Paradoxo venezuelano
SÃO PAULO - O verdadeiro vitorioso nas eleições na Venezuela é o oposicionista Henrique Capriles, que ficou com 49% dos votos, e não o presidente eleito, Nicolás Maduro, que obteve 50,75% dos sufrágios.O paradoxo se explica. A economia venezuelana está quase quebrada. A inflação oficial acumulada nos últimos 12 meses já ultrapassa os 25% e a real deve ser bem maior. Como se não bastasse, faltam alimentos nas gôndolas dos supermercados. Mesmo que Maduro faça tudo absolutamente certo daqui para a frente, a situação ainda deve piorar bastante antes de apresentar sinais de melhora. Como brinca Fábio Zanini, o editor de "Mundo" da Folha, esta era uma eleição boa para perder.
Se tivesse levado a Presidência, Capriles teria de lidar com tal herança maldita, para utilizar o vocabulário conhecido dos brasileiros. Em poucos meses estaria enfrentando protestos potencialmente desestabilizadores. Como não venceu, será o próprio Maduro quem ficará com os ônus da política econômica chavista, que, se acertou no objetivo de distribuir melhor a renda do petróleo, o fez de maneira pouco judiciosa e até mesmo inconsequente.
Poupado desse cenário nada alvissareiro, o líder oposicionista se viu colocado na melhor posição imaginável. Seu desempenho eleitoral superou todas as expectativas. Mesmo enfrentando um cadáver entronizado em mito popular e concorrendo em condições bastante desvantajosas, ficou a apenas 265 mil votos de seu adversário. Antes do pleito, os institutos de pesquisa indicavam oito pontos de diferença.
Tudo o que Capriles tem a fazer agora é assistir à crise de camarote. Se os chavistas não tentarem nenhuma manobra desesperada, que transforme a imperfeita democracia venezuelana numa ditadura sem disfarces, o jovem político será favoritíssimo para ocupar a Presidência dentro de três (referendo revocatório) ou seis anos (mandato normal).
helio@uol.com.br
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