domingo, 14 de abril de 2013

Patrulha mirim - Em SP, 45% das crianças estão acima do peso

folha de são paulo

Estudo mostra que orientações sobre estilo de vida saudável transmitidas às crianças provocam mudança nos hábitos dos pais
CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULO"Ele virou o fiscal da casa, presta atenção no que comemos e se estamos praticando atividade física. Mas ainda resiste em comer frutas e verduras", diz o analista de sistemas Fábio Guedes, 46.
O "fiscal" é o filho Vinícius, 11, uma das 197 crianças que participaram de um projeto educacional inédito que avaliou o poder de persuasão dos alunos na mudança de hábitos dos pais e na adoção de um estilo de vida saudável.
A conclusão é que, sim, a estratégia dá certo. Os pais reduziram os riscos cardiovasculares, calculados sobre fatores como obesidade, tabagismo, colesterol, pressão alta e diabetes.
Fábio e sua mulher, Mônica, por exemplo, cortaram as massas e passaram a fazer hidroginástica duas vezes por semana. Tiveram, com isso, redução das medidas.
O estudo foi feito em uma escola privada de Jundiaí (SP) e publicado na revista científica "European Journal of Preventive Cardiology". Na terça-feira (16), o trabalho será apresentado em um fórum de cardiologia em Roma.
"Fomos premiados na Europa e nos EUA. Até a China quis conhecer a nossa experiência. Mas aqui a repercussão foi zero", queixa-se o cardiologista Bruno Caramelli, pesquisador do InCor (Instituto do Coração) e coordenador do trabalho.
ORIENTAÇÕES
O projeto envolveu alunos com idades entre 6 e 10 anos e seus pais. Eles foram divididos em dois grupos, com duas abordagens distintas.
Pais de estudantes do período da manhã (grupo-controle) receberam folhetos educativos com orientações sobre alimentação saudável e a importância de realizar atividades físicas. Seus filhos não receberam informações.
Os pais dos alunos da tarde também receberam os folhetos, mas os filhos assistiram a palestras sobre prevenção cardiovascular. Nutricionistas ensinaram como seguir uma alimentação saudável e fisioterapeutas explicavam a importância dos exercícios.
"Em momento algum foi dito às crianças para cobrarem dos pais essas atitudes saudáveis", explica a cardiologista Luciana Fornari, autora principal do estudo.
Os dois grupos passaram por exames e medidas de peso, altura e pressão arterial.
Ao final de um ano, 91% dos pais do grupo da intervenção deixaram o estágio de alto risco com relação às doenças cardiovasculares. Já a diminuição entre os pais do grupo-controle foi de 13%.
"Quando os conceitos são passados de forma divertida, as crianças os incorporam e cobram mudanças da família", afirma Luciana.
A iniciativa agora está sendo replicada em duas escolas públicas de Campo Limpo Paulista (SP). Participam dele cerca de 500 crianças e mil pais. A proposta é ver, a longo prazo, se o efeito das mudanças será duradouro.
No projeto em Jundiaí, algumas delas não foram. "Na época do programa, caminhávamos todos os dias, éramos estimulados. Agora falta tempo", diz Sueli Razzé, 47, mãe da aluna Natalie, 13.
Sem atividade física, o marido engordou três quilos e a filha, um. "Sem incentivo permanente, é difícil manter."
Já alguns dos bons hábitos alimentares permanecem. "Cortei as frituras e quase não faço mais doces", conta.

    Em SP, 45% das crianças estão acima do peso
    DÉBORA MISMETTIEDITORA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"Quase a metade das crianças e dos adolescentes paulistanos está acima do peso, de acordo com uma pesquisa que tirou medidas de 476 jovens em mutirões em parques, estações de metrô e escolas estaduais.
    Dados nacionais da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), divulgados em 2010 pelo IBGE, mostram que, no país, um terço das crianças de 5 a 9 anos está acima do peso. No Sudeste, a proporção é maior, de 40%.
    O estudo faz parte do programa de reeducação alimentar "Meu Pratinho Saudável" que, em São Paulo, tem o apoio do governo estadual.
    Ana Paula Alves, coordenadora da divisão de nutrição do Instituto da Criança do HC, afirma que o objetivo do programa é orientar crianças sobre como montar uma refeição saudável.
    O ideal, segundo o projeto, é preencher metade do prato com verduras e legumes, um quarto com carboidratos e dividir o restante entre proteína e leguminosas, como feijão e lentilha.
    Em um projeto-piloto desenvolvido em uma escola estadual de São Paulo, a nutricionista conta que os estudantes usaram peças de resina imitando os alimentos para mostrar como montariam seus pratos.
    "Era sempre metade ou mais de arroz e feijão. Verdura nem aparecia. Elas diziam: Meu pai não compra, meu pai não gosta'. Como você vai falar da importância disso se você não consome?"
    O objetivo, diz Alves, é levar a informação às escolas, passando os conceitos também para o corpo docente.
    A experiência das escolas nos EUA, onde os índices de obesidade são ainda mais altos que os brasileiros, mostra que, se houver uma política consistente, é possível obter resultados positivos.
    Pesquisas recentes mostraram que grandes cidades americanas conseguiram reduzir, ainda que discretamente, os índices de obesidade infantil. Em Nova York, entre 2007 e 2011, o número de crianças obesas caiu 5,5%.
    Especialistas ligaram a tendência aos esforços de escolas como as da Filadélfia --onde a obesidade caiu 5% no período--, que proibiram a venda de bebidas açucaradas e cortaram as frituras.

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