Estreia do filme "O Hobbit" motiva reedições e lançamento de inéditos de J.R.R. Tolkien
Desenho do próprio autor que está no livro 'O Hobbit' |
RODRIGO SALEM DE SÃO PAULO
Nos anos 1920 e 1930, o professor britânico John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973) dedicava o tempo livre a esboços da narrativa mitológica "O Silmarillion", saga de seres fantásticos no universo de Eä, dividido em vários territórios. A obra só seria publicada após a morte dele.
Um dos domínios concebidos ali era a Terra-Média, cenário das histórias de pequenas criaturas habitantes de buracos com que Tolkien punha os filhos para dormir. Em 1937, essa trama mais circunscrita foi concluída e publicada sob o nome de "O Hobbit".
Tolkien temia que a autoria da obra de fantasia pusesse em risco sua bolsa na sisuda Universidade de Oxford. Mas, em três meses, as 1.500 cópias do livro evaporaram, e "O Hobbit" virou um dos maiores sucessos de todos os tempos, vendendo 100 milhões de exemplares em 40 línguas.
Seu autor se transformou num Midas. É certamente apostando nisso que a editora WMF Martins Fontes lança no Brasil duas novas versões de "O Hobbit", dois volumes inéditos e um guia visual do filme "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", primeira parte da trilogia dirigida por Peter Jackson, que estreia em 14 de dezembro.
"Um bom filme geralmente aumenta as vendas [do livro que o inspirou] em algo entre quatro e dez vezes", calcula David Brawn, editor das obras de Tolkien na inglesa HarperCollins.
Por aqui, Tolkien era pouco conhecido até 2001, quando chegou aos cinemas o capítulo inicial da trilogia "O Senhor dos Anéis", realizada pelo mesmo Jackson.
(No papel, "Anéis" foi concebido pelo britânico como continuação de "O Hobbit".)
VENDAS EM ALTA
"As vendas de 'O Senhor dos Anéis' eram pequenas, estavam em torno de 10 mil exemplares. Depois do filme, aumentaram em até 20 vezes", lembra Jaime Carneiro, diretor comercial da WMF Martins Fontes. "Esperamos algo similar com 'O Hobbit'."
As edições novas de "O Hobbit" têm mudanças apenas nas capas. A primeira vem com uma imagem do filme, e a segunda celebra o aniversário de 75 anos da obra, em cartonagem de luxo.
Já "Sr. Bliss" e "Cartas do Papai Noel" deixam a Terra-Média para mostrar um lado desconhecido de Tolkien, o do pai e ilustrador.
O primeiro, sobre as desventuras do personagem-título em seu primeiro passeio no carro novo, foi escrito e desenhado ainda nos anos 1920, mas só viu a luz do dia após a morte do escritor. Já o segundo consiste numa brincadeira de Natal, como se Papai Noel tivesse se correspondido com a família do autor.
POEMA ÉPICO
Em dez dias nas livrarias brasileiras, as novas edições de "O Hobbit" venderam 15 mil cópias, um aumento de 40% em relação ao semelhante período anterior.
A WMF Martins Fontes também lançará no país "A Queda de Arthur". O poema épico que Tolkien escreveu antes de terminar "O Hobbit" e que era considerado perdido sairá em 10 mil cópias, aposta semelhante à feita em "Os Filhos de Húrin" (2009), outro livro póstumo inédito do autor que vendeu 20 mil unidades.
REINALDO JOSÉ LOPES EDITOR DE “CIÊNCIA+SAÚDE”
Apesar do (justificado) hype em torno dos filmes de "O Hobbit", o melhor investimento tolkieniano para o suado dinheiro do leitor provavelmente não serão as novas edições do livro.
É que as versões com capa dura e com a capa que reproduz o pôster do primeiro filme são mais do mesmo -um pouco piorado, aliás, porque caiu consideravelmente a qualidade de impressão das belas ilustrações que o próprio J.R.R. Tolkien produziu.
A editora WMF Martins Fontes, no entanto, redime-se com o lançamento de duas pequenas pérolas póstumas do autor, "Cartas do Papai Noel" e "Sr. Bliss". Nos dois casos, os desenhos do autor são os astros do show.
As obras apresentam um Tolkien bastante diferente do escriba dos épicos da Terra-Média. São intimistas: embora o autor tenha até tentado emplacar "Sr. Bliss" com seus editores em vida, o livro ilustrado, quase uma "graphic novel" sem balões, foi feito para divertir os filhos dele.
E "Cartas do Papai Noel" é exatamente o que o nome diz: as missivas que o bom velhinho teria enviado aos pequenos John, Michael, Christopher e Priscilla todo santo Natal entre os anos 1920 e 1940. O autor nunca pensou em publicá-las -a organização da coletânea ficou a cargo de sua nora, Baillie Tolkien.
O sr. Bliss do título é um sujeito atrapalhado, conhecido por sua predileção por chapelões e pelo seu exótico bicho de estimação, o Giracoelho (sim, "girafa+coelho").
