Conversei com um pequeno grupo de mulheres, amigas entre si e mães de adolescentes, a respeito dos desafios que elas enfrentam na educação dos filhos. E eles não são poucos, não é verdade? Em tempos em que há tanto adulto querendo viver como adolescente, para os verdadeiros jovens é duplamente difícil passar por essa fase.
Bem, nessa conversa que durou pouco mais de uma hora, algumas questões centralizaram a atenção de todas. As opiniões das mães eram semelhantes, por isso achei interessante trazer algumas delas para nossa reflexão.
O primeiro ponto, unanimidade entre elas, foi o que elas chamaram de "diálogo com os filhos". Essas mães procuram resolver quase tudo na base da conversa. O problema, elas contaram, é que essa estratégia considerada tão importante não funciona.
Primeiramente, pedi que explicassem o que consideram "diálogo com os filhos" e em quais situações usam o recurso. Surpresa! Disseram usar o tal diálogo para tudo.
Dialogam para cobrar as responsabilidades dos filhos, para negar um pedido deles que consideram inadequado, para mostrar que o que fizeram é errado etc. E tome diálogo o dia todo!
Pedi que uma das mães explicasse como usa o diálogo com a filha de 14 anos, toda vez que ela pede para ir a uma balada para menores.
A mãe disse que explica à filha que ela ainda não tem idade, que nesses locais há oferta de bebida alcoólica e o cérebro dela não está preparado para isso, que ela terá tempo para fazer isso etc.
E por que não funciona? Porque a filha já mentiu para a mãe que ia dormir na casa de uma amiga e foi para uma balada. A mãe descobriu porque, coincidentemente, um amigo dela estava no local, viu a garota e a avisou.
Foi difícil essas mães entenderem que isso que elas pensam ser diálogo, na verdade, não é. O que elas fazem são tentativas de convencer os filhos com palavras, argumentos e discursos de que a posição delas é a certa e, por isso, eles devem aceitá-la.
Que ingênuo engano, não é verdade? Como tentar convencer os jovens de que eles ainda devem obedecer às normas familiares? Essa é uma batalha perdida de antemão.
Os pais de adolescentes precisam aceitar que, em determinadas situações, não há diálogo, ainda. Há troca de informações, de opiniões, mas, se os pais não aceitam o pedido feito, negado está. Tratam-se de decisões que dizem respeito à vida dos filhos --poucas, de fato-- que os pais tomam e ponto final.
Outro exemplo dado foi o "diálogo" que as mães tentam travar com os filhos sobre a vida deles. Elas querem saber de quase tudo para que possam, segundo elas, orientá-los. Querem saber quem eles namoram, com quem ficam nas festas, se usaram alguma droga e por aí vai.
Os filhos escapam, dão respostas monossilábicas, desviam do assunto, dizem que a conversa não tem nada a ver. Com razão, defendem sua privacidade, já que, nesse caso, não há diálogo algum.
Outro ponto interessante foi que várias mães acham "normal" que o filho tenha documento falsificado com idade maior. Uma, inclusive, disse que ajudou o filho a tirar o documento. Elas disseram que, como fizeram isso na adolescência, consideram normal também que os filhos façam a mesma coisa.
Este é o problema: muitos pais fizeram mesmo isso quando jovens. Mas de maneira diferente, porque faziam bem escondido dos pais e isso significava assumir a responsabilidade pelo que faziam. De qualquer maneira, não são mais jovens. E pais sempre serão caretas para os seus filhos.
Além disso, o mundo mudou. Uma mãe disse que tinha documento falso para entrar no cinema. Hoje, usam em baladas regadas a álcool, situação bem mais arriscada.
Educar filhos adolescentes não tem sido tarefa fácil, principalmente porque o mundo adulto tem pensado e agido de forma bem parecida com a deles. Quem tem filhos nessa idade precisa assumir sua maturidade, não é verdade?
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".
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