Luiz Ayrão, autor de sucessos românticos
gravados por Roberto Carlos, diz que seu estilo vai do samba à canção de
protesto e lembra que teve músicas proibidas pela censura
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 07/05/2013
Nascido
num ambiente musical, no Rio de Janeiro, o destino do menino Luiz
Gonzaga Kedi Ayrão, hoje com 71 anos, parecia traçado. Mas o desenrolar
da história não foi tão natural assim. Antes de se tornar cantor e
compositor de carreira sólida, ele foi seduzido pelo direito e chegou a
ser professor, advogar durante algum tempo, além de ter atuado como
procurador do Banco do Estado da Guanabara (BEG).
Um belo dia,
resolveu largar toda essa estabilidade e se enveredou por uma profissão
que se transformaria no seu ganha-pão definitivo. Primeiro como
compositor, quando aos 14 anos criou a primeira obra, Só por amor,
cantada por Roberto Carlos. O Rei chegou a gravar mais duas músicas de
Ayrão: Nossa canção, considerado o primeiro sucesso romântico de
Roberto, e Ciúme de você. A trajetória como intérprete veio um tempo
depois e mesmo assim por acaso. Em 1968, participou do festival O Brasil
canta no Rio, da TV Excelsior, com a música Liberdade... liberdade. A
composição, considerada subversiva pela censura, foi a primeira
experiência como cantor de Luiz Ayrão, que teve que subir ao palco para
defendê-la.
O artista estava disposto a deixar essa história de
microfone de lado quando, um dia, encontrou o então editor da EMI Odeon
Romeu Nunes, que ele havia conhecido durante o festival, que encomendou a
ele algumas músicas. Depois de muita insistência de Romeu, Luiz Ayrão
gravou um compacto simples com a composição Porta aberta, que estourou
em todo o país. Não parou mais. “Ganhava muito bem na época como
advogado e como funcionário do Banco da Guanabara. Pedi demissão e fui
atrás de um desafio, uma profissão que você não sabe o que vai acontecer
daí a meia hora. E durante muitos anos foi aquela rotina maluca.
Viajando demais, fazendo até três shows por dia em todo tipo de lugar.
Segui nesse ritmo até pouco tempo atrás”, conta. Com o passar dos anos,
as turnês diminuíram, mas ele continua na ativa.
De bem com sua
trajetória artística, Luiz Ayrão lembra que é também responsável por
hits como Os amantes, A saudade que ficou (O lencinho), Mulher à
brasileira, Bonequinha linda e Bola dividida. Mas, faz questão de dizer,
não ficou preso ao passado e tem um olhar atento para a atual produção
musical.
CRISE MUSICAL O cantor e compositor
lamenta a crise atual por que passa a canção brasileira. Para ele,
ninguém tem mais preocupação com letras, melodias e arranjos, e o que
conta mesmo, no fim das contas, é o dinheiro. “Como cantor, que é aquele
soldado que está na linha de frente e vai do Amazonas ao Rio Grande do
Sul, vejo que é um fenômeno geral. A música se transformou em jingle. As
pessoas querem algo instantâneo, que faça sucesso e entre na cabeça
rapidinho. O que importa é o ritmo, o barulho. Virou um espetáculo
pirotécnico. Está faltando qualidade no público ouvinte também. O Brasil
emburreceu e nivelou-se por baixo em várias coisas, não só na música.
Antigamente, fazer sucesso era alguém tirar 40 cruzeiros do bolso e
levar você para casa na forma de um LP ou CD. Hoje, infelizmente, a
coisa não é mais assim”, desabafa.
O cantor e compositor, que
também é escritor e chegou a atuar como proprietário de casas de
espetáculos em São Paulo, onde vive, acrescenta que, assim como ele,
outros artistas que não estão constantemente na mídia continuam
produzindo e mantêm público cativo. “Um médico setentão tem seus
clientes fiéis há 40 anos e isso ocorre comigo também. Quando comecei a
fazer sucesso, meus fãs tinham entre 15 e 30 anos e hoje eles
envelheceram, mas continuam gostando de mim. Mas tem uns 10% de gente
mais nova que vira e mexe me descobre e está presente nos meus shows. E
isso é bem bacana. Quando a música é boa, ela atravessa gerações”,
avalia.
Com 50 anos de carreira na composição e prestes a
completar 40 cantando, Luiz Ayrão declara que ainda não conseguiu
definir o seu estilo. Não se considera um representante do brega, como
já o chamaram, e sim um artista popular. O carioca, que também ficou
muito marcado pelos sambas que criou, conta que, certa vez, o amigo e
sambista Almir Guineto o classificou de “clínica geral”. Ayrão aprovou.
“Tive um pai que tocava valsa e samba de breque dentro de casa. Ouvia
também muito a Rádio Nacional. Se você examinar meu repertório, tem
música romântica, samba, clássicos latinos. E fora que tive uma formação
política muito forte, tanto é que não foi à toa que tive canções
censuradas pela ditadura. Sempre fui muito eclético. Faço músicas de bom
nível e, evidentemente, populares”, completa.
“Ganhava
muito bem na época como advogado e como funcionário do Banco da
Guanabara. Pedi demissão e fui atrás de um desafio”
“Tem
uns 10% de gente mais nova que vira e mexe me descobre e está presente
nos meus shows. E isso é bem bacana. Quando a música é boa, ela
atravessa gerações”
“Se você examinar meu repertório, tem música
romântica, samba e clássicos latinos. E fora que tive uma formação
política muito forte”
PERFIL
>> Luiz Gonzaga Kedi Ayrão
>> Nascido no Rio de Janeiro, em 19/1/42
>> Maior sucesso: Nossa canção
>> Estimativa de vendagem em 40 anos de carreira: 6,5 milhões
>> Disco mais recente: Mistura brasileira (2013)
Cante com Luiz Ayrão
NOSSA CANÇÃO
Olhe aqui, preste atenção
Essa é a nossa canção
Vou cantá-la seja onde for
Para nunca esquecer
O nosso amor
Nosso amor!
Veja bem, foi você
A razão e o porquê
De nascer esta canção assim
Pois você é o amor
Que existe em mim...
Você partiu e me deixou
Nunca mais você voltou
Pra me tirar da solidão
E até você voltar
Meu bem, eu vou cantar
Essa nossa canção...
Veja bem, foi você
A razão e o porquê
De nascer esta canção assim
Pois você é o amor
Que existe em mim...
Você partiu e me deixou
Nunca mais você voltou
Pra me tirar da solidão
E até você voltar
Meu bem, eu vou cantar
Essa nossa canção...
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