domingo, 18 de novembro de 2012

CASO BRUNO - O JULGAMENTO » De ídolo a vilão em três tempos - Tiago de Holanda‏

Como o ex-goleiro Bruno, menino pobre criado na periferia da Grande BH, alcançou a glória e, pouco depois, trocou a fama e o carinho da torcida por uma cela no presídio 

Tiago de Holanda
Estado de Minas: 18/11/2012 
Bruno Fernandes das Dores de Souza parecia ser apenas mais um menino pobre. Na favela onde cresceu, em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte, muitos garotos também se criavam aos cuidados de pessoas que não eram seus pais biológicos. Descalços e com bolas gastas, jogavam futebol nos campinhos de terra da vizinhança. Sem dinheiro para comprar chuteiras, participavam de testes em clubes amadores e profissionais. Alimentavam o sonho de se tornarem celebridades do esporte. Entre tantas ambições frustradas, Bruno poderia ter sido somente mais um — mas não foi.

O garoto cresceu e prosperou. Defendeu três dos mais populares times do Brasil, ganhou milhões de reais, foi eleito um dos melhores goleiros em atividade. Virou ídolo. Breve foi a glória, porém. Poucos anos depois, Bruno deixou tudo escapar — e de forma espantosa. Foi denunciado por mandar matar com crueldade Eliza Silva Samudio, jovem de 24 anos que, meses antes, havia dado à luz. O motivo da atrocidade, segundo o Ministério Público, foi o fato de o atleta não querer assumir ser pai de Bruninho, nem arcar com os custos de mantê-lo. Bruno abandonou os gramados e, em julho de 2010, foi preso.

O julgamento que começa amanhã pode condená-lo a viver algumas décadas encarcerado e reforçar sua decadência. Recusando-se a acreditar que ele seja culpado, familiares e amigos gostam de lembrar o esforço do menino tímido e pobre, que chegou a vender picolé e não tinha como pagar a passagem de ônibus. No entanto, ainda na juventude, Bruno mostrou temperamento agressivo e encrenqueiro. Tanto que um antigo vizinho, sem querer se identificar, disse não ter se surpreendido “quando saiu essa história da Eliza”. Mesmo depois de famoso, o atleta continuou a arrumar confusões, principalmente fora de campo.
ASCENSÃO

Bruno nasceu em Belo Horizonte, em 23 de dezembro de 1984, antevéspera de Natal. Ao dar à luz, Sandra Cássia Souza de Oliveira tinha 17 anos. Ainda grávida, foi morar na casa da família do pai do bebê, Maurílio Fernandes das Dores, em uma favela no Bairro Santa Efigênia, Região Leste da capital. São nebulosas as circunstâncias que levaram o futuro esportista a ser criado por sua avó paterna, Estela Santana Trigueiro de Souza. Em depoimento à polícia, Estela contou que Bruno tinha apenas três dias de vida quando Sandra, “pessoa muito complicada”, o abandonou no hospital, “alegando que ele estava passando mal”. A avó, então, assumiu a responsabilidade.

No entanto, essa versão é negada pela avó materna de Bruno, a professora aposentada Lucely Alves de Souza, de 68. Segundo ela, Sandra cuidou do pequeno até se mudar para Teresina (PI) com Maurílio e Rodrigo, segundo filho do casal, dois anos mais novo que o irmão. “Ela (Sandra) foi embora acompanhando Maurílio, que tinha arrumado um emprego como motorista, não sei se de ônibus ou caminhão”, relata Lucely. “Ela não abandonou (Bruno). Deixou ele (sic) com dona Estela, que o criou direitinho, pôs pra estudar”, avalia.

Apesar dos elogios de Lucely, os desentendimentos entre os lados paterno e materno de Bruno começaram cedo, antes mesmo de seu nascimento. Enquanto Estela desaprovava Sandra, Lucely torcia o nariz para Maurílio. “Ele fazia um monte de coisa errada, não era flor que se cheirasse. Não queria ele dentro da minha casa”, diz a professora aposentada, que evitava visitar a filha em seu novo endereço. “Quando ia, ficava no portão, não gostava de entrar”, recorda. Por isso, quando Sandra e Maurílio foram embora, Lucely e o marido, Willer, perderam contato com o neto. “Nem sabíamos para onde dona Estela se mudou depois”, ressalta Lucely.