Já o Papai Noel tolkieniano, enquanto prepara os presentes, vê-se às voltas com as trapalhadas de seu assistente, o Urso Polar, e enfrenta invasões dos trasgos (versões mais cômicas dos orcs de "O Senhor dos Anéis").
A arte que ilustra essas aventuras infantis é surpreendentemente sofisticada, mostrando que, apesar da famosa implicância de Tolkien com o modernismo, ele seguia ao menos superficialmente as vanguardas.
E, como em toda a sua obra, coisas sérias e sombrias de vez em quando estão à espreita. O Papai Noel não deixa de mencionar os rigores da Segunda Guerra Mundial, e o Sr. Bliss abandona o automóvel ao perceber o estrago do tráfego motorizado na zona rural inglesa que amava.
Filme será projetado com nova tecnologia
DE SÃO PAULO
O Brasil não ficará de fora da maior novidade tecnológica envolvendo "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada". As principais redes do país se preparam para projetar o filme de Peter Jackson em 48 quadros por segundo (48 FPS), o dobro da velocidade normal, como deseja o cineasta.
A diferença para o espectador é na fluidez e na nitidez das imagens. Quando as primeiras cenas (em 2D) foram apresentadas em uma feira no início do ano, críticos torceram o nariz para o formato, que pareceria "uma telenovela".
Por isso, a Warner decidiu mudar a estratégia e usar a projeção em alta velocidade só em salas 3D, o que, segundo o estúdio, permite melhor visibilidade das cenas sem a perda de ilusão de ótica -reduzindo o desconforto que o 3D causa em alguns filmes.
Mas para poder projetar em 48 FPS, a maioria dos cinemas precisa investir em torno de R$ 20 mil por projetor. Mesmo assim, as redes norte-americanas apostam no formato, e o país já conta com cerca de 800 salas preparadas -total ainda distante das 10 mil projetadas por Jackson.
No Brasil, a rede Cinemark, a maior do país (464 telas) terá 35 salas em 3D equipadas para passar "O Hobbit" em todo o seu potencial. Em oito capitais, a Cinemark também exibirá as três versões estendidas de "O Senhor dos Anéis" na semana de estreia de "O Hobbit".
A UCI, com 153 salas, vai equipar dois cinemas em São Paulo para exibir o filme com a nova tecnologia.
Já a Cinépolis, com 180 salas, informa que exibirá o filme em 3D em 48 FPS, mas não diz em quantos cinemas. Os grupos Arteplex e Severiano Ribeiro foram procurados, mas não responderam até o fechamento desta edição.
Nos anos 1920 e 1930, o professor britânico John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973) dedicava o tempo livre a esboços da narrativa mitológica "O Silmarillion", saga de seres fantásticos no universo de Eä, dividido em vários territórios. A obra só seria publicada após a morte dele.
Um dos domínios concebidos ali era a Terra-Média, cenário das histórias de pequenas criaturas habitantes de buracos com que Tolkien punha os filhos para dormir. Em 1937, essa trama mais circunscrita foi concluída e publicada sob o nome de "O Hobbit".
Tolkien temia que a autoria da obra de fantasia pusesse em risco sua bolsa na sisuda Universidade de Oxford. Mas, em três meses, as 1.500 cópias do livro evaporaram, e "O Hobbit" virou um dos maiores sucessos de todos os tempos, vendendo 100 milhões de exemplares em 40 línguas.
Seu autor se transformou num Midas. É certamente apostando nisso que a editora WMF Martins Fontes lança no Brasil duas novas versões de "O Hobbit", dois volumes inéditos e um guia visual do filme "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", primeira parte da trilogia dirigida por Peter Jackson, que estreia em 14 de dezembro.
"Um bom filme geralmente aumenta as vendas [do livro que o inspirou] em algo entre quatro e dez vezes", calcula David Brawn, editor das obras de Tolkien na inglesa HarperCollins.
Por aqui, Tolkien era pouco conhecido até 2001, quando chegou aos cinemas o capítulo inicial da trilogia "O Senhor dos Anéis", realizada pelo mesmo Jackson.
(No papel, "Anéis" foi concebido pelo britânico como continuação de "O Hobbit".)
VENDAS EM ALTA
"As vendas de 'O Senhor dos Anéis' eram pequenas, estavam em torno de 10 mil exemplares. Depois do filme, aumentaram em até 20 vezes", lembra Jaime Carneiro, diretor comercial da WMF Martins Fontes. "Esperamos algo similar com 'O Hobbit'."
As edições novas de "O Hobbit" têm mudanças apenas nas capas. A primeira vem com uma imagem do filme, e a segunda celebra o aniversário de 75 anos da obra, em cartonagem de luxo.
Já "Sr. Bliss" e "Cartas do Papai Noel" deixam a Terra-Média para mostrar um lado desconhecido de Tolkien, o do pai e ilustrador.
