Energia ampliará oportunidades para o gás no país
FUNDADOR DA OGX (HOJE DE EIKE) E DONO DA OURO PRETO DIZ QUE BRASIL NÃO TERÁ OPÇÃO A NÃO SER INVESTIR EM MAIS USINAS TÉRMICAS
O caminho deve ser ampliar o uso das térmicas, aproveitando as reservas de gás existentes no país.
Para Landim, colunista da Folha, a realização da 11ª rodada, depois de cinco anos sem leilões, e a antecipação da licitação do campo de Libra, com reservas estimadas em 8 bilhões de barris, sinalizam que o Brasil se mantém como um bom lugar para fazer investimentos.
Mas duas questões podem preocupar: a obrigação de a Petrobras ser a operadora em todos os campos do pré-sal e sua capacidade de investir, já que por lei tem ao menos 30% de todos os blocos do pré-sal.
Folha - A arrecadação de R$ 2,8 bilhões na 11ª rodada de licitação da ANP superou as expectativas, em um momento em que os investidores não têm mais tanta certeza da capacidade de crescimento do Brasil, nem havia muitos blocos com rentabilidade garantida. Na sua avaliação, o que levou a esse bom resultado?
Rodolfo Landim - Há cinco anos não havia leilão e o último, o de 2008, foi muito restrito. Como se abriu agora uma área enorme, as empresas viram uma oportunidade. Sabe lá quando vai ter outro? Havia demanda reprimida.
Muito se falou que a participação da Petrobras foi tímida e que empresa abriu mão da condição de operadora [responsável pela exploração e produção] em blocos importantes para economizar, de olho nos custos do pré-sal.
A Petrobras se estruturou bem para leilão e fez parcerias com empresas distintas. De fato é novidade a empresa deixar outras operarem, mas mostra que sabe da missão importante que lhe cabe por lei: ser operadora dos poços do pré-sal e ter participação mínima de 30% em cada um.
Essas parcerias feitas agora sinalizam quem provavelmente virá com ela no próximo leilão [do campo de Libra, na Bacia de Santos, em outubro]. Na 11ª rodada a Petrobras se associou, entre outras, com a Total [França] e com a BG [Inglaterra].
Sua empresa, a Ouro Preto, estreou em leilões comprando três blocos por cerca de R$ 70 milhões. Outras empresas consideradas de pequeno porte também tiveram participação relevante. Isso indica uma abertura do mercado para as pequenas?
Na época em que os blocos custavam barato, muitas pequenas compraram e depois venderam seus direitos de exploração, ganhando muito dinheiro. Foi o caso da Petra, que agora voltou fazendo apostas fortes, principalmente nos blocos em terra.
A Ouro Preto apostou na bacia do Parnaíba, que tem dado bons resultados, principalmente com descobertas de reservatórios de gás.
Nossa avaliação é que a participação das térmicas vai crescer, na medida em que a construção de hidrelétricas fica cada vez mais difícil.
As que conseguem licença são a fio d´água [sem grandes reservatórios, o que reduz o impacto ambiental].
Mas o país não tem uma rede extensa de gasodutos, como os Estados Unidos. Isso não torna a exploração cara, já que há o problema do transporte do gás para as usinas?
Não se a energia elétrica for gerada na boca do poço e se usar a vasta linha de transmissão de energia elétrica que já existe no país. Não há gasodutos, mas há linhas de transmissão. Construo a térmica do lado do poço, gero a energia e transmito. Gradualmente, a participação das térmicas a gás na matriz energética brasileira vai aumentar.
Então pode-se imaginar que, quando esses blocos terrestres começarem a produzir gás, teremos um boom de construção de térmicas?
Sim. Cada vez fica mais difícil construir hidrelétrica. Não se consegue aproveitar todo o potencial porque não se pode mais construir grandes reservatórios para regularizar a vazão dos rios.
Os ambientalistas atrapalham?
Não diria que atrapalham, mas processos de licenciamento ambiental no Brasil são muito lentos, longos. No fundo são custos adicionais imputados àquele projeto. Com isso há tendência a afastar investidores, já que é difícil saber quanto se vai ganhar. Não sei se é certo ou errado. Só estou vendo pelo lado do empreendedor.
Não há o risco de se gastar dinheiro demais no pré-sal e, quando houver produção, o preço do petróleo ter despencado?
Há certa oferta de óleo no mundo que só se justifica aos preços de hoje, acima de US$ 80 o barril. Se baixar para US$ 70, cai a produção, inclusive de quem produz óleo e gás. A vantagem do pré-sal é que é possível produzir o barril a US$ 50. Se o preço do barril cair U$ 20 dólares, a Petrobras ainda está em situação confortável. E se não fosse assim, outras grandes empresas de petróleo não continuariam a investir em águas profundas.
E seu desafio, qual é?
A Ouro Preto é uma companhia de geólogos, geofísicos, para identificar oportunidades no setor de óleo e gás. Nosso foco principal é Brasil, foi aqui que aprendemos a andar, mas o mundo é um pouco maior e temos que ficar atentos ao que acontece ao redor, como as outras companhias fazem.
Mas qual é a expectativa de alguém que passou 26 anos na Petrobras e mais quatro trabalhando no grupo EBX, de Eike Batista, onde criou a OGX?
Sou uma companhia de petróleo e quero produzir petróleo. Passei grande parte da minha vida fazendo isso. Fui superintendente da Petrobras em Sergipe, Alagoas, na Bacia de Campos e em Urucu, na Amazônia. Minha mãe dizia que eu ia longe. E fui parar em Urucu. Isso é ir um bocado longe.
Leia a íntegra
folha.com/no1284579
RAIO-X - RODOLFO LANDIM
56 anos
FORMAÇÃO
Engenheiro formado pela UFRJ. Fez especialização em petróleo na Universidade de Alberta e em Harvard
CARREIRA
Trabalhou por 26 anos na Petrobras, onde foi gerente-geral de Operações da bacia de Campos, CEO da Petrobras Distribuidora e presidente da Gaspetro.
Foi diretor geral da MMX e CEO da OSX e da OGX.
Hoje é um dos sócios da Mare Investimentos, que investe no setor de óleo e gás, e da Ouro Preto
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