domingo, 14 de abril de 2013

Charge e Editoriais Folha de São Paulo

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Decisão na Venezuela
Eleição presidencial no país vizinho deve manter o chavismo vivo, com Nicolás Maduro, sem afastar o risco de turbulências futuras
Ainda sob a comoção nacional pela morte de Hugo Chávez, a Venezuela faz hoje a sua segunda eleição presidencial em seis meses. O grande favorito é o chavista Nicolás Maduro, que terá de lidar, no curto prazo, com graves problemas econômicos.
O processo eleitoral foi um dos mais bizarros da história latino-americana. Vítima de um câncer revelado em 2011, Chávez ocultou detalhes de sua saúde e, gravemente enfermo, reelegeu-se em outubro para novo mandato de seis anos.
Dois meses depois, Chávez anunciou a retomada do tratamento em Cuba por tempo indeterminado e indicou seu sucessor político, o vice-presidente Maduro. Em meio a grave crise de desabastecimento de gêneros alimentícios, a Venezuela se viu paralisada pela incerteza sobre a saúde do caudilho.
Sua morte, no mês passado, deu início a uma campanha desequilibrada. O maior cabo eleitoral do governismo é o corpo insepulto de Chávez. Em tom mistificador, o que incluiu comparar o caudilho com Cristo, e com toda a máquina estatal trabalhando a seu favor, Maduro conseguiu deixar em segundo plano os sérios problemas do país --da violência urbana fora de controle às recorrentes falhas no fornecimento de energia.
Hesitante no autoproclamado papel de apóstolo, Maduro protagonizou momentos constrangedores: recuou do anúncio de embalsamar o corpo de Chávez por falta de planejamento e acusou os Estados Unidos de causar o câncer no comandante venezuelano.
A pantomina de nada servirá para resolver a inflação oficial, acumulada em 25,2% nos últimos 12 meses, a crônica e crescente falta de alimentos nos supermercados e a forte pressão para desvalorizar a taxa de câmbio irrealista.
Na raiz de tudo está a falta de dinheiro no Tesouro, resultado do gasto com nacionalizações sem critérios, dos programas sociais mal administrados e da corrupção enraizada. Nos últimos quatro anos, o desequilíbrio vinha sendo financiado por vultosos empréstimos chineses, que chegam a pelo menos US$ 36 bilhões.
Pequim, no entanto, está reticente em seguir emprestando dinheiro. E o mercado internacional não dá sinais de que possa vir um aumento vertiginoso no preço do petróleo (na prática o único produto da economia venezuelana) para sustentar a ciranda populista.
Mesmo acuado pela campanha agressiva, o oposicionista Henrique Capriles tem conseguido tirar algo da vantagem de Maduro nos últimos dias. Tudo indica que não será suficiente para uma virada, mas pode cacifá-lo como alternativa para o país no futuro --que será certamente turbulento.


    Segredos no STF
    Todos se surpreenderam com a escolha do cardeal argentino Bergoglio para a sucessão do papa Bento 16. Ainda assim, e por restritos que sejam os métodos eletivos do Vaticano, discutiu-se ao menos quem eram os principais candidatos. Soube-se, no mínimo, quais os preteridos na decisão final.
    Sob esse aspecto, as indicações para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) parecem mais cercadas de segredo do que em qualquer conclave. Poucos rumores chegam a vazar, e quando o nomeado pela Presidência da República se vê submetido à obrigatória sabatina no Senado, prevalece ali uma atmosfera de formalidade nebulosa.
    É provável que, após as emoções e os imprevistos no julgamento do mensalão, tanto senadores quanto a sociedade tenham despertado para a importância de avaliar de forma mais precisa a personalidade, as convicções e os valores dos próximos membros da mais alta corte do país.
    Com a aposentadoria do ministro Carlos Ayres Britto, no final do ano passado, abriu-se nova vaga, que será mais uma vez preenchida por Dilma Rousseff --a quarta, e nem por isso menos opaca, indicação da presidente.
    Critérios diversos, misteriosos, ou talvez frágeis, determinaram, durante o governo Lula, o preenchimento desses cargos. A simbologia de ter uma mulher ou um negro no STF foi levada em conta, com bons motivos. Um nome ligado a conservadores católicos foi indicado pelo mesmo presidente que escolheria, para substituí-lo, um ex-advogado do PT.
    Seja como for, nada se compara ao que ocorreu posteriormente, com a nomeação de Luiz Fux por Dilma Rousseff. São especialmente constrangedoras para o ministro as declarações de José Dirceu, segundo as quais o então aspirante ao STF lhe garantira a absolvição no julgamento do mensalão.
    A moral da história, se é que existe, reside no fato de que entendimentos secretos e esquemas de bastidor terminam, cedo ou tarde, revelados. A confidencialidade das candidaturas e indicações termina contrastando com o alto grau de transparência que se obtém graças à transmissão dos julgamentos do Supremo pela TV.
    Terá sido esse contraste, sem dúvida, o fator preponderante na reviravolta que tanta surpresa trouxe a Dirceu. Maior publicidade para os candidatos, suas ideias e seus compromissos seria o melhor meio de evitar tal insegurança decisória --e de aproximar mais os ministros dos mecanismos de controle e debate pela opinião pública.

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