"Condição Humana (Sobre o Tempo)" é o primeiro disco do artista após seis anos sem lançar inéditas Álbum tem coro que reúne, entre outros, Tiê, Kassin, Mariana Aydar, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci e Thiago Pethit
Prestes a completar seis décadas de vida (em julho), Guilherme Arantes teve de superar a concorrência até dele mesmo para, depois de seis anos sem um disco de inéditas, gravar "Condição Humana (Sobre o Tempo)", com lançamento previsto para o dia 7 de junho, no Rio.
"A gente compete até mesmo no sebo. Sou disputado, o pessoal tem meus discos de vinil. É engraçado: tantas décadas depois, o que as pessoas podem ainda esperar de você?", comenta o pianista, compositor e cantor.
O que o público poderia esperar talvez nem o próprio Arantes soubesse, mas ele tinha bem claro a sonoridade que buscaria para a concepção do disco que traz dez faixas autorais, a maioria versando sobre a relação do homem com o passar do tempo.
Nesta linha, estão canções como "Condição Humana", "Onde Estava Você" e "O Que Se Leva (Temor ao Tempo)", em que ele fala de sua tentativa de voltar a ser jovem e de retomar um frescor musical.
"Percebi que precisava retomar aquela sonoridade da virada dos anos 1970 para 1980, meter o braço no piano", diz o autor de clássicos como "Êxtase", "Aprendendo a Jogar" e "Planeta Água".
O tipo de sonoridade a que Arantes se refere diz respeito à sua ligação com o instrumento que o consagrou, um "piano de mão de pedreiro", como ele mesmo define, e que levou a comparações com nomes da geração atual.
"Por mais que eu tenha discípulos --me comparam com o Jeneci e com o Silva--, o som deles não lembra muito o meu. O Guilherme Arantes é meio tosco, um piano mais espalhafatoso, eu não sou tão contido e pós-moderno. O Silva não tem arroubos expressivos, que são uma marca da minha geração."
CORO AFIRMATIVO
Se, por um lado, Arantes não vê muitas semelhanças com seus discípulos do piano, por outro, ele se diz extremamente identificado com os ideais da nova geração.
Não à toa, duas faixas de seu novo álbum contaram com um coro de nomes como sua filha Marietta Vital e Kassin, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Laura Lavieri, Tiê, Thiago Pethit, Mariana Aydar, Duani, Curumin e Adriano Cintra, entre outros.
"A nova geração tem uma marca que eu admiro muito que é o idealismo, o amor à música", diz o compositor.
"Eles enxergam o pop star system' com olhos críticos. Têm vontade de estourar, mas ao mesmo tempo o mainstream' representa um mico, uma série de contrapartidas que eles não estão a fim de entrar. Eu entrei, nem sei como eu sobrevivi", diz Arantes.
FIM DO OSTRACISMO
A tábua de salvação de Guilherme Arantes nos tempos em que reinou a "música de computador", feita com o abuso de sintetizadores e teclados, foi justamente o piano. Nos anos 1980 e 1990, ele tentou escapar do estilo cantor romântico.
"Na década de 1980, um executivo da Sony dizia: Afasta Guilherme do piano, tiene que ser cantante romântico'. Eu não aceitava, estava ludibriando a indústria. Era o Projeto Julio Iglesias', que pegou Fabio Jr., Maurício Mattar e até o Paulo Ricardo", relembra o pianista.
O que ajudou o músico a sobreviver no mercado --em 2012 ele foi homenageado com o disco "A Voz da Mulher na Obra de Guilherme Arantes", pelo selo Joia Moderna-- foi também o fato de ele ter criado em 2005 sua própria gravadora, a Coaxo do Sapo.
"Foi um sonho e facilitou. Hoje, a música tem uma função utilitária. A época atual pede a festa, a balada, é um dos defeitos da modernidade, perde-se a reflexão."
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