terça-feira, 7 de maio de 2013

Maria Esther Maciel - Divagações‏


Estado de Minas: 07/05/2013 

Na semana passada, durante um jantar na casa de amigos, ouvi o seguinte comentário de uma colega: “Hoje em dia só se fala em depressão. Ninguém mais usa a palavra tristeza. Estar triste virou sinônimo de estar deprimido”. Alguém, imediatamente, lembrou-se também da palavra “estresse” que, assim como “depressão”, tem sido usada de maneira excessiva nos dias de hoje. Não se diz mais que uma pessoa está esgotada, tensa. Ela está, sim, estressada.

Interessante como os termos vêm e vão, ao sabor da moda. Antes, a palavra usada para designar o estado de abatimento profundo, causador de desânimo e baixo-astral, era melancolia. Definida pelos antigos gregos como um mal provocado pelo excesso da bílis negra – portanto, uma enfermidade, como a depressão – ela foi depois revestida de uma aura poética pelos filósofos e escritores românticos, que a associaram à imaginação criadora, ao devaneio e à inspiração. Baudelaire foi um dos poetas do século 19 que fizeram da melancolia um estado de tristeza vital, de desencanto criativo. Ele a aliou, inclusive, ao tédio, valendo-se de um termo que mescla as duas coisas: spleen. Criou belos versos sobre o tema e enfocou, à sua luz, a condição do poeta moderno, deslocado e solitário nas ruas de uma grande metrópole, recolhendo os restos do que a cidade jogou fora ou esqueceu. Foi Freud quem, mais tarde, tirou melancolia dessa esfera poética e a reconduziu ao estado de enfermidade, no caso, psíquica.

Mas, e a tristeza? Por que ela está sumindo do vocabulário de hoje, engolida pela palavra depressão? Afinal, estar triste não é ficar doente. É um estado momentâneo, que atinge todo mundo, provocado por um acontecimento pontual. Fica-se triste por causa de uma perda, uma decepção, uma notícia ruim. Mas é um estado quase sempre provisório. Além disso, tem sua beleza particular. A depressão, não. Algo pode ser belo e triste, mas nunca belo e deprimido (ou depressivo).

Acho que faz falta, hoje, o uso do termo melancolia no seu sentido poético. Suponhamos que uma pessoa, de perfil introspectivo e contemplativo, chegue a uma cidade desconhecida. Ela vai, certamente, evitar os pontos turísticos, os bochinchos, preferindo caminhar sem rumo certo pelas ruas, perdendo-se quase sempre e descobrindo os lugares ao acaso. Vai se sentar num banco entre as árvores de uma praça, seja para ver as pessoas que passam, seja para encontrar ideias para um poema ou um conto. Pode, ainda, ir à procura de suvenires para sua coleção. Não está propriamente triste, mas carrega, no fundo, uma certa tristeza, sem peso e sem motivo explícito. O deprimido, por sua vez, se fecharia para o entorno e se enrolaria para dentro de si mesmo. Ou desistiria logo da rua, para recolher-se num quarto escuro. Já alguém que, por alguma decepção recente, está apenas triste, poderá se distrair da tristeza ao encontrar uma banda de música na esquina.

 O deprimido precisa de remédio. O triste de tempo para elaborar ou esquecer a tristeza. Cada estado tem suas peculiaridades e nuanças. O que não impede que se misture ou se confunda, às vezes, com outros.

E para não dizerem que esta crônica está triste, venho declarar minha preferência por um estado mais provisório que a tristeza, e também um pouco mais raro: a alegria

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