Não é uma guerra. Ainda
Ataques israelenses à Síria introduzem mais um elemento de tensão ao horror do conflito
O fato de a Síria não ter reagido parece dar razão à "nonchalance" do major-general Golan. Mas o imbróglio naquela região recomendaria mais cautela.
Afinal, como analisa Mitch Ginsburg, correspondente militar do sítio "Times of Israel", seu país "lida com um confronto na porta ao lado (com a Síria), com outro que pode ser ativado a qualquer momento (com o Hizbollah, o grupo político-militar forte no Líbano) e um terceiro que está no horizonte, com o Irã".
Afinal, o ataque a alvos na Síria visava mísseis iranianos que apenas transitavam pelo país rumo aos arsenais do Hizbollah, cujo alvo permanente é Israel.
O que significa dizer que o ataque mexeu com três atores. Ou, como disse Danny Yatom, ex-diretor do Mossad, o lendário serviço secreto israelense: "Assad muito provavelmente não vai responder agora. O Exército e o regime sírios estão quase completamente preocupados com a sobrevivência e não têm interesse em abrir uma nova frente contra Israel. Mas bem pode acontecer de que a Síria ou o Hizbollah ou o Irã levem a cabo alguma operação secreta e tentem cometer ataques terroristas contra um alvo israelense ou judaico em algum lugar do mundo".
Pode ser paranoia (os judeus têm mil e uma razões para serem paranoicos), mas vale notar, como o faz Eyal Zisser, o mais renomado especialista israelense em Síria, que os ataques romperam uma regra não escrita que diz que Israel tem o direito de monitorar o trânsito de armas iranianas pela Síria, mas não o de atacar território sírio.
Apesar de Israel e Síria ainda estarem tecnicamente em guerra, a fronteira tem estado em paz nos últimos 40 anos.
A guerra na Síria e a inércia do mundo ante os seus horrores agudizou o debate em Israel sobre o que é melhor, deixar o ditador enfraquecido no poder ou derrubá-lo de vez.
Os ataques do fim de semana parecem demonstrar que pode estar prevalecendo a opinião de um chefe da inteligência militar, Itay Baron, para quem as mil toneladas de armas químicas que ele diz que a Síria possui acabarão caindo nas mãos do Hizbollah ou de outros grupos radicais.
Atacar preventivamente seria, pois, o melhor remédio. No lado árabe, maciçamente contrário a Israel e, por extensão aos ataques, há no entanto quem se regozije, caso de Abdel Rahman Al-Rashed, ex-editor-chefe do jornal "A-Sharq Al-Awsat": "Nós deveríamos ficar felizes com os ataques de Israel às forças e armazéns de Assad porque eles acelerarão sua queda e evitarão a morte de mais sírios".
Vê-se, pois, que o major-general Golan deveria, sim, ficar tenso.
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