domingo, 18 de novembro de 2012

Dor de dente atinge um quarto dos brasileiros - Carolina Cotta‏

Problema causa sofrimento, constrangimentos psicológicos e privações sociais 

Carolina Cotta
Estado de Minas: 18/11/2012 
Dor de dente sempre foi sinal de incômodo. A novidade do tema é a identificação do grupo de pessoas com maior probabilidade de desenvolver o sintoma, que atinge um quarto da população brasileira e 40% dos adultos dentados. Indivíduos pardos ou negros, com baixa escolaridade e renda, são os que apresentam maiores efeitos da dor que tem origem nos tecidos inervados do dente ou nas estruturas adjacentes. Trata-se de um fenômeno complexo que envolve componentes neurológicos, fisiológicos e psicológicos e traz como principais consequências o nervosismo e a dificuldade para comer. 
A descrição do grupo de risco para da dor de dente é resultado da pesquisa de Aline Mendes Silva de Pinho para a sua tese de doutorado em odontologia social e coletiva, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O trabalho “Determinantes da dor de dente e o impacto na vida diária de indivíduos residentes em Betim (MG)” revela como esse tipo de dor ainda causa sofrimento, constrangimentos psicológicos e privações sociais, acarretando prejuízos em nível individual e coletivo que geram impacto negativo no desempenho de atividades diárias e na qualidade de vida dos adultos brasileiros.

"A dor de dente é ainda uma condição muito prevalente na população adulta, constituindo importante problema de saúde pública. O conhecimento de sua dimensão e significado, de informações quantitativas e sistemáticas sobre outros aspectos a ela relacionados podem ser usados para avaliar e planejar esforços de prevenção e tratamento", explica a pesquisadora. Os dados podem ajudar nas diretrizes para a política de saúde bucal vigente, especialmente para a tomada de decisão quanto à alocação de recursos em saúde pública. A proposta é apresentar os resultados à Secretaria Municipal de Saúde de Betim, cidade que teve a população estudada e está localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A cárie sempre se destacou entre os fatores mais comuns para o desencadeamento da dor de dente, mas diversos outros aspectos estão relacionados. Entre eles, fatores socioeconômicos, demográficos, psicológicos, étnicos e culturais, além dos padrões de acesso e uso dos serviços odontológicos. Segundo a especialista, indivíduos com piores condições socioeconômicas apresentam também piores condições de vida e, possivelmente, maior número de agravos à saúde bucal. A dor de dente é um deles. No recente estudo, por exemplo, cor da pele, escolaridade e renda apareceram como fatores determinantes. 
Dos 744 indivíduos entre 35 e 44 anos de idade estudados, os pardos ou negros, com baixa escolaridade e baixa renda foram os que mais apresentaram dor de dente. A incidência nesses indivíduos de baixa renda e escolaridade é explicada pelo menor acesso desse grupo aos serviços de saúde bucal. Já os negros e pardos declaram visitar o dentista mais para resolver problemas percebidos do que para a prevenção. Estudos anteriores já indicavam relatos de sofrimento por mais meses de dor de dente e terem suas atividades diárias mais prejudicadas pela dor. "Eles apresentam, em geral, piores condições socioconômicas e menor acesso aos serviços de saúde bucal", explica a pesquisadora. Quem tinha pior qualidade de vida também apresentou mais dor de dente. 

CONSEQUÊNCIAS A identificação do grupo poderá ajudar as políticas públicas futuras. Mas o problema demanda medidas mais imediatas. Isso porque 39,7% dos indivíduos pesquisados apresentaram alta gravidade da dor de dente e 47,3% deles um alto impacto no que se refere à limitação social/funcional por causa da dor. O nervosismo atinge 87,2% e a dificuldade para comer ou mastigar 72,6% deles. Como a principal explicação para a dor de origem dentária na população estudada foi a ocorrência de cárie e a renda insuficiente para tratamento imediato, o ideal seria o acesso pelo Sistema Único de Saúde. 
Mas o problema de acesso é histórico. "No Brasil, os adultos não receberam cuidados odontológicos a não ser a mutilação (extração) do dente, e, apesar da mudança na política de saúde bucal nos últimos anos, muitos adultos ainda não alcançaram uma boa qualidade de saúde da boca. Além disso, a dor é quase sempre resolvida emergencialmente", explica Aline Mendes.  Da população estudada, por exemplo, 68% tiveram pouco acesso aos serviços de saúde bucal. Visitar o dentista com regularidade para que ele possa, por meio de exame clínico, acompanhar sua saúde bucal, uma das medidas preventivas mais importantes. Mas a prevenção começa em casa.

Invista em uma alimentação menos rica em açúcar. Caso não seja possível evitá-lo, priorize sua ingestão junto nas principais refeições. Escove os dentes e passe fio dental após cada refeição (café da manhã, almoço, lanches e jantar) e antes de dormir. Dê preferência ao creme dental fluoretado nas escovações, pois o flúor é um importante auxiliar no combate à cárie. Lembre-se: para evitar a dor é preciso evitar a cárie.


três perguntas para...


MAURÍCIO MIRANDA DE CARVALHO
CONSULTOR CIENTÍFICO DE PERIODONTIA E IMPLANTODONTIA 
DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA (ABO)


De repente, veio a dor de dente. De imediato, como lidar com ela?
O primeiro passo, sempre, é procurar um dentista, seja o que tem costume de atendê-lo ou em um serviço de urgência. A abordagem depende muito da origem da dor e só um dentista será capaz de avaliar. A automedicação não é aconselhada. Nem um simples analgésico deve ser tomado sem indicação. Alguns desses remédios são paliativos: aliviam a dor nas quatro primeiras horas, mas acaba o efeito e ela volta. Não resolvem o problema.
 
Quais são os erros mais comuns da população para enfrentar o incômodo? 
Por causa da odontofobia, o famoso medo de dentista, muitos pacientes tomam atitudes por conta própria. A automedicação é a principal delas. As pessoas compram remédios para dor de dente assim como compram para dor de cabeça. Mas os analgésicos podem mascarar uma infecção ou uma inflamação mais graves que a dor. Soluções práticas como colocar remédios dentro do dente são medidas desesperadas, sem resultados comprovados cientificamente. Gelo também pode piorar a dor. O principal erro é fazer qualquer procedimento sem conhecimento do dentista.
 
Evitar a dor seria o ideal, certo? O que fazer?
A palavra-chave contra a dor de dente é a prevenção. É preciso fazer um controle da cárie, um dos fatores mais favoráveis à aparição da dor, bem como das doenças gengivais. Nessas últimas, há um recuo da gengiva inflamada, deixando o colo do dente mais susceptível às dores com água quente e fria, por exemplo. O controle periódico com o dentista, a cada semestre, e a correta higiene bucal são essenciais.

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