Aos sete anos, Bruno se estabeleceu com a família em uma favela no Bairro Santa Matilde, em Ribeirão das Neves. Ele e outros garotos jogavam bola em campinhos de terra batida. O extinto campo atrás do cemitério, por exemplo, era conhecido como Caveirinha. Outro campo, localizado em um terreno baldio rodeado por morros, tinha o nome de Buracão. Para ganhar dinheiro, chegou a percorrer ruas da cidade vendendo picolé em uma caixa de isopor. Também capinava quintais alheios, lavava calçadas e carros. Com esses trabalhos, conseguiu comprar chuteiras quando, aos 12 anos, passou a jogar no time da Escolinha de Futebol Palmeiras, comandada até hoje pelo técnico Edson Alves, o Fera.

Bruno era quieto, de poucas palavras, descreve Edson. Muito alto para a idade, o que facilitava a vida do goleiro, o garoto apresentava deficiências quando se tratava de defender bolas baixas. “No chão, era ruim. Tanto que, em nossos jogos, ele (Bruno) entrava mais no segundo tempo, quando a gente já estava ganhando de dois, três a zero, com a vitória quase garantida”, lembra Edson. O garoto era disciplinado. “Nunca presenciei uma briga dele dentro de campo. Nunca vi xingar ou bater em ninguém”, enfatiza o técnico.

Mais tarde, Bruno treinou por alguns meses nas categorias de base do seu primeiro time profissional, o Democrata Futebol Clube, em Sete Lagoas, também na Região Metropolitana. Em seguida, apesar de continuar com dificuldade em bolas rasteiras, foi aprovado em um teste no Venda Nova Futebol Clube, sediado em Venda Nova, periferia de BH. “Tinha qualidade, mas não parecia que seria um dos melhores goleiros do Brasil”, lembra José Valmir de Menezes, de 42, técnico do Venda Nova há duas décadas. Em campo, Bruno deixava a timidez de lado. “No jogo, ele se transformava. Sempre foi líder”, constata o técnico.

PROBLEMÁTICO E TEMPERAMENTAL Desde as primeiras partidas pelo Venda Nova, o comportamento do goleiro foi bem diferente daquele observado por Edson, o outro técnico. “Sempre foi um rapaz problemático, temperamental. Às vezes, passava do limite na ânsia de vencer. Não levava desaforo pra casa. Xingava, queria bater no adversário. Isso tinha bastante. Se deixasse, ele partia pra porrada mesmo”, diz Valmir, que precisava aconselhar o pupilo. “A gente resolvia na conversa, não era nada grave. Ele não levantava a voz, ouviu o que eu falava”. O treinador pagava as passagens de ônibus de Bruno. “Era um garoto pobre. De vez em quando, fazíamos uma vaquinha pra dar uma cesta básica a ele porque estava passando necessidade”, relata.

A postura brigona descrita por Valmir é confirmada por um morador de Ribeirão das Neves que não quis de identificar. Vizinho da casa onde o jogador foi criado pela avó, em uma favela do Bairro Santa Matilde, o homem sempre evitou se relacionar com ele e sua turma. “Desde moleque, se misturava com gente que não presta. Bebiam demais, caçavam confusão. Bruno bateu muita boca com o pessoal aqui. Era meio estourado, agressivo”, relata o vizinho, hoje com 44 anos. Mesmo em peladas despretensiosas, o goleiro se descontrolava. Já defensor do Galo, participando de um “rachão” em Neves, partiu para cima de um integrante do time adversário. “Eu vi a cena. Ele chamou meu amigo, que era pedreiro, de assalariado. O cara se sentiu humilhado”, diz o vizinho, e conclui: “Por tudo isso, não me surpreendi quando saiu essa história da Eliza”.
AUGE

Aos 17 anos, após breves passagens pelo Tombense Futebol Clube — da cidade de Tombos, na Zona da Mata de Minas — e pelo Cruzeiro Esporte Clube, Bruno se juntou aos juniores do Clube Atlético Mineiro. Em 2004, foi promovido para o nível profissional, mas só estreou no time em 6 de novembro do ano seguinte, na derrota por 2 a 1 para o Goiás, no Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão. Em seu primeiro contrato, o salário foi fixado em R$ 3,5 mil, de acordo com a noiva do atleta, a dentista Ingrid Calheiros Oliveira, de 26 anos. “Ele me disse que se achou rico”, recorda ela, rindo.

