Casamento, uma alegria na família
Nunca em um milhão de anos eu poderia supor que um casamento em família fosse me deixar de nervos tão emaranhados. E note que não venho nem mesmo a ser a mãe da noiva.
Fato está que pareço ser a única da família, desde o anúncio da "boda" (como diria a revista "Caras") da minha sobrinha, a implicar com cada detalhe da celebração. "Mas por que o casamento civil e a festa não vão ocorrer no mesmo dia, não seria mais prático para todos?"; "Mas por que não posso ir de vestido cor 'off white'?"; "Mas por que o Alemão da Maloca, o Ostrão e o Badalhoca não estão na lista de convidados se são meus BFFs (Best Friends Forever)? Vocês percebem que nunca irei perdoar tamanha desfeita?"
O cabo de guerra entre minha irmã e eu já dura meses. Ontem mesmo armei mais um barraco quando soube que não havia sido convidada para experimentar os docinhos da festa. Onde já se viu me fazer gastar uma fortuna em vestido, sapato, presente e sei lá mais o que e não me convidar para palpitar na comida? Rodei uma baiana tão violenta que até a Bucicleide foi acionada para me acalmar.
Ilustração Alex Cerveny |
A verdade é que eu sou a rainha do mico-preto. Veja só: já fui madrinha de 23 casamentos. Minto, foram muitos mais. É que parei de contar no 23. Minha mãe sempre recebia a notícia de mais um convite para ser madrinha como se tivesse sido chamada para um velório. "O que, filha? Mais um vestido de noivado e outro de casamento? Mais presente da Mickey e você, que é bom, necas?", choramingava.
"O que acontece, foi trabalho, olho gordo, você andou debaixo de alguma escada, desagradou a alguma bruxa da Disney, o que é isso?" E eu: "Não, mãe, juro que não fiz nada. O povo gosta de mim e me convida. E, realmente, casar não está na agenda deste ano, quem sabe ano que vem..."
Ninguém tem mais compadre do que eu neste país. Nem mesmo o Lula. Não é mentira. Mas temo que a motivação de minha sobrinha e seu noivo ao me chamar para ser madrinha deles tenha tido algo a ver com o vestido "off white".
Outro dia vieram com essa conversa de que me queriam no altar, faziam muita questão, me amavam muito e coisa e tal. E deixaram claro que as outras madrinhas estariam usando tons de "mauve".
Alguém por acaso sabe dizer que raio de cor é "mauve"? Conheço lilás, roxo e fúcsia. Mas "mauve" me parece nome de pavê. Ou do tipo de mal-estar que francês sente em navio. Ademais, agora encanei com um azul calcinha que acho que poderia trazer um tchans ao altar.
Tudo bem. Ela é minha única e adorada sobrinha. E eu já estou bem chateada de ir sem o Alemão, o Ostrão e o Bada. Você não tem ideia, meu ilustre leitor, de como eles são animados em casamento. No último, o Ostrão rodopiou com a avó da noiva de tal forma durante "I Will Survive", que a dentadura da velha foi parar numa "flûte" de champanhe do outro lado da pista. Badalhoca, não perdeu tempo. Tomou-a dos braços dele, agarrou sua cintura com firmeza e enfiou a linguona inteira na goela da veia.
Parece que isso teve alguma coisa a ver com o não convite deles para o casamento da minha sobrinha. Vou parar por aqui porque não gosto de polemizar nem de causar mal-estar. Mesmo porque a festa não é minha e não quero chatear minha irmã, os noivos e muito menos meu cunhado, sabe como é. Esse negócio de família é complicado.
Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal. É colunista do caderno "Cotidiano" e da revista "sãopaulo".
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