segunda-feira, 17 de junho de 2013

Polícia criou 'metamanifestação' com violência

folha de são paulo
OPINIÃO GUERRA DA TARIFA 
Cidade para por muitas razões --como no Natal, na Paulista--, não só pelo trânsito provocado pelos protestos
ANTONIO PRATACOLUNISTA DA FOLHAA prisão do jornalista Piero Locatelli, na passeata da última quinta (http://migre.me/f2T7x), pelo inaudito crime de porte de vinagre, diz muito sobre a postura da PM durante aquela tarde e noite. Dá, ainda, uma pista de como o governo paulista conseguiu transformar um movimento de 5.000 pessoas, cujos motivos pareciam questionáveis a quase metade da população, num poderoso imã de insatisfações --a se crer nas confirmações via Facebook, dezenas de milhares podem comparecer hoje à 5ª Manifestação do Movimento Passe Livre, no largo da Batata.
Piero, repórter da Carta Capital, estava no viaduto do Chá filmando a polícia revistar alguns manifestantes, quando um PM pediu para que ele também abrisse sua mochila. Havia ali uma garrafa de vinagre --substância que, ao ser inalada, minimiza os efeitos do gás lacrimogêneo. Encontrada a garrafa, ele foi detido e levado para o 78º DP.
Se a produção, o porte e o consumo do ácido acético não configuram crime em território nacional, por que o jornalista foi preso? Porque o vinagre era indício de que ele estava ali para a manifestação --e sair às ruas para manifestar-se, como indicam a detenção do repórter e os relatos, fotos e vídeos dos feridos pelas balas de borracha e golpes de cassetete naquela noite, é visto pelo governo como uma atividade criminosa.
Justificando as ações da PM, o governador Geraldo Alckmin afirmou que "A polícia tem o dever de preservar o direito de ir e vir". Muito acertadamente, um tuiteiro lembrou que a decoração natalina das agências bancárias da Paulista também restringe o direito de ir e vir, a cada dezembro, e ninguém jamais foi preso ou tomou tiro de borracha no rosto por causa disso. Pelo contrário, nos últimos anos a CET fechou algumas vezes as pistas da avenida, em certas horas do dia, para que os pedestres apreciassem os enfeites.
A constatação acima não significa subscrever o slogan "Se a tarifa não baixar, São Paulo vai parar", apenas aceitar o fato de que nossa cidade (ou uma parte dela) para por outras razões, sem que seja enviada a Tropa de Choque. Seria a discussão sobre o preço do transporte público motivo menos nobre do que as luzinhas e as renas do Papai Noel?
Se na última quinta a polícia houvesse acompanhado os manifestantes pacificamente, ou os bloqueado e tentado negociar, talvez o MPL tivesse perdido força. Talvez alguns dos participantes tivessem partido pro quebra-quebra e o movimento acabaria desmoralizado perante a opinião pública. A violência da PM, contudo, criou para hoje essa metamanifestação: é o direito de ir às ruas, mais do que o preço do ônibus, o que parece motivar as 186.014 pessoas que, até a conclusão deste texto, haviam confirmado a presença no largo da Batata, pelo Facebook.
Claro que nem todo mundo vai --para muitos, dizer que irá já é uma forma de dar apoio-- mas é fundamental que o governo se prepare para um evento de grandes proporções. É imprescindível que a polícia se comporte de maneira radicalmente diferente do que fez na quinta: não só para que se garanta um dos direitos mais básicos da democracia, mas para evitar uma tragédia.

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