Antes mesmo de sua estreia, Bruno já arrumou as primeiras confusões. Em setembro de 2005, brigou com torcedores e acabou na delegacia. No ano seguinte, ofendeu uma bandeirinha, perdeu uma ação na Justiça e foi obrigado a pagar R$ 6 mil como indenização por danos morais. As boas atuações garantiram a Bruno o posto de titular do Galo. Em meados de 2006, teve passagem relâmpago pelo Corinthians. Com contrato para ficar no clube até o final do ano, foi liberado menos de três semanas após ser admitido. Em entrevista ao programa Fantástico, concedida em 2010, o técnico alvinegro Emerson Leão, agora à frente do São Caetano, explicou que a saída do goleiro foi motivada por uma discussão em uma balada. “Ele falou alguma coisa para um filho de um diretor em algum lugar noturno e o pai comunicou à presidência. Competência ele tinha, mas já era complicado”, alegou Leão.

Do Corinthians, Bruno foi para o Flamengo. E atingiu o auge. De 2007 a 2009, foi tricampeão carioca e eleito o melhor goleiro do estadual. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) o escolheu como terceiro melhor goleiro dos campeonatos brasileiros de 2006 e 2009, ano em que o time conquistou o título. O sucesso nos gramados se traduziu em mais dinheiro. Segundo informa um amigo muito próximo a Bruno que não quer ser identificado, o primeiro contrato no Flamengo estabelecia remuneração inicial de R$ 40 mil,  mais de 11 vezes superior aos salários do começo da carreira no Atlético. Em 2007, quando renovou o vínculo com o clube do Rio por mais cinco anos, o salário  foi elevado para R$ 100 mil, com acréscimo garantido de R$ 10 mil a cada seis meses, segundo Ingrid. Olheiros de Benfica (Portugal) e Milan (Itália) manifestaram interesse pelo jogador.

Para o Rio, o goleiro levou sua então esposa, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza. Quando os dois se conheceram, em Ribeirão das Neves, ele tinha 14 anos e ela 12. Logo começaram a namorar. Casaram-se cedo, o rapaz com 19 anos e a moça com 17. Passaram a dividir o primeiro andar da casa de Estela, a avó paterna de Bruno. Não demorou para Dayanne descobrir a infidelidade do marido, que “estava saindo com uma menina” na cidade, segundo ela declarou à polícia. Os dois tiveram duas filhas. Na capital fluminense, a família morava em um apartamento no Recreio dos Bandeirantes. O casamento desandava. “Bruno saía muito. Tinha dia que nem aparecia em casa. Às vezes, saía para concentrar no sábado de manhã e voltava só na segunda”, contou a ex-mulher.

As brigas do casal se multiplicavam. No período em que morou com a família, um primo de Bruno, o menor de idade J. L. L.R., observou que o “relacionamento já estava bastante saturado”, disse em depoimento à polícia. “Dayanne tinha conhecimento das gandaias envolvendo o marido e de seus relacionamentos extraconjugais. Eles discutiam, mas segurar o homem como?”, J. questionou, sem esperar resposta. Em 2008, o goleiro engatou um namoro com a dentista Ingrid. A esposa só ficou sabendo em abril de 2009. Dayanne e as filhas se mudaram para outro apartamento, mas todas as contas continuaram a ser pagas por Bruno, segundo garantiu a própria traída.

Assim como havia ocorrido quando jogava no Galo, o atleta continuava a criar tumultos. Em 2008, um torcedor prestou queixa na polícia: teria levado uma surra de Bruno e seus seguranças. A Justiça determinou que o atleta doasse alimentos para uma instituição no Rio. No mesmo ano, envolveu-se na primeira confusão pública com mulheres que rondam boleiros. Em uma noitada no sítio de Bruno em Esmeraldas, na Grande BH, o jogador Marcinho teria agredido uma das oito acompanhantes presentes. Bruno foi acusado de não prestar socorro. Em 2010, saiu em defesa do polêmico atacante Adriano, que havia dado tapas na noiva. “Qual de vocês que é casado que nunca brigou com a mulher? Que não discutiu, que não até saiu na mão com a mulher, né, cara?”, perguntou Bruno.

