Criado por brasileiros, jogo para
computador que ajuda médicos a atender melhor os pacientes diabéticos
representará o país em competição internacional no próximo mês
Vilhena Soares
Estado de Minas: 07/05/2013
Brasília – No
próximo mês, estudantes universitários de todas as partes do mundo se
encontrarão em São Petersburgo, na Rússia, para participar de uma das
maiores competições de inovação tecnológica do mundo, a Imagine Cup. E o
Brasil estará representado por Leandro Arthur Diehl e Rodrigo Martins
de Souza, os criadores de um jogo de computador criado para facilitar o
trabalho de médicos no tratamento do diabetes. Chamado de InsuOnline, o
software foi vencedor na categoria Cidadania Mundial na etapa brasileira
da competição, o que garantiu a presença na etapa mundial. Outros dois
projetos brasileiros ainda podem ser selecionados para o evento.
Médico
endocrinologista, Diehl elaborou o jogo durante o doutorado em
biotecnologia nas Faculdades Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). Para
torná-lo realidade, contou com a parceria de Souza, diretor da Divisão
de Games da Oniria Softwares. A ideia do game surgiu depois da sugestão
de um orientador ainda durante o curso de medicina na Universidade
Estadual de Londrina e se consolidou quando ele começou a trabalhar no
serviço público. “Na rede pública de Londrina, notei que os clínicos-
gerais que atendiam os pacientes diabéticos tinham muitas dificuldades
com relação ao tratamento adequado, especialmente com o uso de
insulina”, conta.
Diehl explica que a maioria dos diabéticos é
tratada por clínicos gerais e não por especialistas. “Mais da metade
desses pacientes vão acabar precisando de insulina em algum momento do
tratamento. Portanto, se o clínico geral não estiver apto a iniciar ou
ajustar a insulina adequadamente, pode haver um controle ruim da doença e
várias complicações sérias”, explica o criador do jogo.
O
InsuOnline foi criado para ser usado em PCs, laptops ou aparelhos
móveis. No game, o jogador assume o papel de um jovem médico que, de
repente, se torna responsável pelo atendimento de pacientes com diabetes
em uma unidade básica de saúde, porque o médico mais experiente vai
tirar férias. Assim, o jovem se vê obrigado a aprender como administrar a
insulina corretamente. “O objetivo do jogador é atender todos os
pacientes do game e tomar as decisões mais adequadas com relação ao
ajuste de insulina em cada caso. O jogo é montado com uma série de
pacientes. Cada um deles é um nível do jogo, começando dos mais simples
até as situações mais complexas”, explica Diehl. Para isso, o jogador
conta com a ajuda do médico mais experiente e da enfermeira da unidade,
que dão dicas sobre as decisões dele, explicando por que ele errou e
parabenizando-o quando ele acerta.
Depois de vencer a fase
nacional do ImagineCup, em abril, o médico fez alguns ajustes para a
etapa internacional. “O game já está funcionando, mas queremos levá-lo
perfeitamente, impecável, para que possamos ter condições de brigar
seriamente pelo título. Afinal, os competidores brasileiros têm a
tradição de ficar muito bem colocados nessa competição, tanto que foram
vencedores em várias categorias nos últimos cinco anos”, destaca.
O
InsuOnline ainda não tem um valor definido, mas o criador adianta que
ele será uma opção de baixo custo. “Com certeza, esse game será uma
alternativa barata de educação médica continuada.”
Novidades
bem-vindas Recursos tecnológicos que facilitam o controle do diabetes
têm sido criados frequentemente no campo tecnológico e são mais que
bem-vindos, segundo Daniel Benchimol, neurologista e professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Jogos como esse são um
recurso interessante, que auxilia a área de tratamento da doença. Hoje,
temos muitos aplicativos que ajudam os pacientes a se alimentar
adequadamente, apontando as calorias de cada refeição e alarmes que
lembram a hora de tomar os remédios”, menciona.
Para Benchimol, o
InsuOnline é uma ferramenta útil, pois dá conhecimento a médicos de
todas as especialidades, já que, muitas vezes, no atendimento de saúde
pública, um endocrinologista nem sempre está disponível para esses
pacientes.
“Por ser um tratamento diário, os diabéticos acabam
relaxando e não tomam a dose certa do medicamento. O que pode ser
agravado caso ele seja atendido por um médico que não sabe como proceder
para regular uma dose de insulina consumida erroneamente. Orientar
médicos nessa área é de vital importância”, avalia o especialista.
Fins sociais
A
Imagine Cup, promovida pela Microsoft, busca estimular os jovens a
refletirem sobre como a tecnologia pode ajudar a resolver problemas
atuais. A etapa mundial deste ano será disputada entre 8 e 11 de junho,
em São Petesburgo, na Rússia. No ano passado, a iniciativa contou com
245 mil inscritos, de mais de 190 países. Nos últimos anos, o Brasil foi
recordista em número de projetos inscritos, e reconhecido mundialmente
em diversas categorias, sendo tricampeão em Games. Em 2012, o país foi o
terceiro em número de inscritos (33 mil), ficando atrás apenas da China
e da Índia.
Autismo e conceitos da física
A etapa brasileira
da ImagineCup premiou outros dois projetos. Porém, por terem vencido
nas categorias Inovação e Game, os inventos, que também são jogos para
computador, não garantiram presença na etapa mundial automaticamente e
aguardam avaliação da Microsoft, organizadora do evento.
Criado
por alunos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o Can Game busca
ajudar crianças com autismo, melhorando o desenvolvimento cognitivo e
reduzindo a agressividade e a agitação. “Usamos a tecnologia do Kinect.
Por meio dele, a criança é monitorada pela câmera e precisa realizar
movimentos para melhorar o sistema motor”, explica Rodolfo Soares, de 18
anos, estudante de ciências da computação e um dos criadores do
software, vencedor na categoria Inovação.
O terceiro premiado na
etapa brasileira foi o Twinkle, desenvolvido para PCs e Xbox 360. O game
estimula o raciocínio dos jogadores, que precisam mover planetas no
espaço para solucionar quebra-cabeças, sempre levando em conta conceitos
da física. “Além da diversão, prezamos por realizar exercícios que
trabalhassem bem os conceitos da mecânica, para que o jogador, além de
se distrair, aprenda algo”, diz Marcel Barbosa, de 20, aluno de design
da Universidade Estadual Paulista (Unesp). (VS)
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