Fechados somos nós
Se sua ideia de país fechado é o Japão, pense de novo. Temos cinco vezes menos estrangeiros que eles
O Primeiro-Ministro do Japão é um sucesso. Shinzo Abe tomou posse em dezembro de 2012 e, em menos de seis meses, parece ter conseguido reverter um quadro econômico negativo que se arrastava havia anos. Nos primeiros três meses de 2013, a economia indicou crescimento anualizado de 3,5%. A popularidade de Abe supera 70%. Sua abordagem econômica ficou conhecida como "Abenomics" e lhe rendeu, só na semana passada, uma matéria muito lisonjeira no "New York Times" e a capa da revista "Economist", na qual ele aparece caracterizado como super-herói.A fase seguinte da "Abenomics" será anunciada em junho. Abe acredita que a consolidação desse processo de retomada deva incluir políticas de internacionalização do país. Por isso, adotará medidas para dobrar o número de turistas em cinco anos, aumentar a exportação da produção cultural japonesa e atrair número maior de estudantes para universidades locais.
O Japão sempre projetou a imagem de país isolado. Até 1854, seus portos estiveram fechados para a quase totalidade dos estrangeiros. Em comparação com outros países industrializados, tem um dos menores índices de população nascida no exterior. Em 2011, a Itália tinha 8% de estrangeiros. A Alemanha, 9%; e os Estados Unidos, 15%. O Japão, por sua vez, apenas 1,6%.
No entanto, se sua ideia de país fechado é o Japão, pense de novo. Olhe em volta e conte quantos estrangeiros há ao seu redor. Não serão muitos. Proporcionalmente, temos cinco vezes menos estrangeiros que o Japão. Fechados somos nós.
A proporção de estrangeiros na população brasileira (0,3%) é dez vezes inferior à média mundial. Várias causas terão contribuído para o nosso isolamento, mas as consequências dessa falta de diversidade é clara. Ao nos fecharmos ao que é de fora, tornamo-nos provincianos. A falta de estrangeiros faz o Brasil menor e mais pobre.
Os imigrantes trazem um sentido de empreendedorismo e determinação necessários a um país que quer e precisa crescer. Pode ser o garçom peruano na pizzaria em São Paulo, o pequeno empresário coreano que abre seu primeiro negócio no Paraná. Ou, ainda, o médico cubano no Maranhão ou o engenheiro húngaro no Ceará. Além de determinação, trazem conhecimento e experiência que suprem carências nacionais e promovem inovação.
Costumamos pensar na imigração como um fenômeno histórico importante --que trouxe nossos avós e bisavós para o Brasil--, mas que ficou no passado, sem relevância. Nada é menos verdadeiro. Há muitos estrangeiros que querem e merecem trabalhar aqui. Temos de aproveitar seu talento em nosso favor. Se não o fizermos, algum outro país o fará.
O governo federal já se deu conta da necessidade de atrair mais estrangeiros para o país. Recentemente, anunciou medidas para simplificar a concessão de vistos de trabalho e concedeu anistia a pessoas em situação imigratória irregular. Esse tipo de medida dará bons resultados a longo prazo. É essa a direção em que devemos seguir.
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