O primeiro, sobre as desventuras do personagem-título em seu primeiro passeio no carro novo, foi escrito e desenhado ainda nos anos 1920, mas só viu a luz do dia após a morte do escritor. Já o segundo consiste numa brincadeira de Natal, como se Papai Noel tivesse se correspondido com a família do autor.
POEMA ÉPICO
Em dez dias nas livrarias brasileiras, as novas edições de "O Hobbit" venderam 15 mil cópias, um aumento de 40% em relação ao semelhante período anterior.
A WMF Martins Fontes também lançará no país "A Queda de Arthur". O poema épico que Tolkien escreveu antes de terminar "O Hobbit" e que era considerado perdido sairá em 10 mil cópias, aposta semelhante à feita em "Os Filhos de Húrin" (2009), outro livro póstumo inédito do autor que vendeu 20 mil unidades.
Análise
Ilustrações do próprio autor são trunfo de obras infantis
REINALDO JOSÉ LOPES EDITOR DE “CIÊNCIA+SAÚDE”
Apesar do (justificado) hype em torno dos filmes de "O Hobbit", o melhor investimento tolkieniano para o suado dinheiro do leitor provavelmente não serão as novas edições do livro.
É que as versões com capa dura e com a capa que reproduz o pôster do primeiro filme são mais do mesmo -um pouco piorado, aliás, porque caiu consideravelmente a qualidade de impressão das belas ilustrações que o próprio J.R.R. Tolkien produziu.
A editora WMF Martins Fontes, no entanto, redime-se com o lançamento de duas pequenas pérolas póstumas do autor, "Cartas do Papai Noel" e "Sr. Bliss". Nos dois casos, os desenhos do autor são os astros do show.
As obras apresentam um Tolkien bastante diferente do escriba dos épicos da Terra-Média. São intimistas: embora o autor tenha até tentado emplacar "Sr. Bliss" com seus editores em vida, o livro ilustrado, quase uma "graphic novel" sem balões, foi feito para divertir os filhos dele.
E "Cartas do Papai Noel" é exatamente o que o nome diz: as missivas que o bom velhinho teria enviado aos pequenos John, Michael, Christopher e Priscilla todo santo Natal entre os anos 1920 e 1940. O autor nunca pensou em publicá-las -a organização da coletânea ficou a cargo de sua nora, Baillie Tolkien.
O sr. Bliss do título é um sujeito atrapalhado, conhecido por sua predileção por chapelões e pelo seu exótico bicho de estimação, o Giracoelho (sim, "girafa+coelho").
Já o Papai Noel tolkieniano, enquanto prepara os presentes, vê-se às voltas com as trapalhadas de seu assistente, o Urso Polar, e enfrenta invasões dos trasgos (versões mais cômicas dos orcs de "O Senhor dos Anéis").
A arte que ilustra essas aventuras infantis é surpreendentemente sofisticada, mostrando que, apesar da famosa implicância de Tolkien com o modernismo, ele seguia ao menos superficialmente as vanguardas.
E, como em toda a sua obra, coisas sérias e sombrias de vez em quando estão à espreita. O Papai Noel não deixa de mencionar os rigores da Segunda Guerra Mundial, e o Sr. Bliss abandona o automóvel ao perceber o estrago do tráfego motorizado na zona rural inglesa que amava.
Filme será projetado com nova tecnologia
DE SÃO PAULO
O Brasil não ficará de fora da maior novidade tecnológica envolvendo "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada". As principais redes do país se preparam para projetar o filme de Peter Jackson em 48 quadros por segundo (48 FPS), o dobro da velocidade normal, como deseja o cineasta.
A diferença para o espectador é na fluidez e na nitidez das imagens. Quando as primeiras cenas (em 2D) foram apresentadas em uma feira no início do ano, críticos torceram o nariz para o formato, que pareceria "uma telenovela".
Por isso, a Warner decidiu mudar a estratégia e usar a projeção em alta velocidade só em salas 3D, o que, segundo o estúdio, permite melhor visibilidade das cenas sem a perda de ilusão de ótica -reduzindo o desconforto que o 3D causa em alguns filmes.
Mas para poder projetar em 48 FPS, a maioria dos cinemas precisa investir em torno de R$ 20 mil por projetor. Mesmo assim, as redes norte-americanas apostam no formato, e o país já conta com cerca de 800 salas preparadas -total ainda distante das 10 mil projetadas por Jackson.
No Brasil, a rede Cinemark, a maior do país (464 telas) terá 35 salas em 3D equipadas para passar "O Hobbit" em todo o seu potencial. Em oito capitais, a Cinemark também exibirá as três versões estendidas de "O Senhor dos Anéis" na semana de estreia de "O Hobbit".
A UCI, com 153 salas, vai equipar dois cinemas em São Paulo para exibir o filme com a nova tecnologia.
Já a Cinépolis, com 180 salas, informa que exibirá o filme em 3D em 48 FPS, mas não diz em quantos cinemas. Os grupos Arteplex e Severiano Ribeiro foram procurados, mas não responderam até o fechamento desta edição.
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