Estado de Minas: 14/05/2013
Acho que foi em
meados de 1996 que a conheci em Buenos Aires. Na ocasião, lá acontecia
um congresso de literatura e teatro, sediado no imponente Teatro
Cervantes. Participamos da mesma mesa e, ao final, conversamos bastante.
Ela contou-me, em bom português, que era professora de literatura
brasileira na Universidade de Buenos Aires e adorava o Brasil. Disse-me
ainda que ia com certa frequência a Pernambuco, pois realizava estudos
sobre a obra de Ariano Suassuna. Iniciava-se, nesse instante, uma boa
amizade entre nós, continuada através de cartas, trocas de livros pelo
correio, eventuais telefonemas e poucos encontros. Ela não gostava de
e-mails e pouco usava a internet.
Voltei a Buenos Aires algumas vezes depois disso. Em todas, Mónica Serra foi uma anfitriã e tanto. Costumava organizar jantares em sua casa, junto com a irmã Silvia e a amiga Elena. Morava em Olivos, região Norte da Grande Buenos Aires. É lá que fica a Estação Borges, por onde passa o colorido Tren de la Costa, que vai até Tigre – charmosa cidadezinha às margens do Rio da Prata.
Conheci belos vinhos na casa de Mónica Serra. Lá também comi as melhores empanadas argentinas de minha vida. Lembro-me especialmente de uma de queijo com cebolas. As conversas se animavam ao som de tangos e milongas. Falávamos sobre literatura, política argentina e brasileira, cinema e fatos do cotidiano. A certa altura, o português e o espanhol se misturavam nas falas, de forma divertida. Mónica tinha uma voz incisiva, que combinava bem com sua personalidade firme. Silvia também mostrava uma certa energia na voz, embora um pouco mais contida. Elena, por sua vez, era risonha e afetiva.
No decorrer do tempo, porém, nossos encontros foram ficando escassos, devido a outras demandas do trabalho e da vida. Deixei de ir a Buenos Aires com a frequência de antes, e ela, tampouco, veio ao Brasil no período. Mas nunca deixei de pensar nela com carinho e saudade. De vez em quando, trocávamos algum cartão ou telefonema. Cheguei a dedicar-lhe um artigo sobre Fernando Pessoa algum tempo atrás. Mas há mais ou menos cinco anos perdemos contato.
Na semana passada, numa rápida viagem a Buenos Aires para uma atividade acadêmica, resolvi procurá-la. Liguei para sua casa assim que cheguei, mas ouvi uma mensagem dizendo que a chamada não podia ser completada. Tentei outro número, e nada. No dia seguinte, fiquei por conta do trabalho. À noite, quando saí para jantar com os colegas, perguntei a uma professora se podia me passar o número atualizado do telefone de Mónica Serra, pois queria muito falar com ela antes de ir embora. Foi quando ouvi: “Mas ela morreu. Você não soube?”. Na hora, fiquei perplexa. Estava com uma taça de vinho na mão e a mantive parada no ar, sem saber o que fazer ou dizer. Ela percebeu meu susto e acrescentou: “Foi há uns três anos. Ela ficou doente e morreu em poucos meses”. Encerrou o assunto com um “lo siento”, sem me olhar diretamente nos olhos. Resolvi, então, não insistir nas perguntas. A primeira coisa que me ocorreu foi beber um gole de vinho em homenagem a ela, brindar à vida que teve e ao que dela permaneceu na memória das pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-la.
Buenos Aires, agora, já não é mais a mesma.
Voltei a Buenos Aires algumas vezes depois disso. Em todas, Mónica Serra foi uma anfitriã e tanto. Costumava organizar jantares em sua casa, junto com a irmã Silvia e a amiga Elena. Morava em Olivos, região Norte da Grande Buenos Aires. É lá que fica a Estação Borges, por onde passa o colorido Tren de la Costa, que vai até Tigre – charmosa cidadezinha às margens do Rio da Prata.
Conheci belos vinhos na casa de Mónica Serra. Lá também comi as melhores empanadas argentinas de minha vida. Lembro-me especialmente de uma de queijo com cebolas. As conversas se animavam ao som de tangos e milongas. Falávamos sobre literatura, política argentina e brasileira, cinema e fatos do cotidiano. A certa altura, o português e o espanhol se misturavam nas falas, de forma divertida. Mónica tinha uma voz incisiva, que combinava bem com sua personalidade firme. Silvia também mostrava uma certa energia na voz, embora um pouco mais contida. Elena, por sua vez, era risonha e afetiva.
No decorrer do tempo, porém, nossos encontros foram ficando escassos, devido a outras demandas do trabalho e da vida. Deixei de ir a Buenos Aires com a frequência de antes, e ela, tampouco, veio ao Brasil no período. Mas nunca deixei de pensar nela com carinho e saudade. De vez em quando, trocávamos algum cartão ou telefonema. Cheguei a dedicar-lhe um artigo sobre Fernando Pessoa algum tempo atrás. Mas há mais ou menos cinco anos perdemos contato.
Na semana passada, numa rápida viagem a Buenos Aires para uma atividade acadêmica, resolvi procurá-la. Liguei para sua casa assim que cheguei, mas ouvi uma mensagem dizendo que a chamada não podia ser completada. Tentei outro número, e nada. No dia seguinte, fiquei por conta do trabalho. À noite, quando saí para jantar com os colegas, perguntei a uma professora se podia me passar o número atualizado do telefone de Mónica Serra, pois queria muito falar com ela antes de ir embora. Foi quando ouvi: “Mas ela morreu. Você não soube?”. Na hora, fiquei perplexa. Estava com uma taça de vinho na mão e a mantive parada no ar, sem saber o que fazer ou dizer. Ela percebeu meu susto e acrescentou: “Foi há uns três anos. Ela ficou doente e morreu em poucos meses”. Encerrou o assunto com um “lo siento”, sem me olhar diretamente nos olhos. Resolvi, então, não insistir nas perguntas. A primeira coisa que me ocorreu foi beber um gole de vinho em homenagem a ela, brindar à vida que teve e ao que dela permaneceu na memória das pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-la.
Buenos Aires, agora, já não é mais a mesma.
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