terça-feira, 14 de maio de 2013

Para diretor, falta dinamismo no cinema brasileiro

folha de são paulo

Um certo olhar
Com destaque para os filmes 3D, a 66ª edição do Festival de Cinema de Cannes terá grandes diretores e pouco espaço para o cinema brasileiro
RODRIGO SALEMENVIADO ESPECIAL A CANNESNo momento em que a sala Debussy do Palais des Festivals projetar para uma plateia de cerca de 2.000 pessoas, todas com estranhos óculos na face, Cannes estará dando início a sua 66ª edição de forma histórica.
A exibição, nesta quarta, de "O Grande Gatsby", do diretor Baz Luhrmann, marca a estreia de um filme com atores em 3D na abertura do festival de maior prestígio do planeta --em 2008, a animação "Up - Altas Aventuras" abriu o evento.
"Cannes é um reflexo da atividade do cinema. Se o 3D estiver forte, ele terá espaço", afirma o diretor artístico do evento, Thierry Frémaux. "Acho que até temos poucos títulos em 3D neste ano."
Poucos, mas muito simbólicos. Em 2013, além de um 3D abrir o evento, a França mostrará como Jean-Luc Godard, um de seus cineastas mais importantes, está trabalhando com a tecnologia.
Godard, que prepara um longa em 3D chamado "Adeus à Linguagem", apresentará na Semana da Crítica o "The Three Disasters", parte de um projeto com o cineasta inglês Peter Greenaway e o português Edgar Pêra.
Além disso, Bernardo Bertolucci mostrará seu clássico "O Último Imperador" convertido em 3D, e uma das maiores estrelas da Índia, Sherlyn Chopra, participará com "Kamasutra 3D".
"Ninguém reclama por colocarmos filmes 3D em Cannes, mas sinto que a empolgação com essas obras é menor do que há cinco anos", diz Frémaux, sem perder sua visão crítica.
"Admiro que os cineastas estejam usando 3D menos como truque e mais como escolha artística. O 3D, para eles, está sendo visto como o preto e branco, o cinemascope ou o technicolor."
PESOS-PESADOS
Cannes terá também nomes de peso que não investiram em novas tecnologias.
Ethan e Joel Coen chegam com ares de favoritos com "Inside Llewyn Davis".
Apesar de ter vencido o Oscar pelo roteiro de "Fargo" (1996) e direção, filme e roteiro adaptado por "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007), a dupla passou de mãos vazias duas vezes por Cannes.
A concorrência não é fraca, contudo. Roman Polanski e Jim Jarmusch entram com a força de seus nomes com "Venus in Furs" e "Only Lovers Left Alive", respectivamente. Com "Le Passé", o iraniano Asghar Farhadi compete pela primeira vez desde o Oscar de melhor filme estrangeiro por "A Separação", em 2012.
Os franceses comparecem com mais da metade do line-up. Entre os favoritos, "Jimmy P.", de Arnaud Desplechin, e "Jeune & Jolie", de François Ozon.
Dos Estados Unidos vêm "Nebraska", novo road movie de Alexander Payne, e "The Immigrant", de James Gray, que teve quatro de seus cinco filmes selecionados para a Palma de Ouro.
A mostra paralela "Un Certain Regard" traz também nomes experientes do cinema.
Sofia Coppola abre o evento com "The Bling Ring"; já a francesa Claire Denis mostra seu longa "Les Salauds".
James Franco atua e dirige no filme "As I Lay Dying" e Hany Abu-Assad revela seu projeto "Omar".
BRASIL
O momento do cinema brasileiro não é dos melhores no festival. O país disputou uma Palma há cinco anos, com "Linha de Passe".
Em 2013, os esperados "Serra Pelada", de Heitor Dhalia, "Praia do Futuro", de Karim Aïnouz, e "Quando Eu Era Vivo", de Marco Dutra, não ficaram prontos a tempo para o evento francês.
O país ficou relegado a seções paralelas com os curtas "Pátio", de Aly Muritiba, na Semana da Crítica, e "Pouco Mais de um Mês", de André Novais Oliveira, na mostra Quinzena dos Realizadores.

    Para diretor, falta dinamismo no cinema brasileiro
    DO ENVIADO ESPECIALDesde 2001 na direção artística do festival de cinema mais importante do mundo, Thierry Frémaux, 52, é uma das personalidades mais conhecidas do cinema europeu. É ele que pensa nos filmes e convidados que farão a seleção de Cannes gerar prestígio. Leia, a seguir, trechos de entrevista à Folha.
    -
    Folha - A seleção oficial do ano passado, vencida por "Amor", de Michael Haneke, foi muito criticada. Em 2013, o festival vai reunir gente como os irmãos Coen, Steven Soderbergh e Roman Polanski. Qual a importância desse elenco?
    Thierry Frémaux - O propósito de Cannes é receber filmes esperados de grandes diretores e propor descobertas de novos talentos, filmes e países. Somos criticados por incluir cineastas em grande número, mas quando eles não estão no festival, também nos atacam!
    "Na Estrada" é dirigido por Walter Salles, mas o filme não é puramente brasileiro. Desde 2008 que o Brasil não tem um filme na competição. E é o segundo ano consecutivo também sem longa na mostra "Um Certo Olhar". Por que?
    Não assisti a muitos longas brasileiros neste ano e não sinto o cinema brasileiro dinâmico hoje. Talvez eu esteja errado. É um país com uma bela história e a honramos no ano passado. Há lugar para o cinema brasileiro em Cannes. Então mandem os filmes!

      Nenhum comentário:

      Postar um comentário