domingo, 14 de abril de 2013

INSTRUMENTAL » Questão de afinidade - Eduardo Tristão Girão

O acordeonista Bebê Kramer e o gaitista Gabriel Grossi lançam o disco Realejos, com composições da dupla. No repertório, temas que exploram vários ritmos brasileiros 


Eduardo Tristão Girão

Estado de Minas: 14/04/2013 

Grande nome da gaita no país, o brasiliense Gabriel Grossi lança mais um disco, Realejo (Brasilianos), desta vez tendo o acordeonista gaúcho Bebê Kramer como parceiro. Eles assinam quase todas as nove faixas (sozinhos ou em dupla), calcadas na estética contemporânea da música instrumental brasileira e bem temperadas aqui e ali com alguns regionalismos. Atualmente radicados no Rio de Janeiro, gravaram com banda 100% gaúcha.

“Esse disco foi inevitável”, conta Gabriel. O motivo: os dois moraram juntos entre 2009 e 2011, quando Bebê decidiu mudar-se para a capital fluminense. “Já conhecia Bebê de encontrá-lo de vez em quando e, com a convivência diária, a gente tocava junto o dia inteiro”, diz. Não demoraram a surgir músicas feitas a quatro mãos. Todas as composições do disco são dessa época.

As gravações foram feitas ao longo de uma semana em outubro de 2011 em Florianópolis (SC), cidade onde o acordeonista já morou. Apesar de morarem lá, Guinha Ramires (violão), Ronaldo Saggiorato (baixo) e Alegre Corrêa (bateria), que completam a banda de Realejo, são todos gaúchos. “São todos eles amigos de Bebê. Entrei para a patota deles, são super músicos. A gravação foi bem descontraída”, lembra.

Gabriel, Bebê e Alegre são os responsáveis pelos arranjos e pela produção do álbum. “Hoje vejo que a música acontece muito por causa das pessoas, da afinidade que tenho com elas. Os instrumentos que serão usados num trabalho são consequência. Para mim, sempre foi assim, sem pensar em ter especificamente um pianista num disco meu, por exemplo”, explica o gaitista.

Se a ótima Pela primeira vez, que abre o repertório, tem aquele sabor brasileiro atual (e impossível de definir), Estilo consagrado (a única não escrita pela dupla, mas pelo baterista) atualiza o samba com a incomum colaboração entre gaita e acordeom, o mesmo valendo para Como manda o figurino, tema de vocação notadamente forrozeira. Inserido no contexto jazzístico, Bebê revela-se improvisador de mão cheia e Gabriel, como de costume, encanta pela expressividade nos temas e solos.

Além da impecável performance do grupo, é preciso destacar a ousadia dos dois músicos em apostar em duas faixas (Realejo e Dilacerado) baseadas exclusivamente em seus instrumentos, promovendo interação curiosa por se tratar, de certa forma, de dois sopros. “Eles podem parecer similares, mas são muito diferentes. Têm expressões distintas e, nesse disco, apostamos em contracanto e em pergunta e resposta”, diz.

EM ESTÚDIO

Por enquanto, Gabriel e Bebê só apresentaram esse novo repertório em shows no Rio de Janeiro e em Florianópolis. O gaitista acredita que conseguirá vir com o parceiro musical a Belo Horizonte este ano para mostrá-lo. Por enquanto, segue dividindo sua agenda de shows com este projeto e com o pianista Amilton Godoy (tocando Villa-Lobos) e o violonista Diego Figueiredo (temas autorais dos dois).

Este mês, o gaitista entra em estúdio para gravar seu próximo disco, já batizado de Urbano. As gravações serão feitas em São Paulo com Guilherme Ribeiro (teclado) e Jônatas Sansão (bateria) formando base como a de Horizonte, disco que Gabriel lançou em 2009. Além deles, participarão João Paulo Barbosa (saxofone e flauta), Sergio Coelho (trombone) e Michael Ruzitschka (violão).

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