Os homens do Palmeiras podem não conquistar nenhum título neste ano, mas voltaram às pradarias
Amigo torcedor, amigo secador, os destemidos caubóis da Pompeia estão de volta. Depois da queda para a segunda divisão e da emboscada fatal e certeira dos cavaleiros do Mirassol, a incrível conquista da vaga na próxima fase da Libertadores ainda ecoa no vale e nas colinas do Pacaembu afora.Era difícil saber o que era time e o que era torcida na peleja contra os paraguaios naquela noite. E quando isso acontece, o que é raríssimo na vida e até no Velho Oeste, não precisa ser assim um Barcelona para reconquistar a dignidade. Quando isso acontece, no mundo dos verdes, é uma verdadeira fotossíntese capaz de clorofilar uma multidão de Hulks.
O que aconteceu no Pacaembu só acontece com as bandas de rock nos seus melhores momentos, como diria o palmeirense Lúcio Ribeiro. Seja em Manchester ou no ABC. Seja a maior banda de todos os tempos ou um honesto trio de garagem.
Banda e público nos três acordes. Porque este Palmeiras foi uma banda punk. Nada de sofisticação metida na sonoridade. Fazer o que pode com muita raça. Faça você mesmo. Arroz, feijão e bife. Sem muita invenção. No máximo um ovo por cima.
Pode ser também, velho Moa, simples como um ossobuco tradicional da Lombardia ou um minimalista torresmo à milanesa para adoniranizar a existência em um boteco da Móoca ou do Bixiga.
Os caubóis da Pompeia podem não conquistar título algum neste ano. É do jogo jogado. Começaram a fazer mais do que levantar um caneco. Estão de volta às pradarias e aos desertos dos homens em busca da dignidade. Sem dignidade não se faz nada. Não se engole um minestrone --sempre vai aparecer alguém para encher o saco. Sem dignidade não se forra com aquela toalhinha quadriculada a mesa honesta de um lar doce lar ou de uma cantina.
Sem dignidade não se reconquista o sorriso de uma ragazza, não se joga uma moeda na Fontana de Trevi, não se sabe o que é a bela vida mesmo você sendo o Mastroianni.
Sem dignidade não se pega nem o Penha/Lapa, muito menos o Belenzinho/Parque São Rafael, a linha que mais viajei no atlas, onde a Sapopemba é quase a vida toda, velho Gulliver, todas as viagens na cabeça de um homem que não chega ao seu destino.
O motorista sente o olhar baixo de um passageiro sem dignidade. Queima a parada na caruda. Sem dignidade o mais fervoroso dos católicos vai a Roma e não vê o papa. Sem dignidade, tio Nelson, não se pede uma pinga, não se amarra um cadarço, sem dignidade um homem só se abaixa e fica perto da terra que há de comê-lo com fastio e desgosto.
Tudo que aprendi sobre moral devo aos faroestes, não ao futebol, este pesque-pague de todas as traíras e trairagens. Em algumas partidas, porém, os homens repetem os caubóis, como foi o caso do Palmeiras, o time e a força verde na arquibancada.
@xicosa
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