Praça das Artes
Projeto, que começa a ser inaugurado, leva arquitetura e intervenção urbanística de qualidade para o centro
Em meio à campanha para que o Brasil entrasse na Primeira Guerra Mundial, aconteceu um ato, favorável à tese, no Conservatório Dramático de São Paulo. Discursou o secretário de Justiça do Estado, o cafeicultor e industrial Elói Chaves. Em nome da casa, um jovem professor de música ofereceu uma corbeille de flores ao palestrante e leu um breve discurso, no qual declarava seu amor à pátria."Pátria é a saíra que singra o azul de São Paulo; é a onda esbatendo-se contra os rochedos da Guanabara", dizia o rapaz, de 24 anos, chamado Mário de Andrade.
No recinto, um repórter que fora cobrir o evento para o "Jornal do Comércio" gostou do discurso e venceu a disputa com os colegas pela íntegra do texto, que foi publicado no dia seguinte. Chamava-se Oswald de Andrade. Foi assim que os dois se conheceram.
O encontro da dupla modernista bastaria para fazer do Conservatório um lugar memorável da cidade. Mas a instituição continuaria importante sem isso. Primeira escola pública de música de São Paulo, ali se formaram -e se apresentaram- artistas renomados. E foi o lugar onde o poeta suíço Blaise Cendras fez suas palestras sobre modernismo, em 1924.
Pois bem, o Conservatório, está um brinco. O edifício, na São João, que até 1909 era um hotel, está restaurado. E sua recuperação é só parte de uma relevante intervenção arquitetônica e urbanística na área, que começa a ser inaugurada no início do mês que vem.
É a Praça das Artes, um conjunto de edifícios projetado pelo escritório Brasil Arquitetura, de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, que se ergue nas proximidades da São João com o Anhangabaú, em torno do Conservatório e do Theatro Municipal.
O complexo abriga a Escola de Música e a Escola de Dança do município, reúne arquivos e acervos históricos e dá ao Municipal um anexo para suprir suas necessidades -incluindo um lugar para ensaio de óperas.
As ambições da Praça das Artes vão além das funções internas. Como o nome indica, o programa arquitetônico desdobra-se para a rua. "A ideia é que funcione como um eixo de revitalização e irradie urbanização com boa arquitetura em seu entorno", diz o secretário de Cultura da cidade, Carlos Augusto Calil, que lançou a proposta em 2005.
Com espaços vazados, o conjunto não obstrui a visão do Anhangabaú -e para o vale se desdobra, numa verdadeira praça. Adiante, um obstáculo será removido para restabelecer a conexão daquele trecho da avenida São João com o do edifício Martinelli, mais acima.
Dois cinemas históricos na região já foram desapropriados e serão reformados. O Marrocos vai virar um teatro e o Art Palácio, projetado por Rino Levi, será renovado para ser uma espécie de Cinema Municipal.
Na inauguração parcial, prevista para 5 de dezembro, será aberta uma exposição permanente com peças do museu do Municipal, com curadoria da historiadora e jornalista Márcia Camargos. Estarão lá, entre outras relíquias, figurinos do Balé do Quarto Centenário, desenhados por Flávio de Carvalho, Lasar Segall e Burle Marx.
Deixei a Praça das Artes com motivos para acreditar que aquilo tudo será um belo de um empurrão para a definitiva restauração do centro histórico como espaço simbólico e civilizado da cidade.
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