Vivendo com o lixo
RIO DE JANEIRO - Há dez anos, dei-me conta de que o aparelho de fax em minha bancada de trabalho só estava servindo para ocupar espaço -suficiente para acomodar os quatro volumes do "Lello Universal", os três do "Webster's Dictionary" e os nove da "História da Literatura Ocidental", de Otto Maria Carpeaux. Sei disso porque foi o que botei no lugar quando me livrei do bicho.Custei a perceber que há muito ninguém me mandava mensagens por fax nem eu para ninguém. Não havia motivo para conservar o objeto que, apesar de meio úmido de maresia, ainda funcionava bem. Assim, dei-o para minha faxineira, que o aceitou empolgada -até concluir que, também para ela, aquele aparelho já era inútil, derrotado pelo e-mail. Perguntei-lhe outro dia o que tinha feito com o fax. Não se lembrava.
É o que vivo me perguntando: para onde vão esses aparelhos depois que morrem? Com os eletrodomésticos, é diferente: antes de ir para o ferro-velho, um liquidificador pode atravessar gerações, mesmo que bata abacate, amendoim e gelo de hora em hora. Mas celulares, torres, teclados, monitores, notebooks, mouses, baterias, pilhas têm de ser regularmente jogados fora, destino que também já atinge iPods, Kindles, Nooks etc. -esses, não por desgaste, mas por já superados. E para onde vão as embalagens de plástico disso tudo?
Por mais que os órgãos do ambiente lutem para que as empresas que produzem ou vendem lixo eletrônico o recebam de volta e lhe deem um fim adequado -chama-se a isto de "logística reversa"-, parte de seus componentes tóxicos continua entre nós, no ar ou na água. Donde não se espante se, numa dessas, seu café ou limonada vier temperado com mercúrio, chumbo, berílio, cádmio ou arsênico.
Afinal, para onde quer que se mande esse veneno -reciclado ou não, ele não tem como deixar o planeta.
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