Na minha pesquisa sobre corpo, envelhecimento e felicidade eu perguntei aos entrevistados: "Você deixaria de usar algo porque envelheceu?". O resultado mostra uma diferença de gênero marcante: 96% das mulheres responderam "sim"; 91% dos homens, "não".
Quando pedi: "Dê um exemplo de uma pessoa que envelheceu mal", as mais citadas foram atrizes, cantoras e apresentadoras de televisão "que não aceitam o envelhecimento", "negam a idade", "fingem que são jovens" e "se comportam de forma inadequada para a idade". Os pesquisados enfatizam que, por não aceitarem o envelhecimento, elas são "ridículas": usam roupas inadequadas para a idade que têm, fazem excesso de cirurgias plásticas e namoram homens mais jovens.
Uma professora de 60 anos reclama: "De um lado, existe a obrigação de permanecer jovem, com o corpo, o comportamento e o espírito alegre, exuberante. De outro, há o medo de parecer ridícula por não me comportar e não me vestir como uma mulher de 60 anos. Acho que tenho que ser mais discreta, elegante, quase invisível. Qual a medida certa? É um grande mistério".
Já os homens pesquisados disseram que não mudariam ou não mudaram nada em sua forma de vestir, permanecendo, quando mais velhos, fiéis ao mesmo estilo que sempre tiveram.
Uma jornalista de 59 anos disse: "Aposentei meus shorts, saias curtas, botas, camisetas decotadas, jeans e vestidos justos, apesar de continuar magra e com o corpo em forma. Passei por uma verdadeira transformação para me tornar uma senhora respeitável. Já o meu marido continua o mesmo garotão, vestindo o mesmo jeans desbotado, as mesmas camisetas surradas, o mesmo tênis velho. Morro de inveja!".
O marido, um jornalista de 62 anos, contou: "Minha mulher parece outra pessoa. Cortou o cabelo bem curto. Mudou o guarda-roupa inteiro depois dos 50 anos. E ela é uma mulher linda, com o corpo mais bonito do que o de muita garota. Ela abandonou tudo o que sempre usou e gostou. Acha que tem que se vestir como uma velha só para os outros não fazerem fofoca".
O que você acha pior ao envelhecer: continuar tendo comportamentos e roupas de "jovem" ou mudar completamente de estilo em função do medo de ser considerada "ridícula"?
Mirian Goldenberg é antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de "Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade" (Ed. Record). Escreve às terças, a cada quatro semanas, na versão impressa de "Equilíbrio".
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