NOIVO DE INGRID Em 2009, o goleiro pôs uma aliança no dedo de Ingrid. Ela acredita que o pedido de noivado, feito logo após ser divulgada a gravidez de Eliza, funcionou como um pedido de desculpas. Bruno conheceu Eliza em um churrasco na casa de Paulo Victor, atual goleiro titular do Flamengo. Fizeram sexo uma vez só. A moça havia iniciado carreira de atriz com um filme pornô. Ainda em 2009, Eliza acusou Bruno de tê-la sequestrado, ameaçado de morte, agredido fisicamente e tentado forçá-la a tomar comprimidos abotivos. A Justiça condenou o mineiro.

Com Bruninho no colo, Eliza procurou o goleiro inúmeras vezes, para pedir que ele pagasse pensão para o bebê. Tudo foi em vão. “Ela estava reclamando que não aguentava mais ficar pedindo dinheiro para Bruno, para sustentar seu filho. A condição que Bruno impôs para resolver a situação é que Eliza retirasse a queixa de sequestro e agressão”, contou à polícia uma amiga da muher, Larissa de Olivera Barcelos. Outra amiga, Milena Baroni Fontana, relatou que, no início da gravidez, Eliza se encontrou com o homem em um hotel. “Bruno entrou no quarto, puxou os cabelos dela e disse para ela desmentir a gravidez para a imprensa”, depôs Milena. A própria Eliza declarou à polícia que, no dia em que sofreu um sangramento e foi atendida no hospital, telefonou para Bruno, contou o ocorrido e ouviu a resposta: “Eu quero que você morra e se f..., pois você é um problema só seu”.


QUEDA

Em 2010,  Ingrid descobriu a existência de Fernanda Gomes de Castro, hoje com 35 anos. Inicialmente, Bruno tentou esconder mais essa “escapada”, dizendo a Ingrid que Fernanda era namorada de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, o braço direito do goleiro. Ingrid não gostava da presença quase ininterrupta do amigo e ajudante de ordens do noivo. “Macarrão se intrometia no meu relacionamento com Bruno”,  contou à polícia.

Quando Bruno se fixou no Rio, era a esposa Dayanne quem gerenciava suas finanças. “Ela tomava conta do dinheiro. Sempre ficou com o talão de cheque, o cartão do banco”, confirma um antigo secretário particular do goleiro, sem querer se identificar. No pagamento das contas, a mulher era auxiliada por um funcionário do então empresário do atleta, Eduardo Uram. Um dia, Bruno se afastou de Uram. “Ele se desentendeu com o empresário e ficou sem saber como resolveria as coisas. Foi quando pediu para Macarrão vir ao Rio para ajudá-lo”, conta Ingrid.

Macarrão, que também morava em Ribeirão das Neves, ganhou o apelido devido aos cabelos compridos e cacheados. Trabalhou no Ceasa puxando carrinho e como conferente,  segundo disse em depoimento à polícia. Tornou-se amigo de Bruno na infância. No início de carreira do goleiro, chegou a lhe dar dinheiro para que conseguisse ir aos treinos. Com o tempo, a relação entre os dois foi se firmando. Eles se tratavam como irmãos. Em mais de uma ocasião, Bruno disse que se fosse jogar na Europa, levaria Macarrão. O outro fez, no dia 4 de junho de 2010 – horas antes de sequestrar Eliza –, uma tatuagem nas costas: “Bruno e Maka. A amizade, nem mesmo a força do tempo irá destruir, amor verdadeiro”.

Por alguns meses, Macarrão morou no sítio em Esmeraldas. Trabalhava como uma espécie de administrador, responsável por admitir ou dispensar empregados, contratar serviços, executar reformas. Antes de se mudar para o Rio, já frequentava o apartamento de Bruno e Dayanne. Muitos amigos do goleiros reclamavam dos zelos de Macarrão. “Ele tinha ciúme de todo mundo, dos amigos do Bruno, de quem quer que se aproximasse. Ele tentava afastar as pessoas do Bruno. Na época, a Dayanne me avisou que ele me afastaria. Não acreditei, mas ele conseguiu”, relata um antigo secretário do jogador.

