. Não tem supermercado nem farmácia
24h. Na França, tudo vem com batata frita”, comentou um leitor do blog.
Em
outro post, uma leitora comentou que na França todos convidam para
tomar um café, mas nem sempre é exatamente para tomar café. “Isso é
verdade e eu nunca tinha percebido. Quando você vem de fora repara logo
situações que as pessoas que estão dentro não veem”, disse o francês.
Há
algo em BH melhor do que em Paris? Olivier diz que sim. Em um tópico,
escreveu: “Aqui no Brasil, a vida vai devagar”. Ontem, comentou: “Em
Paris, as pessoas são muito estressadas, estão sempre andando rápido.
Aqui não. Tudo é mais calmo e isso é bom”, considera. Mesmo com receio
de ser mal interpretado, Olivier enfatizou: “Escrevi sem querer
ofender. Estou feliz aqui e não pretendo ir embora por enquanto.”
Começo na fila
1 -
Aqui no Brasil, tudo se organiza em fila: fila para pagar, fila para
pedir, fila para entrar, fila para sair e fila para esperar a próxima
fila. E duas pessoas já bastam para constituir uma fila.
2 - Aqui
no Brasil, não se pode tocar a comida com as mãos. O hambúrguer se come
dentro de um guardanapo. Toda mesa de bar, restaurante ou lanchonete
tem distribuidor de guardanapos e de palitos. Mas esses guardanapos são
quase de plástico, nada de suave ou agradável. O objetivo não é de
limpar suas mãos ou sua boca, mas é de pegar a comida com as mãos sem
deixar papel nem na comida nem nas mãos.
3 - Aqui
no Brasil tudo é gay (ou ‘viado’). Beber chá: é gay. Pedir uma Coca
zero: é gay. Jogar vôlei: é gay. Beber vinho: é gay. Não gostar de
futebol: é gay. Ser francês: é gay; ser gaúcho: gay; ser mineiro: gay.
Prestar atenção em como se vestir: é gay. Não falar que algo é gay:
também é gay.
4 - Aqui no Brasil, os homens não
sabem fazer nada das tarefas do dia a dia: não sabem faxinar, nem usar
uma maquina de lavar. Não sabem cozinhar, nem a nível de sobrevivência:
fazer arroz ou massa. Não podem consertar um botão de camisa.
5 - Aqui no Brasil, os chineses são japoneses.
6 -
Aqui no Brasil, a política não funciona só na dimensão
esquerda-direita. O Brasil é um país de esquerda em vários aspectos e de
direita em outros. Por exemplo, se pode perder seu emprego de um dia
para outro quase sem aviso. Tem uma diferença enorme entre os pobres e
os ricos. Ganhar vinte vezes o salário mínimo é bastante comum, e ganhar
o salário mínimo ainda mais.
7 - Aqui no Brasil, é comum e conhecer alguém, bater um papo, falar “a gente se vê, vamos combinar, tá?”, e nem trocar telefone.
8 -
Aqui no Brasil, a palavra “aparecer” em geral significa “não aparecer”.
Exemplo: “Vou aparecer mais tarde” significa na pratica “não vou não”.
9 - Aqui no Brasil, não se assuste se estiver convidado para uma festa de aniversário de dois anos
de uma criança. Vai ter
mais adultos do que crianças, e mais cerveja do que suco de laranja.
10 - Aqui no Brasil, pode pedir a metade da pizza de um sabor e a metade de outro. Ideia simples e genial.
11 -
Aqui no Brasil, Deus está muito presente... pelo menos na linguagem:
“vai com o Deus”, “se Deus quiser”, “Deus me livre”, “ai, meu Deus”,
“graças a Deus”, “pelo amor de Deus”. Ainda bem que Ele é brasileiro.
12 - Aqui no Brasil, a comida é: arroz, feijão e mais alguma coisa.
13 - Aqui no Brasil, marcar um encontro às 20h significa às 21h ou depois. Principalmente se tiver muitas pessoas envolvidas.
14 - Aqui
em Belo Horizonte, a menor cidade grande do mundo. 5 milhões de
habitantes, mas todo mundo conhece todo mundo. Por isso que se fala que
BH é um ovo. Eu diria que é um ovo frito. Assim fica mais mineiro.
15 -
Aqui no Brasil, o povo é muito receptivo. É natural acolher alguém novo
no seu grupo de amigos. Isso faz a maior diferença do mundo. Obrigado,
brasileiros.
A lista completa está no olivierdobrasil.blogspot.com.br
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