segunda-feira, 19 de novembro de 2012

'Mundo descobriu a força da mídia digital' - Rodolfo Lucena


'Mundo descobriu a força da mídia digital'
Bill Wasik, inventor das 'flash mobs', relaciona as ações-relâmpago que criou em 2003 aos grandes protestos políticos atuais
Para o editor da 'Wired', ativistas usam os mesmos recursos de mobilização que ele usava, mas agora para 'coisas sérias'
Shannon Stapleton - 7.ago.2003/Reuters
Ativistas urram diante de réplica de dinossauro na loja Toys"R"Us, em Nova York, na sexta e mais bem-sucedida 'flashmob' criada por Bill Wasik
Ativistas urram diante de réplica de dinossauro na loja Toys"R"Us, em Nova York, na sexta e mais bem-sucedida 'flashmob' criada por Bill Wasik

RODOLFO LUCENADE SÃO PAULO"'Flash mobs' viraram coisa séria, agora são para valer", constata o jornalista norte-americano Bill Wasik, o criador das manifestações-relâmpago convocadas por
e-mail e mensagens de texto por celular, realizadas no início da década passada.
"As pessoas descobriram o poder das ferramentas digitais", avalia ele, comentando o uso das redes sociais na organização de protestos -das grandes manifestações da Primavera Árabe às concentrações dos "indignados" na Espanha e às ações de adolescentes nos EUA.
Em entrevista à Folha por e-mail, Wasik, hoje editor da revista "Wired", lembra como lhe veio a inspiração, em 2003, para montar uma manifestação de curtíssima duração, parecendo surgir do nada e esfumaçando-se tal como havia começado.
"Estava tomando banho quando surgiu a ideia. Simplesmente queria ver o que poderia acontecer, então tentei levar o projeto adiante."
Foi por e-mail que Wasik, então editor na revista "Harper's Magazine", convocou a primeira "flash mob". Tomou providências para ocultar sua identidade e, no dia 27 de maio, mandou mensagens a pouco mais de 60 amigos e conhecidos.
O texto começava assim: "Você está convidado para participar da Mob, um projeto que cria uma inexplicável multidão de pessoas por dez minutos ou menos". E pedia para que o sujeito retransmitisse a convocação.
Não deu em nada. A polícia ficou sabendo e bloqueou a entrada da loja de Nova York onde seria realizada a manifestação. O jornalista insistiu no projeto: "Como a primeira tentativa foi frustrada pela polícia, decidi tentar novamente. Acabei realizando sete 'flash mobs' no total, de junho a setembro de 2003".
Wasik diz que era "semianônimo": assinava as convocações só como Bill. Ele assumiu a criação dos eventos em 2006, em artigo na "Harper's". "A experiência de ver a ideia se tornar viral é uma das razões que me fizeram escrever sobre a internet e que me trouxeram para a 'Wired'."
TAPETE DO AMOR
As manifestações eram bem-humoradas e rápidas. Na primeira que deu certo, cerca de 200 pessoas entraram na seção de tapetes da loja Macy's, pararam em um ponto e disseram aos funcionários que procuravam por um "tapete do amor".
Na de maior sucesso, na loja de brinquedos Toys"R"Us, cerca de 400 pessoas se concentraram diante de um gigantesco dinossauro de brinquedo, "interagindo" com a fera com urros e gemidos.
"Àquela altura, as pessoas já tinham compreendido a ideia, e as 'flash mobs' se disseminaram pelo mundo", diz Wasik. Com o tempo, o caráter das manifestações mudou, havendo desde campanhas publicitárias até grandes movimentos sociais.
"As pessoas descobriram o poder das ferramentas digitais -quão rapidamente podem convocar grupos e quão facilmente podem ficar conectadas em redes via aparelhos móveis", diz Wasik.
E conclui: "As 'flash mobs' foram um experimento meio bobo, mas serviram para demonstrar o poder dessa mídia digital. Hoje, em alguns desses movimentos sociais, eles usam as mesmas ferramentas digitais, mas agora em coisas sérias, para valer".

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