Além de Macarrão, muita gente buscava estreitar laços com Bruno à medida que fama e conta bancária cresciam. “Até mesmo pessoas que não gostavam dele passaram a ser amigas”, disse à polícia Dayanne, que se queixava das “más companhias”. “Todo mundo queria ser o bobo da corte, queria agradar. As pessoas se aproximaram dele por interesse. Acredito que ele não percebia, é muito inocente”, acredita Ingrid — ela mesma acusada por Macarrão de estar “de olho no dinheiro” do noivo, segundo a polícia. Lucely, a avó materna de Bruno, chegou a ficar hospedada por um mês no apartamento do neto no Rio, entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007. Ele era a “galinha dos ovos de ouro”, afirma Lucely. “Lá, conheci primos e amigos que ficavam nas costas dele. Ajudava todo mundo. O pessoal ia pra barzinho, pra boate, Bruno arcava com tudo”, diz.

Ao querer uma parte dos “ovos de ouro”, Eliza incomodou Bruno e seu séquito. Macarrão não era o único que evitava dividi-lo com outras pessoas. Depois que os pais do goleiro se separaram, em 1988, a mãe voltou a BH. Sandra tentou reencontrar o filho, mas só conseguiu em 2006. No início, Bruno se empolgou com a possibilidade de rever a mãe, mas, com o tempo, decidiu que era melhor manter distância. Chegou a prometer que compraria uma casa para Sandra na capital mineira, mas voltou atrás. Presenteou-a com um carro de luxo, de marca Cherokee, mas mandou devolver. Em uma festa na casa do jogador, no Rio, Sandra, alcoólatra, bebeu demais e “aprontou”, diz Lucely. Desde então, o goleiro deixou de telefonar para a avó materna, que mora em Alcobaça (BA).

Dayanne, Macarrão e até Estela, a avó paterna, jogavam Bruno contra a família da mãe, na análise de Lucely. “Aquela Dayanne não vale nada. Implicava demais, fazia fofoca sobre a Sandra. Até mandei uma carta pra Dayanne dizendo que a gente não queria roubar o Bruno de ninguém”, lembra Lucely. Apesar das provas colhidas pela polícia e pelo Ministério Público contra o atleta e os demais réus, ela acredita que o neto não participou do assassinato de Eliza e que ele foi vítima de uma armadilha. “Acho que alguém armou contra ele. Ele conseguiu tudo com muita dificuldade, não ia jogar fora a vida dele assim. Não tem essa maldade de praticar um crime bárbaro desse”, alega.

GENEROSIDADE Ingrid também acredita na inocência do noivo. Ela lembra que Bruno não hesitava em ajudar amigos e familiares de seu estado natal. No Bairro Minaslândia, Região Norte de BH, ele construiu casas para a avó Estela e para tias. Dava dinheiro e fazia outras gentilezas para antigos companheiros. Por alguns anos, em dezembro, depois que acabava o Campeonato Brasileiro, promovia torneios festivos em Ribeirão das Neves para arrecadar alimentos, a serem doados a famílias pobres.

Bruno se queixou a Ingrid de que muitos dos antigos “amigos” sumiram depois que passou a ser acusado da morte de Eliza. O contrato com o Flamengo perdura até dezembro, mas o último salário foi pago em julho de 2010, mês em que o goleiro foi preso. “É que o pagamento se dá por prestação de serviço”, justifica a noiva. A última remuneração somou vultosos R$ 150 mil, de acordo com ela. “Hoje, Bruno não tem nada. Na última vez que olhei o saldo da conta dele, tinha R$ 2,20”, conta a dentista. Em março de 2010, o saldo era de R$ 88.745,98, segundo a Justiça, que bloqueou os bens de Bruno. O atleta espera autorização judicial para vender o sítio de Esmeraldas, avaliado em torno de R$ 1 milhão.

Na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, Bruno atuou como faxineiro entre 2011 e o primeiro semestre deste ano, em troca de R$ 300 mensais, segundo Ingrid. Tentou trabalhar costurando bolas de futebol, mas a direção do presídio não autorizou. Passou a ser atormentado por privações maiores que as que sofria em Ribeirão das Neves, quando era um dos meninos magros e pobres da favela no Bairro Santa Matilde. Na cadeia, em uma das visitas da noiva, ele lamentou: “Sinto saudade de tomar banho quente, de comer comida quente, de beber água gelada. Ar-condicionado, então, só em sonho”.


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